O que o BBB 24 trouxe de reflexão sobre gênero?

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O que o BBB 24 trouxe de reflexão sobre gênero?

Com o fim do reality show, algumas questões sobre as mulheres ficaram evidentes


17 de abril de 2024 - 10h31

As participantes do BBB 24 Alane, Fernanda e Isabelle (Crédito: Reprodução/Globoplay)

O Big Brother Brasil 24 terminou. Para alguns, o ano enfim começou. Para outros, é tempo de finalmente falar sobre coisas relevantes após um longo período de conversas superficiais. 

A verdade é que uma coisa é certa: quer você assista ou não o programa, ele sempre representa um retrato da população brasileira e traz comportamentos e discussões do que provavelmente acontece na rotina de qualquer um. Porque, sejamos francos: é no cotidiano que nossas dores, necessidades e crenças mais profundas aparecem. É na ação corriqueira que conseguimos captar o comportamento humano, nossas tendências, as tensões culturais do nosso tempo. Não é no texto, na teoria, no keynote — estes, quando bem-sucedidos, são consequência justamente desta compreensão anterior.

Algumas análises em torno do que as mulheres estão vivendo foram muito evidentes no BBB 24. Tanto do ponto de vista de autopercepção como do que a sociedade espera e credita a nós. A maioria são tensões que atravessam o tempo e o espaço, vividas e revividas ao longo da história, mas encontram num laboratório como esse reality show um potencializador que torna tudo muito claro.

Listamos, a seguir, alguns dos principais temas de gênero que surgiram nesta edição do reality. 

1. O etarismo já começa aos 30?

Parece uma brincadeira de mau gosto, sobretudo diante dos diferentes afetos que a participante Fernanda causou no público. Em entrevista ao Gshow após sua eliminação, ela afirmou que, com apenas 32 anos, se considerava madura demais para a edição. Um sentimento que, embora pareça exagerado, aponta para um etarismo cada vez mais precoce.  

“Algumas pessoas estavam levando o programa como uma grande experiência, como um mundo de Oz. Mas não vim para isso. […] Acho fácil para quem tem 20 anos. Eu só estava querendo não viver mais essa vida. É muito ruim competir com um monte de jovens, porque eu não queria dizer que o sonho dela é menor que o meu, mas eu tenho muito mais para lutar, e ela, não… Já está contratada.”

2. O estímulo à rivalidade entre mulheres ainda é realidade

De algumas edições para cá, o comportamento entre as mulheres na casa mudou. Se antes a competitividade era frequente e brigas entre participantes femininas eram comuns, hoje elas se abraçam mais e tentam superar diferenças. Mas, entre o público, o estímulo e a pressão pela rivalidade ainda são uma realidade.

Exemplo disso é a reação da audiência após Matteus, ex-affair da participante Deniziane, engatar um romance com Isabelle. Nas redes sociais das duas, o clima entre as torcidas era agressivo, de estímulo à rivalidade e comentários odiosos. Deniziane chegou a relatar uma crise de ansiedade após o ocorrido. 

Outra evidência é a relação entre Isabelle, do Amazonas, e Alane, do Pará. Embora tenham se aproximado no jogo, as torcidas aqui fora colocaram frequentemente as duas como rivais, por serem de Estados diferentes da região Norte do país e, possivelmente, mulheres.

3. Precisamos falar sobre autocobrança e saúde mental das mulheres 

Assim que Tadeu Schmidt, apresentador do BBB, anunciou a saída de Alane, o clima ficou tenso. “Eu sou péssima, eu sou horrível, eu sou a pior pessoa do mundo. Eu vou me esconder. Vou me esconder de todo mundo. Eu vou embora. Eu sou uma vergonha para a minha mãe”, disse a participante, enquanto se agredia fisicamente. O acontecimento gerou preocupação no público e trouxe à tona uma questão importante relacionada às mulheres e saúde mental: a autocobrança excessiva e a síndrome da impostora.

O fenômeno, que ocorre mais entre as mulheres, pode levar ao estresse, à depressão, ansiedade e até a condições e situações ainda mais graves. É preciso falar sobre a pressão imposta sobre nós para atingir padrões irreais e alcançar a perfeição. Também é fundamental debater a saúde mental das mulheres e a importância de permitir-se errar como oportunidade de aprendizado. 

4. Interseccionalidade importa

Se antes a discussão sobre equidade de gênero e as barreiras para que esta agenda avance passava apenas pela identidade de gênero, hoje é possível notar algumas camadas mais complexas nas análises sobre a questão.

As consequências das interações entre duas ou mais maneiras de subordinação socioeconômica, política ou cultural, se é que assim podemos descrever a interseccionalidade, foram evidenciadas no jogo em alguns momentos. A repercussão das falas de Wanessa Camargo e Yasmin Brunet sobre Davi, que desconsideraram a complexidade da identidade do campeão, por exemplo, é um indício disso. 

Outros pontos importantes a serem considerados são a repercussão do estresse e das brigas de mulheres negras na edição, como Leidy Elin, e a maior facilidade que o público parece ter tido em relevar falas e comportamentos problemáticos do Davi em relação a atitudes delas, por exemplo.

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