A tecnologia pode ajudar a reduzir a exclusão escolar das mulheres?

26 de setembro de 2022 - 9h21

(Crédito: Macrovector/Shutterstock)

Existem diversos dados que mostram como a desigualdade entre homens e mulheres persiste no Brasil. No mundo corporativo e no mercado de trabalho como um todo, esta diferença ainda aparece na desigualdade salarial de pessoas que ocupam cargos similares, ou no número reduzido de mulheres em cargos de liderança. Na política, sofremos com a falta de representatividade – somos 53% do eleitorado e ocupamos apenas 17% das cadeiras do Senado. Quando olhamos para a educação, observamos que a desigualdade começa na base do desenvolvimento da nossa sociedade. As mulheres, de maneira geral, sofrem muito mais do que os homens para conseguir concluir os estudos e aumentar suas chances de prosperar no mercado de trabalho. E a pandemia tornou essa situação ainda pior.

Um estudo feito pelo Cedeca (Centro de Defesa da Criança e do Adolescente) Ceará, com base na PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), apontou que a principal razão para a evasão escolar de adolescentes e mulheres jovens no Brasil é cuidar da casa, dos filhos ou de parentes. Segundo a instituição, na faixa dos 15 a 29 anos, 23% delas mencionaram essa razão, contra apenas 0,8% dos homens. No início de 2022, uma análise feita pela Fundação Malala no Brasil mostrou que a pandemia tornou essa situação ainda mais desafiadora, já que muitas mulheres precisaram se dedicar ainda mais às atividades domésticas durante o período. Sem contar ainda com a questão da gravidez na adolescência. Essa realidade, aliada à falta de infraestrutura tecnológica, como acesso à internet e a plataformas digitais, apareceram como alguns dos principais motivos de exclusão escolar.

Passei as últimas décadas trabalhando em grandes empresas de tecnologia e vi o impacto positivo que a inovação tecnológica pode gerar no desenvolvimento humano. Quando pensamos nos desafios da exclusão escolar, estamos falando da necessidade urgente de criar oportunidades e acessibilidade. E as novas tecnologias têm um papel fundamental nisso.

O avanço das redes de operadoras no Brasil, para citar um exemplo, se mostra como parte fundamental de um processo de democratização do acesso às tecnologias e à educação. Na prática, as novas tecnologias e os smartphones nos proporcionam acessos muito mais velozes e a possibilidade de conectarmos mais dispositivos a uma rotina cada vez mais digital. Isso torna a educação online próspera no Brasil. Segundo dados da FGV, existem 242 milhões de celulares no país, ou seja, mais de um smartphone por habitante. Além disso, o Brasil ocupa o segundo lugar da lista dos países que passam mais tempo nas mídias digitais do mundo.

Mas tão importante quanto o dispositivo que leva o acesso à educação são as plataformas digitais, que farão com que esses alunos, especialmente as mulheres, que muitas vezes sofrem a privação de deslocamentos devido às tarefas domésticas, consigam voltar aos estudos.

Temos no Brasil um público apaixonado pelo mundo digital. Temos o avanço da implementação de novas redes de operadoras de celulares, que deverão ajudar cada vez mais a democratizar o acesso à tecnologia. Temos o surgimento de plataformas de educação que levam em consideração a realidade socioeconômica dos estudantes. É, sobretudo, uma questão de dar oportunidade e acessibilidade.

Acredito que, por meio da tecnologia, iremos mudar a realidade da exclusão escolar no Brasil, especialmente para as mulheres e jovens. A tecnologia aproxima as distâncias e com ela ela conseguimos levar educadores para todo o país.