Pokémon Go tem futuro incerto no Brasil
Um mês após o lançamento do jogo no País, marcas continuam investindo mesmo sem comprovações sobre sua rentabilidade
Um mês após o lançamento do jogo no País, marcas continuam investindo mesmo sem comprovações sobre sua rentabilidade
Karina Balan Julio
2 de setembro de 2016 - 8h30
O Pokémon Go está completando um mês no Brasil, e se o jogo ainda não apresenta sinais de desgaste entre os usuários, o mercado já mostrou que não acredita na sua eficiência. Uma pesquisa feita pela Câmara Americana de Comércio (Amcham) com profissionais de marketing apontou que 58% avaliam o retorno de ações relacionadas ao Pokémon Go como pontuais. Outros 31% informaram acreditar em retorno significativo e 10% avaliam como insignificativo.
Ainda assim, muitas marcas continuam se aventurando em ações de marketing em torno do jogo. “Em termos financeiros não tem muita utilidade, a aplicação é mais para o lado lúdico. A tendência é que o frenesi passe aos poucos, a não ser que eles lancem uma atualização nova. O tipo de cliente vai ficar mais restrito aos fãs desse universo de animes”, diz Marcelo Rondino, diretor da agência Flex Interativa.
O game já começa a perder usuários ao redor do mundo, segundo a consultoria Apptopia. O Pokémon Go perdeu 15 milhões de usuários que acessavam o jogo diariamente entre 19 de julho e 19 de agosto. A experiência com o jogo também não é sempre satisfatória.
Um estudo da The Aubergine Panda feito durante os primeiros dias do jogo no Brasil revelou que 52% dos usuários tiveram uma experiência negativa com o jogo, seja porque seus celulares não eram compatíveis, ou porque não se interessavam pelo game e se incomodaram pela repercussão gerada. Neste caso, estratégias em torno do Pokémon Go, além de não apresentarem retorno, podem repelir consumidores que já se cansaram da brincadeira.
De acordo com Marcelo, ainda são necessários alguns meses para avaliar o impacto comercial do jogo. “Se eu fosse responsável por uma marca, investiria nos próximos dois ou três meses para ver até que ponto vai. É uma boa estratégia do ponto de vista de construção de marca, mas não de negócios”, avalia.
O Espaço Itaú de Cinemas, por exemplo, criou em agosto uma promoção relacionada, onde os usuários que capturassem pokémons nas proximidades dos cinemas ganhavam descontos no ingresso. Já a rede Ipiranga está incentivando seus revendedores a adquirir “pokelures”, ferramentas que atraem pokémons às suas lojas de conveniência.
Entretenimento x Privacidade
Entre os usuários, uma das maiores preocupações ainda são as permissões de acesso do aplicativo, que pode extrair informações de e-mail e fotos, além do acesso à câmera do celular. Um a cada dois usuários já deletou um aplicativo devido à preocupações com a privacidade, segundo um levantamento realizado pela eMarketer este ano.
Carlos Affonso Souza, doutor em direito civil do Instituto de Tecnologia & Sociedade do Rio, acredita as pessoas vão gradualmente começar a perceber o valor de seus dados pessoais como moeda de troca para o acesso de bens e serviços na rede. “Todo dado pessoal importa para a criação de perfis de uso, de compra, de deslocamento e de preferências em geral. Isso não significa que as pessoas devam abandonar os aplicativos mais populares, mas sim usá-los de forma consciente. Saber quais dados podem ser coletados e tratados é o primeiro passo para a tomada de decisão sobre a utilização de um aplicativo”, afirma.
Na sua avaliação, os brasileiros ainda estão aprendendo a se preocupar com sua privacidade online. “Uma preocupação que tem passado desapercebida é a cláusula da Política de Privacidade que afirma que, caso o jogador peça o cancelamento de sua conta, a desenvolvedora ainda poderá reter as informações pessoais por um tempo ‘comercialmente razoável”. No Brasil, o Marco Civil da Internet determina que o usuário tem direito à exclusão definitiva dos seus dados quando do término da relação contratual com um provedor”, conclui.
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