Lideranças indígenas femininas ocupam cada vez mais espaços
Seja por meio do ativismo, da influência digital, da política, da comunicação ou pela arte, elas são símbolos de resistência e transformação
Lideranças indígenas femininas ocupam cada vez mais espaços
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Meio & Mensagem
19 de abril de 2024 - 9h08
Em 19 de abril é celebrado o Dia dos Povos Indígenas, que desde 2022 recebe este nome em substituição ao antigo “Dia do Índio”. A mudança foi promovida pela ex-deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR), atualmente presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Além de ser a primeira mulher indígena eleita como deputada federal, foi a primeira advogada indígena do Brasil. Ao lado de Joenia, outras mulheres indígenas brasileiras, como Glicéria Tupinambá, Célia Xakriabá, Sônia Guajajara e Txai Suruí, caminham de mão dadas para ocupar mais espaços de liderança como protagonistas das próprias histórias e mudar o cenário dos direitos indígenas no país, com um olhar especial para preservação e ampliação de suas culturas, terras e direitos Brasil adentro e afora.
Essas mulheres exemplificam o poder e a resiliência dos povos indígenas brasileiros, lutando incansavelmente em face de numerosos desafios. Por meio de suas várias formas de ativismo, elas estão moldando um futuro mais justo e sustentável para as gerações futuras, seja por meio da política, do ativismo, da comunicação ou da arte.
As lideranças representam, também a visibilidade das mulheres indígenas, que por muito tempo faziam, em sua maioria, apenas trabalhos nas aldeias — o que não era irrelevante, pois tal papel sempre foi um norteador para seus povos. Porém, agora, elas têm assumido cada vez mais a linha de frente das lideranças e batalhas que precisam travar para além dessas atividades, em um movimento de sair de suas comunidades e ocupar mais espaços dentro e fora delas.
Conheça algumas das principais lideranças indígenas femininas da atualidade.
Alice Pataxó, de 22 anos, tem se destacado como uma comunicadora e ativista indígena influente. Originária da aldeia Pataxó, no Território Indígena Barra Velha, localizada no sul da Bahia, ela ganhou notoriedade internacional ao discursar na COP26 em Glasgow. Sua atuação vai além das fronteiras de sua comunidade, alcançando mais de 169 mil seguidores no Instagram, 103 mil no TikTok e 115 mil no Twitter. Alice usa essas plataformas para desmistificar a visão colonialista sobre os povos indígenas e destacar suas diversas lutas e culturas. Em 2022, ela foi reconhecida pela BBC como uma das mulheres mais influentes e inspiradoras do mundo. Além disso, Alice é embaixadora da WWF Brasil.
Azelene Kaingang, do povo Kaingang, do Rio Grande do Sul, é uma líder indígena reconhecida nacionalmente. Uma ativista com contribuições significativas, incluindo quando foi representante dos povos indígenas do Brasil na formulação da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas entre 2003 e 2007. Socióloga, recebeu o Prêmio Nacional dos Direitos Humanos em 2006 por seu trabalho incansável. Azelene é uma defensora da sustentabilidade e trabalha para garantir que as vozes indígenas sejam ouvidas em todos os níveis de decisão.
Célia Xakriabá, do povo Xakriabá de Minas Gerais, é uma professora e política que alcançou um marco histórico ao se tornar a primeira deputada indígena eleita pelo estado mineiro. Em seu mandato, Célia tem trabalhado incansavelmente na defesa dos direitos das mulheres indígenas, tendo protocolado projetos de lei cruciais para o atendimento digno e culturalmente adequado às vítimas de violência. Sua formação acadêmica em pedagogia aprofunda sua capacidade de abordar questões educacionais indígenas, e sua presença na mídia amplia a conscientização sobre questões indígenas e ambientais em todo o país.
Chirley Pankará, do povo Pankará de Pernambuco, é uma notável ativista e acadêmica que tem dedicado sua vida à promoção dos direitos indígenas e humanos. Ela fez história ao se tornar uma das primeiras co-deputadas indígenas na Assembleia Legislativa de São Paulo, e continua seu trabalho acadêmico como doutoranda em Antropologia Social na USP. Chirley é também uma voz influente no Ministério dos Povos Indígenas, focando em políticas culturais que afirmam a identidade e os direitos dos povos indígenas em todo o Brasil.
