Hiretone escancara tom monocromático em agências

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Comunicação

Hiretone escancara tom monocromático em agências

Dupla de criativos mapeia tons de pele de recém-contratados em agências com intuito de reforçar urgência por ações inclusivas no mercado


1 de dezembro de 2020 - 6h00

Projeto Hiretone cataloga as contratações realizadas por agências e cria uma paleta com o tom da pele dos profissionais admitidos (Crédito: Divulgação)

Há seis meses, no ápice da repercussão – nas mídias e nas ruas – das mortes de George Floyd, nos EUA, e de João Pedro, no Brasil, a dupla de criativos Victor Emeka e Zé Celso Oliveira começou a agrupar todas as fotos de notícias de contratações anunciadas no Clube de Criação.

Começaram a catalogar, por mês, os tons de pele mais recorrentes dos profissionais recém-admitidos pelas agências brasileiras, para então organizá-las com a Pantone SkinTone, uma ferramenta criada pela multinacional de cores. Nascia, então, o projeto Hiretone (termo que pode ser traduzido como o “tom da contratação”). O objetivo da dupla é evidenciar que, se uma notícia isolada sobre uma contratação pode soar corriqueira aos olhos de quem lê, quando colocada lado a lado a dezenas de outras notícias do mesmo tipo, fica evidente algo que já deixou de ser novidade no mercado: a predominância de pessoas brancas nas agências.

Zé Celso Oliveira (Crédito: Divulgação)

“Quando a gente pensa na paleta de cores da Pantone, vem na cabeça a multiplicidade de cores. É quase uma ironia essa nossa paleta, porque, embora haja variação de tons, a cor é basicamente uma só”, comenta Zé.

A ideia é continuar a catalogação de cores por mais seis meses, até o projeto completar um ano. Dessa forma, a dupla espera ter um recorte sobre o tom das contratações no mercado publicitário em um ano emblemático para o debate racial, em que o Black Lives Matter emergiu com força, sobretudo nos Estados Unidos, em meio à onda de assassinatos de negros em diversas partes do mundo. Coincidentemente, o projeto foi ao ar em 19 de novembro, dia da morte de Alberto Freitas em uma loja do Carrefour em Porto Alegre.

Nos seis meses mapeados pelo Hiretone, o pico de contratações de pessoas negras foi em agosto, após um leve aumento em julho. “Foi um pico de 18% e depois voltou a cair para 5%. Foi um reflexo das manifestações, então a sensação que dá é que as empresas quiseram mostrar que estavam fazendo um favor”, comenta Victor. Para ele, embora esteja acontecendo um movimento de aceitação de pretos, mulheres e do público LGBTQIA+, essas bandeiras ainda não são encaradas pelas empresas com a urgência necessária.

Victor Emeka (Crédito: Divulgação)

“Há esse movimento de assumir essa linguagem e a simbologia e, ao mesmo tempo, o movimento de conscientização da estruturação do racismo no nosso País. Não dá mais para construir uma marca real para as pessoas com um time com dez pessoas brancas e uma preta nunca vai trazer insumos suficiente de tensões culturais ou verdades que vão impactar o consumidor. Isso deveria ser enxergado pelas marcas de forma mais aberta. Essa troca realmente traz dados e resultados reais”, afirma Victor.

Os comentários racistas postados na edição mais recente da “planilha das agências”, contrários aos programas de inclusão criados pelas agências, também sinaliza como o esforço do movimento negro na publicidade precisa de tração, observa Zé. “Quando se vê a resistência a um movimento mínimo das agências para que isso mude, isso só mostra quão urgente é esse movimento. É preciso quebrar paredes, fazer um esforço, para equilibrar”, diz.

A dupla também ressalta que os brancos, predominantes, inclusive, no C-level das agências, são justamente aqueles que precisam se incomodar e tomar iniciativas. “A curto prazo, não dá para querer criar intersecção entre lucro e ser humano. Pensando dessa forma a longo prazo, com certeza a luta antirracista vai ser muito forte do que agora. Mas, se a empresa colocar esse problema de ser difícil contratar um negro porque você tem uma série de condições para que isso impacte somente sua performance: ‘Ah, preciso de um cara que fale inglês, francês, tenha MBA’, assim não vai conseguir. Não dá para pensar em lucro e ser humano ao mesmo tempo”, diz Victor.

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