Cannes Lions: incertezas e alternativas para o Festival
Com os impasses gerados pela pandemia, criativos de agências brasileiras ressaltam a importância de a organização manter a indústria engajada
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Bárbara Sacchitiello
12 de março de 2021 - 8h10
A segunda onda da pandemia, que colocou em alerta novamente todos os países do mundo – e que vem causando recordes de vítimas e de infectados diariamente no Brasil – traz incertezas em relação à realização dos grandes festivais neste ano, entre eles, o Cannes Lions, principal encontro anual da comunidade criativa global.
Em 2020, o evento foi cancelado depois de algumas tentativas da organização em realizá-lo. Primeiro, chegou a ser anunciado o adiamento do evento, sempre realizado em junho, para outubro. O retorno da ameaça do novo coronavírus na Europa e em todo o mundo, no entanto, fizeram com que os organizadores optassem por cancelar a edição de 2020 prometendo julgar os trabalhos inscritos em 2021.
O novo ano, que era esperado como o período de superação dos efeitos da pandemia, vem mostrando uma situação semelhante a de 2020. A França, sede do Cannes Lions, vem seguindo as recomendações sanitárias e evitando receber viajantes de fora do continente europeu. As grandes holdings de comunicação do mundo divulgaram resultados financeiros que expõem os impactos da Covid-19 em seus negócios no ano passado. Os Estados Unidos, maior mercado publicitário do mundo e que responde por boa parte da delegação que frequenta o Festival, ainda enfrenta medidas restritivas por conta da pandemia, embora esteja com a vacinação em rito avançado.Esse conjunto de incertezas trouxe um novo impasse para a realização do Cannes Lions neste ano. Os comunicados mais recentes feitos pela organização sinalizam a intenção de manter a edição presencial do evento, de alguma maneira. Em seu site, o Festival confirma o formato presencial do evento de 21 a 25 de junho deste ano, mas sinaliza algumas mudanças. “Neste ano estamos preparando Cannes como um festival digital-first”, diz o anúncio oficial, prometendo um evento híbrido, que misture experiências ao vivo com conteúdos sob demanda.
Por enquanto, a organização dá como certa a manutenção do julgamento dos prêmios em junho. “Os Leões, o coração do Cannes Lions, serão de fato premiados em junho, quando nossos júris irão avaliar os trabalhos de dois anos para que possamos, mais uma vez, reconhecer a referência global em excelência criativa”, prometem os organizadores. A possibilidade de reunir as pessoas na Riviera Francesa neste ano, no entanto, ainda depende de diversos fatores. A organização diz monitorar a situação e os anúncios que possam, eventualmente, afetar a realização do evento. “Ainda temos esperança de poder reunir a indústria, em parte, em Cannes este ano”, destaca a organização.
Networking e inspiração
O mercado brasileiro tem uma relação bem próxima com o Cannes Lions. O País é um dos que mais envia delegados para acompanhar os conteúdos e premiações do evento, todos os anos. Mais do que um balizador dos trabalhos criativos e indicador das tendências na comunicação entre marcas e pessoas, o Festival de Cannes sempre teve um papel importante para o networking da comunidade brasileira com criativos e executivos de várias partes do mundo.
A impossibilidade de ter essa troca de experiência e esse contato presencial, seja pela não-realização do evento presencial ou da opção por uma versão limitada de participantes já seria uma perda importante dentro do contexto do que o Cannes Lions representa, na visão de criativos do Brasil. “O Festival é um momento em que a comunidade criativa se junta para assistir e conhecer os trabalhos que cada agência está fazendo pelo mundo”, diz Matias Menendez, diretor executivo de criação da Africa. “Além da premiação, que realmente importante porque trabalhamos muito para isso, para nós, comunicadores, o principal é o fato de lá ser um lugar onde conseguimos nos inspirar com outras pessoas, suas culturas e ideias. Um lugar onde estamos juntos em prol de um único objetivo comum, que é a criatividade e seu poder de transformação para um mundo melhor”, complementa.
Edgard Gianesi, diretor executivo de criação da David, destaca que Cannes representa um momento de pausa no ano em que os criativos conseguem aliviar um pouco a pressão do dia a dia e focar em trabalhos inspiradores, mas destaca que o ano de 2020 mostrou que é possível repensar e realizar eventos em outros formatos. “Não vejo por que a propaganda não possa fazer Cannes acontecer em um formato diferente também. Networking e troca de experiências são partes importantes, mas o Festival não se resume a isso. Do contrário, estaríamos excluindo a grande maioria dos profissionais do mundo inteiro que, por um motivo ou outro, não tenham condição de ir até Cannes”, frisa.
A realização de uma edição híbrida, que permita aos criativos acompanharem a análise dos trabalhos e os debates sobre criatividade de forma remota é uma alternativa válida na opinião de Sleymn Khodor, diretor executivo de criação da Lew’Lara\TBWA. “A falta que o Festival e suas conexões fazem são enormes, mas nunca maiores do que a garantia da vida e segurança das pessoas. Com cada país vivendo um estágio diferente da pandemia, fica praticamente impossível colocar o mundo inteiro no mesmo lugar”, aponta Khodor. O criativo não deixa de reforçar, no entanto, a importância do Festival. “Ele é importantíssimo para nossa indústria não só porque dita tendências e seta a barra da criatividade, mas também porque promove um intenso networking”, destaca.
Premiação dos trabalhos
Menendez, da Africa, também ressalta que, independentemente da decisão da organização em adiar, cancelar o Festival ou optar por uma edição híbrida, o mais importante é preservar, em primeiro lugar, a saúde das pessoas. O profissional aponta, no entanto, a importância da avaliação das peças inscritas para a comunidade criativa. “É importante que os trabalhos sejam julgados e premiados para não ficarmos mais um ano sem o registro do melhor da criatividade no mundo. Acredito que o Festival esteja levando tudo isso em conta e avalizando os prós e contras de cada formato”.
O impasse diante da realização do Festival levanta a questão de como a organização pode manter a premissa do Cannes Lions viva, independentemente do formato em que ele possa acontecer, na opinião de Gianesi, da David. “O que está em jogo não é o futuro da comunidade criativa, mas sim a necessidade de que, caso o evento em Cannes não aconteça, a ideia do Festival continue viva nas plataformas digitais, com palestras, discussões e, por que não, também com o reconhecimento dos trabalhos que mais se destacaram no mundo”, sugere.
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