Nash e a criatividade estrutural
Precisamos integrar mais disciplinas para resolver os problemas de comunicação de hoje
O que o Airbnb tem a ver com matemática? E o que matemática tem a ver com comunicação? Acredito que essas duas perguntas são importantes para exercitar pensamentos que nos aproximam de entender um pouco mais o que está acontecendo no mundo e entender melhor o nosso papel de criativos na era digital.
Vamos começar o raciocínio observando o Airbnb, por ser uma iniciativa contemporânea que tem muito a ensinar para qualquer comunicador. Se você não conhece ainda, entre agora em airbnb.com e use o serviço na próxima oportunidade que tiver. Além de ser uma experiência surpreendentemente agradável, você vai conseguir entender alguns conceitos fundamentais sobre comportamento em rede e comunidades.
Mas para este texto quero me focar apenas na essência: o Airbnb é um serviço de troca peer to peer que acontece dentro de uma comunidade regida por regras entendidas e praticadas por todos os seus membros.
Se pensarmos conceitualmente sobre Airbnb e sua essência peer to peer, podemos facilmente ver semelhanças com o revolucionário Napster. Entendendo que o Airbnb conseguiu atingir um equilíbrio que não foi conseguido pelo Napster, que mesmo sendo uma ideia mais disruptiva, falhou em promover equilíbrio de benefícios para todos os participantes do sistema. O Napster foi atrativo para o usuário, mas não teve capacidade de ganhar apoio dos que eram os provedores da sua matéria-prima: a música.
Ideias disruptivas como essas alteram a ordem e colocam em risco indústrias consolidadas nos respectivos setores, mas uma mão invisível sempre acaba surgindo para ajustar as diferenças. E ocorre uma seleção natural que aceita ou não a nova ordem.
E é interessante notar que, pela primeira vez na história, essa mão invisível não está diretamente ligada à economia de mercado, mas está ligada à rede de pessoas conectadas digitalmente. Uma economia social, regida por outras moedas tão poderosas quanto o dinheiro que institui um novo equilíbrio.
A matemática tem muito a ensinar sobre isso. E entender alguns conceitos permite entender mais sobre essa economia social. O mais relevante, na minha opinião, está relacionado ao conceito de jogos, que vai muito além do que se diz sobre gamification. Está relacionado aos padrões matemáticos que permitem entender e prever comportamentos. O Equilíbrio de Nash é talvez o conceito mais poderoso para ser entendido.
Em poucas palavras, atinge-se o Equilíbrio de Nash quando os participantes do sistema optam por não mudar de estratégia pois estão satisfeitos com as próprias escolhas e com as escolhas dos outros participantes. Levando isso para a realidade de projetos digitais, dá para dizer que a procura pelo Equilíbrio de Nash em uma ideia é a busca por construir a economia social da iniciativa e garantir que todos os participantes estão ganhando o suficiente para estar satisfeitos com suas escolhas.
O Airbnb é um caso de sucesso porque todos os envolvidos ganham. De um lado, o proprietário que quer alugar o seu imóvel e, do outro, o viajante que encontra uma boa opção de estadia para aluguel a um preço justo.
Nós, comunicadores, precisamos assimilar esses conceitos para conseguir aplicá-los criativamente nos desafios diários. Eles nos ajudam a colocar em prática a criatividade estrutural, que é responsável por incluir o pensamento de comunicação de forma indissociável do produto. O Airbnb e a maioria das iniciativas de sucesso que estão surgindo nos últimos anos estão aí para provar que, quando o pensamento social está intimamente ligado ao produto, as chances de sucesso são maiores.
A propósito: recomendo a quem tiver interesse em teoria de jogos, prestar o curso Game Theory de Stanford Online. Ele está disponível em uma plataforma digital chamada coursera.org. Além de aprender conceitos matemáticos que regem nossas vidas e aprender como usar em aplicações diárias, o curso tem o poder de transformar a percepção daqueles que ainda têm dúvida sobre a qualidade do ensino a distância.
Mauro Silva é sócio e vice-presidente de criação e planejamento da LiveAD. Ele começa a colaborar com o Meio & Mensagem a partir da edição 1555, do dia 15 de abril.