Djuena Tikuna é mais do que uma cantora, é uma guardiã das memórias de sua terra natal. Nascida na aldeia de Umariaçu II, em Tabatinga, Amazonas, ela deixou sua comunidade aos 9 anos, mas suas raízes continuam a ecoar em sua música. Sua composição “Saudade da Aldeia” é considerada não é apenas uma canção, mas um portal para lembranças e sentimentos de sua infância. Além de sua música, Djuena está trabalhando em um documentário que celebrará a musicalidade e os costumes do povo Tikuna.
Katú Mirim conta histórias de resistência e resiliência por meio do rap. Como uma indígena urbana de ascendência Bororo, ela desafia estereótipos de gênero e sexualidade em sua música, enquanto reafirma a identidade e a história indígena. Seu trabalho não se limita à música; ela é também uma ativista, fundadora do perfil “Visibilidade Indígena” (@visibilidadeindigena), e uma voz importante na luta por direitos e representatividade. Com sua hashtag “#ÍndioNãoÉFantasia”, ela chama a atenção para a apropriação cultural e a importância de respeitar e preservar as tradições indígenas.
Glicéria Tupinambá, da Terra Indígena Tupinambá de Olivença, Bahia, é uma artista e educadora que desempenha um papel vital na preservação e promoção da cultura Tupinambá. Realizou o documentário “Voz das Mulheres Indígenas” em 2015 e continua a explorar o audiovisual como meio de expressão e registro cultural. Glicéria também realizou uma exposição significativa sobre o retorno do Manto Tupinambá, destacando a riqueza cultural e a resistência de seu povo. Sua liderança incluiu a presidência da Associação dos Índios Tupinambá da Serra do Padeiro, onde foi uma figura central na gestão de projetos educacionais e de desenvolvimento.
Graciela Guarani, da aldeia Jaguapiru, em Dourados (MS), é uma figura central no desenvolvimento do audiovisual indígena no Brasil. Ela dirige o “Falas da Terra”, uma série da TV Globo que destaca os povos originários, e também está envolvida na série “Cidade Invisível” da Netflix. Além disso, Graci lançará em breve seu longa-metragem “Horizonte Colorido”. Como parte da Katahirine, rede de mulheres indígenas dedicadas ao audiovisual no Brasil, ela trabalha para ampliar a representação indígena na mídia nacional e internacional, lutando por reconhecimento e dignidade na indústria.
Joenia Wapichana é uma figura emblemática no Brasil, sendo a primeira advogada indígena do país. Nascida na comunidade Cabeceira do Truarú em Roraima, ela saiu da região aos 8 anos, momento em que começou a aprender português. Além de ser a primeira advogada indígena, ela também se consagrou como primeira deputada federal indívena. Joenia tem uma trajetória significativa na defesa dos direitos indígenas, tendo atuado na demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol. Atualmente, ela é presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), sendo a primeira mulher indígena a ocupar tal cargo.
Majur Traytowu é uma líder da etnia Bororo e cacica da aldeia Apido Paru, da terra indígena Tadarimana, que fica no município de Rondonópolis, Mato Grosso. Ela é reconhecida como a primeira cacica trans no Brasil. Desde a infância, se identifica como mulher e participou de atividades tradicionalmente femininas dentro de sua comunidade, incluindo cerimônias de luto. Majur dedica-se integralmente ao seu papel de cacica, lutando por melhorias e defendendo os direitos políticos de sua aldeia.
Nascida em Belém do Pará, Moara Tupinambá é uma artista visual e ativista cuja obra engloba desenho, pintura, colagem, instalação, escrita e mais, refletindo sobre memória, identidade e ancestralidade Tupinambá. Sua origem paterna é da comunidade rural de Cucurunã, e a materna da Vila de Boim, Tupinambá, localizada no Rio Tapajós. Moara é uma voz proeminente na defesa dos direitos e na visibilidade dos povos indígenas, especialmente em contextos urbanos, onde a identidade indígena frequentemente enfrenta riscos de erosão.
