Clubhouse: o hype já passou ou app ainda tem fôlego?
Lançamento da versão para Android pode reaquecer o interesse pela ferramenta no País, que desfruta do aumento do interesse pelo conteúdo em áudio
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Bárbara Sacchitiello
13 de maio de 2021 - 6h00
No início de fevereiro, o tema das conversas entre publicitários, profissionais de comunicação e os usuários mais antenados nas novidades tecnológicas era um só: as infinitas possibilidades de conversas e assuntos dentro do Clubhouse. O aplicativo, que havia ganhado nos Estados Unidos a adesão de personalidades como Elon Musk, Oprah Winfrey e Mark Zuckerberg começou a fazer barulho por aqui ao oferecer aos usuários uma infinidade de salas de bate papo por voz.
O fato de estar disponível apenas para usuários de smartphones com o sistema iOS ajudar a aguçar a curiosidade pela ferramenta e não demorou para que empresas, de diferentes segmentos, começassem a anunciar sua entrada no app para estabelecer um novo canal de comunicação com seu público. Simultaneamente, outras grandes redes sociais, como Facebook e Twitter, intensificaram o desenvolvimento de suas platataformas de áudio para fazer frente à concorrência da nova ferramenta.
O hype inicial, no entanto, não conseguiu manter o fôlego por muito tempo. De acordo com o Sensor Tower, o Clubhouse teve, no auge de seu sucesso, em fevereiro, 9,6 milhões de downloads no mundo. Em abril, esse número já havia caido para 922 mil. O anúncio de que o app vai estar disponível na plataforma Android, ainda em versão beta, feito nesta semana, entretanto, pode fomentar uma nova onda de interesse pelo aplicativo, tanto por parte dos usuários como pelos anunciantes.
O ciclo da novidade
Chegar fazendo barulho, mobilizar as conversas e, depois de um tempo, ver o interesse das pessoas diminuir é um ciclo que está longe de ser exclusivo do Clubhouse. Boa parte dos novos formatos tecnológicos acabam seguindo uma rota parecida quando são apresentados ao grande público. “Da disrupção e inovação ao momento de massificação e presença no dia a dia das pessoas de forma natural, novos formatos ou tecnologias emergentes passam por estados clássicos, como o pico de expectativas infladas seguido da sensação de desilusão, causada exatamente por uma reação exacerbada”, explica Fabio Palma, chief technology officer da Africa.
Apesar de a plataforma de conversas por áudio também obedecer a essa lógica das novidades tecnológicas, o boom do Clubhouse seguiu uma ordem diferente no Brasil, na opinião de Jairo Anderson, chief creative officer (CCO) da Peppery. Segundo o profissional, geralmente as novas redes sociais surgem cercada de um hype capitaneado por early adopters e, depois de estarem relativamente segmentadas, começam a atrair publicitários e profissionais de comunicação – e, consequentemente, as marcas. “O Clubhouse vem mostrando uma trajetória diferente: já nasceu atraindo a participação de muitos profissionais de comunicação logo de cara, talvez em maior número do que de usuários ‘comuns’. Então, mal a plataforma chegou e já havia conteúdo de marcas lá dentro muito rápido, com todos querendo assumir o pioneirismo”, contextualiza o CCO da Peppery, que acredita que esse processo pode ter contribuído para um certo esvaziamento da plataforma.
Vida nova no Android
A liberação nos smartphones com Sistema Android – a tecnologia presente nos aparelhos na maior parte da população brasileira – pode trazer uma nova onda de crescimento para o aplicativo, na visão dos publicitários. “Com certeza, a popularidade do Clubhouse tende a aumentar, e muito. O market share do sistema Android ultrapassa os 80% e os números falam por si”, destaca Christiano Bock, head de atendimento da AlmapBBDO. Na opinião do profissional, esse tempo de espera para o lançamento no Android, inclusive, pode ter aumentado ainda mais o interesse no app. “A estratégia de lançar primeiro em uma plataforma menor, em um primeiro momento com convite, gera a sensação de exclusividade e com isso o interesse fica maior”, pontua.
Apesar de concordar que a presença na loja de aplicativos do sistema Android impulsione a popularidade do Clubhouse no Brasil por um momento, o CCO da Peppery não acredita em uma nova explosão do interesse pela plataforma de conversas por voz. “Havia uma certa aura de exclusividade em torno do Clubhouse, sobretudo no Brasil, o que contribuiu bastante para esse boom inicial. Agora a tendência é que ele atinja muito mais gente e isso deve impulsionar sua popularidade em um primeiro momento, mas esse fim do caráter exclusivo, junto com uma certa saturação do que foi explorado por lá, tende a baixar bastante aquele boom inicial da novidade de meses atrás, acredita Anderson.
Desde fevereiro, foram vários os exemplos de marcas que aproveitaram o hype da plataforma para marcar presença no Clubhouse, criando salas de conversas e projetos de conteúdo para o público. Nescau, Bradesco Seguros, MDS, Cultura Inglesa e também veículos como WarnerMedia e a RecordTV fizeram uso da Plataforma como mais um canal de conteúdo. Esse movimento, Segundo os profissionais de agências, vai além do interesse pela novidade e está em sintonia com o aumento do consume dos formatos de áudio digital, sobretudo os podcasts.
Fabio Palma, da Africa, relembra que estamos a um ano de celebrar o centenário da criação da primeira emissora de radio brasileira (a Rádio Sociedade, do Rio de Janeiro, fundada em abril de 1923) e que, apesar de muita coisa ter mudado no consume de conteúdo de lá para cá, o hábito de ouvir conteúdo ainda se mantém vivo. “A internet veio e possibilitou escolhas de conteúdo via streaming. Mas o hábito de ouvir e interagir com o conteúdo de áudio, seja ele por ondas de radio AM, FM, streaming, um podcast e agora pelo Clubhouse continua muito forte e presente em nossa cultura. E isso, sem dúvida, reflete nos interesses dos anunciantes”, destaca o chief technology officer.
O aumento do interesse dos anunciantes pelo investimento em podcasts e conteúdos de audio digital traz uma boa perspectiva para os Negócios do Clubhouse nessa nova area com o sistema Android, de acordo com Bock, da AlmapBBDO. “As discussões em áudio são imersivas e criam a sensação de fazer parte da conversa, fato que o Cubhouse traz adicionalmente ao podcast tradicional, pois permite a interação entre as pessoas e isso é o que as marcas mais buscam hoje em dia”, resume.
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