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Pra lá de Cannes: o Brasil que inspira o mundo

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Cannes Lions

16 a 20 de junho de 2025 | Cannes França
Diário de Cannes

Pra lá de Cannes: o Brasil que inspira o mundo

No Brasil, o “vamos tomar um café?” não é só um gesto de gentileza, é parte do processo criativo


20 de junho de 2025 - 11h00

Hoje assisti a uma daquelas sessões que você não só anota, mas fica ruminando o dia inteiro. No palco do Creatives in Action, Danilo Boer, da FCB, dividiu suas experiências sobre o ofício de criar com alma, junto de outras lideranças criativas globais.

Eles falaram de processo, de dor, de intuição. E, em meio a tantas visões distintas, uma pergunta me atravessou: O que faz a criatividade brasileira ser tão singular?

Será a resiliência? Como disse o próprio Danilo, foram cinco anos até o projeto Captions with Intentions ganhar forma. Muitos “nãos”. Muitos dias pensando em desistir. Foram oito meses até conseguir uma reunião com a Academia.

No fim, ele resumiu nosso jeito de criar com uma frase que poderia virar cartaz: “Don’t give up. Listen to the community. The solution is there.” (“Não desista. Ouça a comunidade. A solução está lá”)

Será o calor humano? No Brasil, o “vamos tomar um café?” não é só um gesto de gentileza. É parte do processo criativo. A gente se conecta antes de criar. O afeto entra no job. A empatia molda o insight.

Será a mistura de tudo? Como bem definiu Oswald de Andrade, somos uma “geleia geral” — e é dessa mistura antropofágica de influências que nasce nosso frescor. Bossa nova com trap. Samba rock com design suíço. Ancestralidade africana remixada com estética digital.

Ou será simplesmente que, por sermos do Sul global, sempre tivemos que criar caminhos onde não havia estrada?
Menos verba, mais ideia. Menos estrutura, mais gambiarra refinada. Somos especialistas em transformar limite em linguagem.

E os dados estão aí para confirmar que não é só percepção.

Neste Cannes Lions 2025, o Brasil foi homenageado como o primeiro “Creative Country of the Year” da história do festival. Foi a segunda maior delegação em número de inscrições, com 2.736 peças enviadas. E já somos o terceiro país no ranking histórico de Leões, com mais de 1,9 mil prêmios conquistados.

Mas não estamos apenas no Brasil.

No mês passado, participei das premiações do The One Show, ADC Awards e Clio Awards — e em quase todos os palcos, lá estavam eles: criativos brasileiros levando prêmios, seja por projetos locais, seja por trabalhos assinados para o Japão, para Dubai ou para a Arábia Saudita.

Como na música Qualquer Coisa, do Caetano, estamos “pra lá de Marrakesh”. Exportamos criatividade com sotaque. Com ginga. Com identidade. E com entrega.

Se a necessidade é a mãe da criatividade, o Brasil é sua criança mais inquieta.

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