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Opinião

Na paralela

A indústria automobilística vive um dilema comum a outros grandes setores sob o risco de disrupção: é preciso sustentar a operação dentro da realidade atual e investir para ter a oferta certa quando o que hoje é tendência virar mainstream


3 de dezembro de 2018 - 10h49

Crédito: divulgação

As projeções de disrupção na indústria automobilística não são exatamente uma novidade, nem as fabricantes de carros são as únicas gigantes globais a reverem seus negócios, ameaçadas por mudanças comportamentais e tecnológicas que impactam a maneira como vivemos e tomamos nossas decisões de consumo. A Coca-Cola, por exemplo, vem diversificando seu portfólio e aumentando a participação de bebidas não carbonatadas em suas receitas. A Philip Morris já declarou, por meio de um anúncio, que pretende deixar de fabricar e vender cigarros tradicionais “o quanto antes”.

Em comum, todas têm de cumprir a jornada de transformação no timing correto. É preciso continuar sustentando a operação dentro da realidade atual ao mesmo tempo que se investe para ter a oferta certa quando o que hoje é tendência de fato engatar a marcha que o levará ao mainstream. O que chama a atenção no caso dos carros é a quantidade de frentes que influenciarão o destino do mercado pelos próximos anos, redesenhando o cenário de forças atual e literalmente riscando os players retardatários do mapa. Quem acelerar muito antes da hora pode queimar combustível e perder o embalo quando a corrida avançar para as fases seguintes.

Em conversa com a repórter Karina Balan Júlio, o presidente da Renault no Brasil, Luiz Fernando Pedrucci, elencou quatro tendências globais, que classificou como “irreversíveis”, a impactar o setor e definidas pelo acrônimo ACES: os veículos Autônomos, os Conectados, os Elétricos e os compartilhados (Shared, em inglês). “A indústria do automóvel se transformará mais nos próximos dez anos do que se transformou nos últimos 50”, afirmou. A entrevista com Pedrucci é parte da reportagem especial do último capítulo da série Mercados em Foco, publicada na edição 1839 de Meio & Mensagem.

Nesta semana, a General Motors anunciou um plano de reestruturação para gerar economia de US$ 6 bilhões — o corte acarretará no fechamento de fábricas e demissões de funcionários. A nova estratégia tem como objetivo reduzir a produção: modelos sairão de linha, SUVs e picapes ganharão protagonismo e os investimentos em inovação se voltarão para os estudos de mobilidade (com foco nos carros conectados e na cultura do compartilhamento) e o desenvolvimento de tecnologia para carros autônomos e elétricos.

O tambor que a GM toca ressoa em todos os concorrentes. O The Wall Street Journal revelou recentemente que os planos da Volkswagen para se tornar pioneira em serviço quântico para projeção e administração de tráfego nas ruas ganharam tração. No artigo, traduzido e publicado pela Folha de S.Paulo esta semana, o vice-presidente e executivo-chefe de informação (CIO) da Volks, Martin Hofmann, afirma que o lançamento comercial do projeto está próximo. O serviço pode dar um diferencial competitivo importante para a montadora alemã, que nesta semana anunciou uma revisão completa do time global de agências, para atender o processo de transformação da marca para o que chamou de “New Volkswagen” — as mudanças passam pelo aumento da produção de conteúdo no digital, novas plataformas, comunicação individual com cada consumidor e a criação de campanhas data-driven desenvolvidas globalmente.

Qual será a velocidade da curva de adoção de cada uma das tendências disruptivas ACES? Essa é a pergunta de dois trilhões de dólares, o valor movimentado pela indústria automobilística globalmente. A comunicação e o relacionamento dos players com as pessoas e a sociedade certamente terão um papel fundamental nessa equação.

Não deixa de ser emblemático que a perda da conta da Ford (que também tem investido em serviços com base na computação quântica) tenha sido o estopim para o WPP, maior grupo de publicidade do mundo, acelerar as mudanças em sua estrutura, um processo cujo capítulo mais recente até aqui é a fusão da marca mais antiga do mundo da publicidade, a J. Walter Thompson, com a Wunderman — confirmada oficialmente nesta semana e antecipada pelo Meio & Mensagem em reportagem exclusiva, publicada na edição 1835, de 5 de novembro.

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