Big Data vs. Big Feeling

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Opinião

Big Data vs. Big Feeling

Vamos precisar cada vez mais desenvolver o lado direito do cérebro. Porque será cada vez mais fácil terceirizar as funções do esquerdo


12 de abril de 2016 - 15h55

O Uber vai roubar o nosso emprego e a gente (que nem taxista é) nem percebeu. A Netflix tem mais repertório do que a gente e a gente também nem percebeu. O Waze mudou o caminho da nossa carreira e a gente (que nem GPS é) nem percebeu.

Claro, por admirar essas marcas, uso-as respeitosamente de exemplo metafórico-dramático para chamar sua atenção. Mas, acredite, existe uma meia-verdade nessa conversa.

Essas marcas aposentaram a concorrência ao trazerem a experiência para o centro da proposta de valor. Entenderam o timing desse novo tempo e foram empáticas, eficientes e rápidas ao se adaptarem e criarem novas demandas.
Mas, sobretudo, empresarialmente, pode-se dizer que automatizaram o lado esquerdo para colocarem em prática o lado direito do cérebro. E esse é o meu ponto.

Essas marcas possuem características em comum que quando estendidas às pessoas, podem ser consideradas importantes referenciais para empregabilidade futura.

Digo isso porque a tecnologia não vai aposentar somente indústrias e marcas, mas também estruturas e carreiras. Em pouco tempo, vai automatizar tudo que requeira análise, precisão e eficiência, deixando espaço “apenas” para o que não pode e não será substituído pelas máquinas: sentimento e criatividade.

Uma pesquisa recentemente conduzida pela The Economist mostra como as empresas do mundo têm se preparado para a digitalização da força de trabalho. Nela, 65% dos entrevistados responderam que funções de análise de dados já foram ou serão migradas em até cinco anos para computadores. Por outro lado, 55% responderam que, a despeito da tecnologia, planejariam contratar, em projetos que demandam know-how, prioritariamente profissionais para executar trabalhos que envolvem criatividade.

O fato é que profissionais de sucesso daqui para frente não negligenciarão a tecnologia, mas não serão necessariamente tecnólogos. Talvez não sejam especialistas em big data, mas, para isso, espera-se minimamente o big feeling.

Nesse contexto, quando penso no profissional de marketing, não temo pela empregabilidade da carreira, mas, na medida em que se revisar a proposta de valor, temo pela inadequação de competência.

Digo isso porque se por um lado boa parte do trabalho analítico e operacional será automatizado, por outro, boa parte do trabalho criativo foi terceirizado. E as estruturas são puro reflexo disso. Ao terem sido concebidas a partir de premissas antigas, não fomentam a criatividade porque não conectam informação à ideia e sim pedido à entrega.
Veja bem: enquanto você lê esse artigo, nesse exato momento, estão sendo feitas, ao redor do mundo, 500 mil perguntas ao Google. E os caras do Google são especialistas em tecnologia. O profissional de marketing não precisa ser. Mas precisa saber quais são as perguntas. Não para dar as respostas. Mas para fazer as perguntas certas — antes e rápido.

Teremos de ser insightfull. E para isso precisamos ser famintos. Apaixonados. Menos cartesianos e mais humanos de novo. Menos automáticos que passam e repassam. Mais colaborativos para conectar as coisas. Mais empreendedores para buscar nas entrelinhas do mar de dados a hipótese que muda tudo.

No auge da automação, vamos precisar entender que ao largo da racionalidade dos números, assumir risco é um fator humano que pode fazer a diferença no sucesso ou insucesso de uma jornada. Vamos precisar cada vez mais desenvolver o lado direito do cérebro. Porque será cada vez mais fácil terceirizar as funções do esquerdo.
Sejamos o Uber, a Netflix, o Airbnb, o Google, o Waze dos profissionais. Sejamos humildes como um aplicativo que se atualiza sem frescura para ser melhor. Ou vamos virar um aplicativo irrelevante que será deletado sem pudor quando espaço e velocidade se fizerem necessários para navegar.

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