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Opinião

No que você acredita?

Chamemos existências, mentes e vivências plurais para sentarem na mesa para criarem conosco: a real transformação se dá pelo convívio e pela formação de laços


1 de fevereiro de 2021 - 8h00

Thalita Duarte (crédito: divulgação)

Eu acredito em oportunidades iguais para todos, relações de trabalho que não sacrificam os meios pelos fins e, acima de tudo, acredito no amor. Acredito que se o movimento de inclusão e diversidade se propõe a ser legitimamente ético e duradouro, as distâncias precisam ser encurtadas de forma integral e comprometida ao longo prazo. Ou seja, a ética estimula os indivíduos à diversidade e à integração, que precisam estar presentes não só na representação dos periféricos, mulheres, pessoas negras, LGBTQA+ e os tidos como adjacentes: este movimento também precisa incluir a apropriação de espaços públicos pelos marginalizados para que, por meio da ocupação de espaços de trabalho em agências, clientes, veículos de comunicação e outros veículos publicitários de mídia digital, eles produzam a partir de pluralidade de olhares e vivências.

Eu acredito que o caminho ético para o publicitário é se aproximar das realidades dos compelidos à margem social e democratizar o consumo. Para isso, é fundamental que ele entenda quais ideologias estão por trás da estrutura da sociedade brasileira. Ao tomar conhecimento de como as construções ideológicas são um meio de manipulação das massas, ele ganha ferramentas para desconstruir os preconceitos que foram instaurados no cotidiano do país para a manutenção do status quo da elite brasileira.

Também creio que tudo começa pela não invisibilização e naturalização das violências diárias. Pelo respeito, atenção e tratamento igualitário a todos que se inicia no bom-dia, passa pelo apreço, contratação, promoção, convivência, manutenção e mudança das dinâmicas e estruturas organizacionais para a disponibilização de oportunidades iguais para todos independente de raça, gênero, classe ou sexualidade. Constantemente organizações dependem em demasia dos profissionais negros para terem ilações sobre como promover mudanças culturais nas empresas. De fato, é uma dinâmica que pode ser complexa. Talvez um bom indício de que provavelmente o caminho escolhido para ser seguido precisa ser reavaliado seja a constatação de que as pessoas estão trabalhando extra para incluir a si mesmas.

Como Silvio Luiz Almeida (@silviolual) disse em entrevista recente na CNN Brasil (@CNNBrasil): “as pessoas brancas (…) não podem ser o algodão entre os cristais (…) eles não podem ficar pedindo moderação, eles não podem querer liderar o movimento negro, eles não podem querer ficar pedindo calma quando nós estamos sendo assassinados (…) como se nós não soubessemos a hora de ter calma (…) nós não estaríamos aqui se nós não soubessemos estrategicamente como agir”.

E a efetividade disso não é o que está em jogo. Segundo um estudo da McKinsey, empresas com maior diversidade de gênero têm, em média, 15% a mais de chance de ter resultados acima da média para o setor. Os números são ainda maiores quando se trata de diversidade racial: 35%. Já as companhias com menor diversidade têm menos probabilidade de ter um desempenho acima da média. Heloisa Callegaro, sócia da McKinsey afirma que “times formados por pessoas diferentes funcionam melhor e também representam melhor a sociedade onde as empresas fazem seus negócios”, enquanto outro sócio da McKinsey, Briam Rolfes, diz que “a diversidade muda a cultura da empresa, ataca os preconceitos velados. E, mesmo que o trabalho esteja focado em promover um grupo, outros grupos minorizados podem se beneficiar, porque essa ação muda a cultura que era predominante”.

Esse é um recorte focado em organizações, mas a reflexão ampla é sobre como avançamos como nação, que inclusive chegou onde está sendo pensada e conduzida pelas mesmas pessoas. Após o fim da contagem de votos nos EUA, a ex-primeira dama Michelle Obama Tweetou:

Para além do estado pandêmico no qual vivemos, sentimos uma pressão que tende a ser maior para os mais marginalizados na política, na sociedade e na economia nacional. Contudo, há uma nova possibilidade de organização social: países, empresas e organizações sendo pensadas e lideradas por pessoas e grupos que nunca foram ouvidos ou dos quais as ideias foram usurpadas por nunca terem tido influência suficiente. Esses grupos, por conta disso, têm como premissa estratégica fazerem com que ninguém nunca se sinta como eles foram coagidos a se sentirem. Isso é poderoso.

Quando saberemos que o trabalho está avançando? Minha régua pessoal é: você precisa querer para o outro as mesmas oportunidades que você deseja para você mesmo e para os que você mais ama. Longo caminho, não? Então, avante. Chamemos existências, mentes e vivências plurais para sentarem na mesa para criarem conosco: a real transformação se dá pelo convívio e pela formação de laços. Só assim chegaremos em resultados diferentes dos quais temos alcançado.

*Thalita Duarte, estrategista de marcas do Twitter Next no Brasil

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