Estúdios de animação do exterior buscam criatividade brasileira
Capacidade de adaptação e maior diversidade são parte dos atributos que empresas tentam incorporar com brasileiros; alguns já atuam em filmes como Malévola
30 de setembro de 2019 - 6h00Na sexta-feira, 27, a empresa de recrutamento The Focus esteve na Unhide Conference, festival de arte digital em São Paulo, para procurar profissionais de animação e artes gráficas para trabalharem em estúdios do exterior. De acordo com Christina Zervos, head de recrutamento da The Focus, empresas como MPC Film (Rei Leão, Malévola, Mulher Maravilha e Detetive Pikachu), Mill Film (Gladiador) e Mr.X (Hellboy, Shazam e Roma) estão procurando pessoas para vagas em Montreal, Vancouver, Londres, Los Angeles, Toronto, Adelaide e Bangalore.

Angelina Jolie em cena de Malévola: Dona do Mal (Crédito: Reprodução/Disney)
A empresa teve um espaço no festival para conversar com artistas, estudantes e recém-formados sobre vagas e oportunidades dentro da área de efeitos visuais e da indústria de animação. Eles estão, por exemplo, buscando animadores para trabalhar em Call of the Wild, live-action estrelado por Harrison Ford, que deve chegar aos cinemas em 2020. “O Brasil se provou ser um mercado intocado com grande potencial nas indústrias de criatividade e animação”, afirma a executiva.
Ela relata que em empresas de VFX há uma mistura grande de nacionalidades por conta do rápido crescimento na produção de VFX nos últimos anos e a falta de profissionais locais, que as universidades não conseguem suprir. “Quando cheguei não havia tantos brasileiros. Mas com as empresas em Montreal crescendo muito e a crise econômica no Brasil tenho visto muitos brasileiros sendo contratados pelas empresas daqui. Só na MPC Montreal são cerca de 50, a maioria deles animadores 3D”, diz. Segundo Lisieux, além do Canadá, alguns países da Ásia e Oceania tem contratado profissionais estrangeiros por conta de incentivos fiscais. A situação é mais complicada nos Estados Unidos. Apesar de haver demanda, as regras de imigração dificultam o processo.

Lisieux Calandro, FX artist da MPC (Crédito: Divulgação)
De acordo com Christina Zervos, o time da The Focus tem contratado grandes artistas de diferentes disciplinas e eles estão criando uma reputação para os brasileiros. Segundo Lisieux, o brasileiro se destaca pela facilidade de resolver problemas de forma rápida e eficaz. “No Brasil, diferente do exterior, muitos profissionais começam como generalistas e as condições de trabalho, em termos de equipamento e suporte técnico, nem sempre são ideais. Isso faz com que os brasileiros, de uma forma geral, tenham um amplo conhecimento de diferentes áreas”, explica.
Cobrança por diversidade
Em 2012, o estúdio Rhythm and Hues, ganhador do Oscar por produzir os efeitos visuais do filme A Vida de Pi declarou falência. Lisieux lembra que essa notícia gerou uma grande discussão sobre condições de trabalho e diversidade na indústria. A informação adicionada de estudos que colocam a diversidade como grande propulsor de produtividade, consequentemente, lucro, fez com que a indústria se atentasse mais intensamente à essas questões.
“Na minha empresa, a equidade varia bastante entre os departamentos, mas não é das melhores. Porém, definitivamente melhor do que a brasileira. Infelizmente o Brasil está bem mais atrasado nessa questão. Na área de Motion Design, por exemplo, um estudo de 2018 estimou que a porcentagem de mulheres nessa carreira é de 16,8%. Claro que há algumas empresas que se preocupam com isso, e algumas profissionais têm se mobilizado e organizado para melhorar as condições de trabalho para mulheres na área, mas nem de longe se equipara as ações de ONGs e empresas nos EUA, Canadá, EUA e UK”, conta Lisieux.