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A tática do vôlei para se tornar um negócio global

Em parceria com a IMG, Federação Internacional de Vôlei (FIVB) cria novo torneio e coloca seleções como sócias para ampliar a receita com patrocínios e direitos de transmissão


17 de maio de 2018 - 7h00

Primeira etapa da Liga das Nações de Vôlei está acontecendo em Barueri (SP) (crédito: divulgação)

Um dos esportes cujos ingressos foram mais disputados para os Jogos Olímpicos Rio 2016, o vôlei costuma lotar os ginásios do País quando as seleções brasileiras masculina e feminina estão jogando os torneios internacionais, mesmo com as transmissões da Globo, na TV aberta, e SporTV, na fechada. No entanto, esse sucesso não é regra em todos os mercados internacionais e a Federação Internacional de Vôlei (FIVB) mudou sua estratégia de jogo.

Em outubro do ano passado, a FIVB anunciou a criação da Liga das Nações de Vôlei (Volleyball Nations League) para substituir a Liga Mundial (masculina) e o Grand Prix (feminino) e a assinatura de um contrato com a IMG até 2022 para a empresa cuidar da comercialização dos direitos de transmissão e da captação das imagens de todos os jogos. Além do campeonato, nas versões masculina e feminina, que reúne 16 seleções nacionais, a FIVB pretende oferecer uma nova experiência para os torcedores nos ginásios e nas telas.

Na entrevista a seguir, Luiz Fernando Lima, ex-diretor de esportes da TV Globo e atual secretário geral da FIVB, conta os detalhes do plano da federação com a Liga das Nações, cuja etapa inicial está acontecendo nesta semana em Barueri (SP), para tornar o esporte um negócio de sucesso ao redor do mundo.

Parceria com a IMG quer estabelecer padrão de qualidade nas transmissões (crédito: divulgação)

Meio & Mensagem – O que motivou a criação da Liga das Nações?
Luiz Fernando Lima – A Federação Internacional de Vôlei (FIVB) analisou em profundidade os produtos World League (criada em 1990) e o World Grand Prix (criado em 1993) com o objetivo de identificar os problemas que levaram as competições a não serem um sucesso de business mundial até aquele momento. Identificamos que a principal razão era o modelo de negócios. As federações nacionais (países participantes) pagavam um fee de participação para a FIVB e recebiam os direitos de televisão locais e os direitos internacionais quando os seus times estavam jogando. Igualmente, as federações nacionais eram responsáveis pela produção de TV nos jogos disputados em seus países. Contudo, apenas poucas delas eram capazes de negociar esses direitos e, no final, a grande maioria pagava para a FIVB, pela produção de TV e algumas vezes pagava por air time. No final, como as federações nacionais não conseguiam gerar lucro com seus eventos, elas procuravam reduzir ao máximo os custos e, com isso, os eventos não eram atraentes, a produção de TV era pobre e, ainda por cima, a FIVB não conseguia ter consistência em seus eventos ao redor do mundo. Eram eventos diferentes, organizados sob o nome de uma mesma competição. Além disso, o sistema de disputa era difícil de ser entendido e diferente para homens e mulheres, assim como o nome das competições de cada gênero, as cores, a premiação, tudo. O vôlei feminino e o masculino têm uma qualidade que nenhum outro esporte tem: as duas competições conseguem atrair o mesmo interesse midiático e patrocinadores. É o esporte coletivo mais equilibrado em alto nível. E, para completar, identificamos uma grande confusão com a palavra “World” nos nomes dos eventos. Por exemplo, o presidente da França escreveu no Twitter “…parabéns aos campeões mundiais” quando o time da França ganhou a World League 2017. Portanto, o que de fato motivou a criação da Liga da Nações de Vôlei (Volleyball Nations League), em parceria com a IMG, foi, de fato, fazer do vôlei um big business no mundo.

