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Luxo não é só o que está nas vitrines parisienses; o futuro do luxo é plural e afrocentrado

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Cannes Lions

16 a 20 de junho de 2025 | Cannes França
Diário de Cannes

Luxo não é só o que está nas vitrines parisienses; o futuro do luxo é plural e afrocentrado

Em Cannes, a arte de criar sonhos aponta para um novo luxo: plural, afrocentrado e conectado com identidade e território


19 de junho de 2025 - 15h05

Nesta edição do Cannes Lions 2025, o painel “Savoir Faire Rêver, A Arte de Criar Sonhos”, conduzido por Mathilde Delhoume, diretora global de marca da LVMH, me fez pensar profundamente sobre o que realmente define o mercado de luxo hoje e, principalmente, o que deverá defini-lo no futuro.

Delhoume mostrou como a LVMH une artesanato, criatividade e cultura para criar experiências extraordinárias que conectam marca e consumidor.

Mas enquanto via os maisons da LVMH sendo exaltados por seu legado e sofisticação, diversas questões surgiam em minha mente. Quem está incluído na construção desses sonhos do luxo? Onde estão as referências afro nessas construções?

A LVMH representa o auge do luxo europeu. O conglomerado inclui marcas que constroem o imaginário do desejo há séculos e, por isso, é referência global quando se trata de requinte e luxo.

Mas enquanto evidenciamos todas as tendências de elegância das casas europeias, é urgente lembrar que o luxo também nasce da ancestralidade africana, da criatividade da diáspora, da sofisticação e da tecnologia de mãos negras.

Luxo não é só o que está na vitrine de Paris é também o que resiste, cria e encanta nas comunidades negras ao redor do mundo.

E, com a ascensão econômica de pessoas negras, o conceito de consumo de luxo vem se transformando no mercado de luxo black, onde a afirmação de identidade e a celebração da herança cultural refletem o consumo.

Marcas como a House of Mandela Wines, fundada pela família de Nelson Mandela, por exemplo, não vendem apenas vinhos finos, mas oferecem uma experiência que mistura excelência, memória e identidade.

Outro exemplo é o slow fashion, que valoriza o tempo da costura, o saber das mãos pretas e os tecidos que carregam histórias. Essa é a arte de criar sonhos a partir da raiz, não apenas do status.

O painel da LVMH destacou como o luxo está cada vez mais voltado para experiências inesquecíveis, personalização e encantamento.

E é justamente aí que o luxo afro se destaca, ele propõe experiências afrocentradas que encantam por serem reais, conectadas com a vida, com a história e com o território.

A juventude preta que hoje consome quer mais do que logotipo; quer pertencimento, propósito e protagonismo. Quer ver sua cultura elevada à categoria de arte, porque é isso que ela é.

O movimento afro-futurista, por exemplo, é hoje uma das tendências mais disruptivas do setor. Ele subverte a ideia clássica de luxo ao unir tecnologia, estética preta e imaginação radical, criando uma nova linguagem de desejo onde o futuro é negro, brilhante e possível.

E isso importa porque o futuro do luxo será moldado por nossas histórias, nossos valores e nossa visão.

E neste sentido o mercado de luxo precisa urgentemente ampliar seu repertório e incluir as histórias que foram silenciadas, abrir espaço para novos saberes e reconhecer que a excelência também nasce na quebrada, na favela, na aldeia e que, quando acessa recursos e respeito, floresce com a mesma potência das grandes maisons europeias.

O mercado de luxo coloca o sonho como o elemento humano no centro de sua narrativa para conectá-lo aos seus objetos de desejo. Mas a verdadeira virada de chave só acontecerá quando esses sonhos forem realmente plurais.

Quando as vitrines refletirem a beleza do mundo real. Quando artesãos pretos forem tratados como mestres e não como exceções. Quando nossas tradições forem celebradas com o mesmo entusiasmo que se celebra um savoir faire europeu.

No fim, a arte de criar sonhos só será completa quando todos puderem sonhar e quando esses sonhos forem diversos, verdadeiros e conectados com quem somos. Porque o futuro do luxo é plural, diverso e negro. E esse futuro já começou!

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