Priscila Tapajowara é fotógrafa, cineasta e cofundadora do coletivo Nató Audiovisual. Nascida às margens do rio Tapajós, em Santarém (PA), ela usa sua formação em Produção de Audiovisual para explorar e documentar a rica tapeçaria cultural e ambiental de sua terra natal. Priscila lançou no YouTube a série documental “Ãgawaraitá”, que explora a espiritualidade e os seres encantados da cosmogonia indígena amazônica, demonstrando a intrínseca relação entre cultura e preservação ambiental. É presidente da Mídia Indígena (@midiaindigenaoficial), um canal de comunicação que fortalece o protagonismo indígena. Além disso, recentemente, esteve entre os “100 Latinos Mais Comprometidos com a Ação Climática 2023” de Sachamama e a Agência EFE.
Originária do grupo Xavante, no Mato Grosso, Tsitsina Xavante, também conhecida como Samantha Ro’otsitsina, é uma líder indígena que concentra seus esforços no combate ao machismo dentro das comunidades indígenas. É graduada em Serviço Social e mestre em Desenvolvimento Sustentável pela UnB. Como representante da Associação Xavante NAX e membro da Rede de Juventude Indígena (REJUIND), sua atuação tem sido fundamental na transformação dos papéis de gênero em sua comunidade. Escolheu o caminho de educar mulheres e meninas sobre seus direitos e batalha contra a violência de mulheres indígenas.
Renata Machado Tupinambá, conhecida também como Aratykyra, é uma força na difusão das culturas por meio da comunicação. Como co-fundadora da Rádio Yandê e criadora do Podcast ‘Originárias’, ela proporciona plataformas para que artistas e músicos indígenas compartilhem suas histórias e talentos. Renata é uma voz influente na decolonização dos meios de comunicação, defendendo o fortalecimento das narrativas indígenas no cinema, na TV e na literatura. Seu trabalho vai além das ondas do rádio; ela é uma ativista dedicada à visibilidade e ao empoderamento dos povos indígenas em todo o Brasil.
Sônia Guajajara é uma figura central no Movimento Indígena brasileiro, uma voz incansável na luta pelos direitos dos povos nativos. Ela é do povo Guajajara/Tentehar, que habita as matas da Terra Indígena Araribóia, no estado do Maranhão. Como Ministra dos Povos Indígenas do Brasil, ela trouxe a urgência das questões indígenas para o centro do poder político. Sua trajetória, desde a Terra Indígena Araribóia até os corredores do governo federal, é marcada por dedicação e coragem. Reconhecida internacionalmente por sua defesa dos direitos humanos e ambientais, Sônia é uma líder que batalha pela justiça social e ambiental.
Txai Suruí, nascida Walelasoetxeige Suruí, é uma líder indígena e ativista ambiental da etnia Suruí, de Rondônia. Com apenas 27 anos, é filha de Almir Suruí, uma figura notável na luta contra o desmatamento na Amazônia, e coordena o Movimento da Juventude Indígena. Além disso, Txai é uma voz respeitada em âmbito global, tendo sido a única brasileira a discursar na abertura oficial da Conferência da Cúpula do Clima (COP26), onde destacou os desafios climáticos enfrentados pela Amazônia. Ela também atua na Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé e esteve na lista anual de 100 lideranças da nova geração da Revista Time do ano passado.
Watatakalu Yawalapiti é uma influente liderança do grupo Yawalapiti, situado no Parque Nacional do Xingu, no Mato Grosso. Filha do falecido cacique Pirakumã, ela se destaca tanto como artesã quanto como ativista, usando sua posição para desafiar e remodelar as práticas machistas tradicionais. Ela é coordenadora-geral do departamento das mulheres da Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX – Mulher), e foi fundamental na inauguração da Casa das Mulheres no centro da aldeia Kisêdje, o que simboliza um avanço significativo contra o tradicional domínio masculino. Seu trabalho não apenas preserva a cultura Yawalapiti, mas também promove uma visão progressista sobre os direitos femininos.
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