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Monique Evelle: diálogo propositivo no MNB

Jornalista e empreendedora social instigou profissionais do mercado a refletirem sobre aspectos que ainda entravam a inovação, empreendedorismo e diversidade nas empresas e agências


13 de maio de 2022 - 18h03

Quem esperava no Marketing Network Brasil (MNB 2022), realizado no Tivoli Praia do Forte, na Bahia, apenas “ouvir” uma palestra da consultora e empreendedora social Monique Evelle, pode ter ficado meio desconcertado. O que ela fez, na manhã desta sexta-feira, 13 de maio, foi chamar ao diálogo – literalmente – e à reflexão a plateia formada por alguns dos principais executivos de marketing do País (assim como profissionais de mídia e de agências, no grupo de patrocinadores do MNB).

Monique é jornalista e atuou no Profissão Repórter, da Globo. Também criou projetos como o Desabafo Social e a plataforma Inventivos, para fomento ao empreendedorismo de populações periféricas. Em 2021, passou a dar consultoria ao Nubank, coordenando a instalação, em Salvador, do NuLab, hub de investimentos em tecnologia por meio da seleção de startups.

No MNB, Monique trouxe aos executivos três perguntas, sempre aparentemente opondo duas coisas: “inovação ou gambiarra”, “consertar ou criar” e “investimento ou doação”? As questões foram relacionadas às suas experiências pelo Vale do Silício, polo tecnológico da Califórnia, e o Vale do Silêncio, como ela costuma chamar as periferias urbanas, comunidades e favelas brasileiras às quais o mercado não dá ouvidos em geral, quando o assunto em questão é empreendedorismo e inovação.

No primeiro caso, ela destacou que embora muita gente prefira inovação à gambiarra, ao ouvir a pergunta, esta última – em geral motivada pela escassez e pela necessidade, logo mais praticada pelas populações negras e periféricas – também é inovação. “Por que não se pode considerar a gambiarra inovação?”, questionou, dando exemplos de projetos de empreendedores periféricos que acabam não sendo considerados inovação. “Por que o Nordeste eu Sou, um portal de comunicação comunitário, que consegue salvar vidas por conta da comunicação que faz em tempo real não é considerado inovação? Por que mãe Beth de Oxum, do alto de Olinda que criou um hub de tecnologia que ensina as crianças dos bairros a programarem, não é considerado inovação?”, disse.

Sobre a segunda questão, destacou o peso que é para pessoas como ela quando chamadas por uma empresa para atuar em inovação e também na diversidade. Isso porque o tempo gasto em “consertar” problemas estruturais de muitos lugares acaba fazendo com que sua capacidade de ação (bater métricas e ser produtiva) e criação acabe sendo limitada. “Pensem, na hora de contratar alguém, se vocês estão fazendo conserto ou criação. Pode ser uma coisa ou outra, mas deixem isso claro, porque ninguém paga boleto com voluntariado”, instigou.

Deixou claro, também, quanto pessoas como ela, uma jovem mulher negra, acabam sofrendo acúmulo de pressões, dores e traumas somatizados ao ponto de eventualmente paralisar seu desempenho – em frases como “se você é uma mulher preta, ‘precisa saber’ de questões de gênero e raciais” e “ascensão social não branqueia ninguém”, ela pontou alguns desses “pressupostos”, além do peso do racismo no dia a dia, dando o exemplo de ter sido interpelada no Réveillon da Praia do Forte pelos seguranças do evento, mesmo sendo uma cidadã baiana e já ter ido à festa várias outras vezes (tendo passado sempre pelo mesmo constrangimento). Ou seja, 24 h por dia empreendedores negros têm que lidar com outras preocupações que não aquelas a que poderiam estar se dedicando em seu trabalho.

Já no aspecto “investimento ou doação”, notou que iniciativas como a “vaquinha” que está sendo feita para levar profissionais negros para o Cannes Lions são válidas, mas também lembrou das grandes metas e questões que não podem ser abandonadas – se o profissional divide a casa com cinco pessoas, mora na periferia e tem “o carro do ovo” passando na sua rua toda hora, talvez não considere tão bom o modelo de home office; alguns empreendedores periféricos trabalham anos sem conseguir ser bem-sucedidos o suficiente para ter um negócio que dê margem financeira a algum tipo de erro; e, considerando a representatividade de estar falando numa sexta-feira, 13 de maio, quando se celebra a Abolição da Escravatura, criticou o problema de quando uma pessoa negra faz algo errado, aquilo acabar sendo transferido para todas as outras pessoas negras.

Monique sugeriu aos presentes que em suas empresas ajustem a remuneração das mulheres que ganham menos, que criativos premiados perguntem a si mesmos “por que eu e não outro, numa população de 200 milhões de pessoas?”, contando que ela própria se fazia esse tipo de pergunta e do que isso adiantava se esse trabalho não mudasse nada na sociedade. Esse tipo de questão foi o ponto de partida para seu desejo de criar projetos de distribuição de renda.

Aliás, ela exaltou que não basta criar metas novas, mas é preciso realizar aquelas que já foram estabelecidas. “Se não souberem, peçam ajuda, façam perguntas a si mesmos, porque inovação é fazer funcionar”, pontuou, além de dar o conselho de que as empresas invistam no RH tanto quanto no marketing, para realmente tirar do papel os temas ligados a ESG e diversidade. O resultado disso? “Se já fazemos tanto na ausência e escassez, imagine o que faríamos com dignidade e dinheiro no bolso”, sapecou a empreendedora.

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