Brasil é sede da primeira etapa do torneio (crédito: divulgação)

M&M – Como foi o processo de criação da Liga da Nações de Vôlei e qual o modelo de negócio?
Luiz Fernando – Criamos uma novíssima competição do zero, onde 16 equipes disputam um sistema de jogo de todos-contra-todos, simples de entender, com uma final que reúne os seis melhores. Os países participantes são shareholders e participarão da divisão de resultados. Decidimos que seria uma única competição, igual para homens e mulheres: mesma fórmula, mesmo número de equipes, mesmo prize money, mesmas cores, mesma marca, mesmo nome. Contratamos uma equipe de profissionais experiente e uma grande agência de marketing, a Landor, parte do grupo WPP. Iniciamos todo o estudo de marca e definimos todos os elementos do evento baseados no conceito “Made of Volleyball” – nossa typeface é baseada no movimento da bola no rally (quando a jogada é muito disputada e a bola demora a cair no chão). Assim como nossa logo, nossas cores são baseadas nas cores do piso de jogo, usamos os dois quadrados que formam a quadra de vôlei para definir o TV Graphics, etc. Outra inovação é ter um foco maior no atleta e nas grandes jogadas. Embora o vôlei seja um esporte coletivo, é importante exaltar as jogadas individuais dentro do todo. Estamos no caminho certo. Na TV também. Queremos garantir que todos verão a mesma produção, sem olhar especial para o time da casa. Essa neutralidade absoluta procura valorizar o individual dentro do vôlei. O fã sempre vai se identificar com o indivíduo antes de coletivo. Os jogadores fazem história e criam valores para o coletivo. O engajamento do público também é fundamental. O espaço de tempo entre um saque e outro nos permite trazer o público para o espetáculo. Por isso, o objetivo é apresentar o esporte para o público de um jeito novo. Fazer com que ele se sinta parte do evento. A ideia de inovar vem desde a entrada do presidente Ary Graça na presidência. Desde 2013, estamos introduzindo novas coisas no vôlei, e agora chegam novos conteúdos, oferecidos aos espectadores nos ginásios e em casa, a Vôlei TV e outras novidades que estão a caminho.

M&M – Como surgiu a parceria com a IMG e quais os objetivos da parceria?
Luiz Fernando – Estávamos buscando um padrão de qualidade em todos os jogos, distribuídos durante quatro meses, por inúmeros países. A parceira com a IMG tem o objetivo de criar um evento de fato relevante no mundo e nossa longa parceria vai até 2022.

M&M – Quais são as marcas patrocinadoras da Liga das Nações e quais serão as ativações durante o torneio?
Luiz Fernando – Os patrocinadores são Mikasa, Asics, DBSchenker, Gerflor, Senoh e outras marcas que serão anunciadas em breve. Já as ativações vão depender da estratégia de cada um deles.

Serviço da Volleyball TV cobra € 19,99 pela transmissão dos 260 jogos do torneio em devices mobile ou desktops (crédito: reprodução)

M&M – Como foram comercializados os direitos de transmissão? Quantos países exibirão o torneio no mundo?
Luiz Fernando – Os direitos são 100% comercializados pela IMG, que também controla 100% da produção de TV. Ainda não temos o mapa total dos países, pois alguns ainda estão em negociação. Nesta primeira rodada, Alemanha, Argentina, Austrália, Bélgica, Bulgária, França, Holanda, Itália, Nova Zelândia, Reino Unido e Sérvia já têm à disposição a Volleyball TV (serviço de streaming que dá acesso aos 260 jogos do torneio nesta temporada por € 19,99). Há países que ficarão de fora por conta de contratos de direitos de TV em andamento, como o caso do Brasil, onde os direitos pertencem com exclusividade à TV Globo.

M&M – A FIVB fará alguma campanha de marketing para divulgar o novo torneio para os fãs da mobilidade?
Luiz Fernando – Temos uma campanha chamada “Be Part of The Game” e outra chamada “Tricks”, onde os principais atletas que disputam a Volleyball Nations League fazem coisas incríveis. A agência de promoção Squids é a responsável pelas campanhas.

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