“Novelas já fizeram mais pelo feminismo que muitos discursos”
Pioneira ao levar a discussão de gênero à televisão, com o TV Mulher, a senadora Marta Suplicy comenta o papel da mídia no debate sobre o tema
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Mariana Stocco
8 de março de 2017 - 8h14
Apesar de, à época, levar uma vida muito diferente da que tem agora, a então psicóloga Marta Suplicy já lutava pelos direitos das mulheres e pelo seu entendimento na TV aberta nos anos 80. Dona de um quadro sobre comportamento sexual no TV Mulher, a atual senadora pelo PMDB e sua família passaram por situações de preconceito ao tratar sobre o tema na Rede Globo.
Em entrevista ao Meio&Mensagem, Marta Suplicy conta um pouco sobre sua trajetória no programa, a importância da discussão sobre o tema e as redes sociais. Na visão de Marta, a TV aberta possui um papel importante na discussão sobre o tema. “Se não fosse a TV aberta, estaríamos enfrentando ainda mais preconceitos. Há ainda muito por fazer e o nicho é importante. Tem audiência, tem retorno”, diz
M&M – Na sua opinião, qual a importância do feminismo ser discutido em um programa na TV aberta, principalmente na Rede Globo?
Marta Suplicy – Faz toda a diferença para o bem e para melhor em termos de promover esclarecimentos. É comunicação de massa. Educa porque a pessoa ouve histórias, se identifica, tem empatia. Muitas novelas e bons dramaturgos já fizeram mais pelos avanços em pautas como as feministas do que mil discursos políticos em tribuna dos legislativos, ou comícios. A TV vai a todos os rincões. Tivemos o marco TV Mulher, nos anos 80, e bons programas como Malu Mulher, final dos anos 70, e começo dos 80, os dois na Globo, e a partir deles tantas coisas boas mais vieram e em várias emissoras, sempre despertando consciências. Temos aí ganhos importantes, como, por exemplo, o de mais sororidade, as mulheres se vendo em diversas situações e não julgando tanto e previamente outras mulheres. Há, claro, as que julgam, mas tem mudado. E os homens também vêm se educando ao longo dos tempos. Também assistem, também comentam. Se não fosse a TV aberta, estaríamos enfrentando ainda mais preconceitos. Há ainda muito por fazer e o nicho é importante porque tem audiência e retorno.
M&M – Por ter participado do TV Mulher, como a senhora enxerga esse debate atualmente? É muito diferente do que foi abordado na década de 1980?
Marta Suplicy – O debate era muito diferente. No começo dos anos 80, discutíamos uma pauta que seria pensada como de “outro mundo”, que, hoje, seria difícil de entender: a exigência da virgindade antes do casamento, consequências e perigos da masturbação. A homossexualidade era tabu. Ainda estávamos começando a discutir a questão da violência contra a mulher, que assumia o noticiário por ser de grande perversidade ou o então chamado crime de honra. No entanto, na era da comunicação, deixamos para trás aquelas pautas de “outro mundo” e estamos vendo feministas se manifestarem em ações ampliadas e também em ações segmentadas. O movimento das trans, o das negras, o de mulheres que até ocuparam os lugares dos homens em jornais e revistas, que vêm aderindo à onda feminista. Esse é o grande ganho e o diferencial dos tempos atuais. Quando a sociedade compreender o feminismo, com o apoio dos homens, daremos passos mais avançados.
M&M – Como o debate feminista era encarado na época do TV Mulher? Como era a recepção do público?
Marta Suplicy – Vivi muito preconceito, minha família e filhos, também. As senhoras de Santana, grupo conservador da época, exigiram a retirada do meu quadro do ar. A Rede Globo chegou a suspendê-lo. Do lado positivo, foi a pressão do público que assistia o TV Mulher, o apoio da mídia, que trouxe o quadro de volta. E, de lá para cá, em geral, alguns bons avanços. Também há ataques conservadores e, dessa reação, basta ver que as mulheres ainda têm muita dificuldade em aprovar e validar as questões de direitos reprodutivos, na forma da lei. Ainda não têm condições e estímulos para atuar na carreira política, onde poderíamos realmente ter avanços. Somos mais da metade da população, porém apenas representadas em 10% nas cadeiras do Congresso Nacional.
M&M – Há alguns anos nós tivemos o TV Mulher e agora temos o Amor&Sexo retratando esse assunto e trazendo isso para o grande público. Porém, nesse meio tempo teve algum outro programa desse tipo? Se não, porque isso aconteceu?
Marta Suplicy – Vi que Amor&Sexo fez um ótimo programa sobre feminismo na abertura desta temporada. Bombou na TV e nas redes. É um programa bem elaborado. Sempre que falam em acabar tem clamor e retomam. Lá, não vejo só a pauta do feminismo propriamente. Os homens e suas questões são trabalhados. O programa tem um conjunto interessante. É ótimo! Esse novo que falo a vocês está presente na direção dessa produção. Mas a TV aberta, a partir do TV Mulher com mais força, abriu espaço e tem muito o que falar sobre feminismo. A Hebe falava, o Programa Mulheres, na TV Gazeta, também e a própria A TV Mulher. depois, a Globo e a Bandeirantes também tiveram programas e penso que ainda há para esses assuntos. Mas, hoje, a pauta pode ocupar uma infinidade de programas. O assunto é denso, intenso e vai continuar interessando. É comportamento humano.
M&M – As redes sociais podem ser um dos principais motivos para esse debate estar presente na TV aberta, na sua opinião? Como as redes influenciam e pautam a TV nesse aspecto?
Marta Suplicy – Não me parece que as redes sociais sejam um dos principais motivos, apesar que hoje devem pautar alguns tópicos e, certamente, influenciarão de forma antes que não imaginamos. As TVs foram pioneiras e as redes sociais ampliam, pois trazem a oportunidade da interatividade. As pessoas estão podendo opinar. As novelas e toda a programação das TVs tem interagido com a audiência por meio da internet. Lembro da novela “Cheias de Charme”, que a TV Globo colocou no ar já faz um tempo e sempre é lembrada. Havia uma divertida interação com as redes sociais. Qualquer programa, um reality, o jornalismo, o que acontece na TV em geral e nas redes tem interesse por parte das pessoas, que querem e hoje podem opinar mais. Não estão passivas, só ouvindo. As produções de TVs se ligaram faz tempo nisso e procuram responder.
M&M – Na sua percepção, a TV aberta e a TV fechada estão no mesmo nível de debate ou nos canais pagos esse assunto é mais presente?
Marta Suplicy – Temos bons programas em canais abertos e pagos. A TV foi destino de 70% da publicidade no Brasil em 2015, segundo registrou o Ibope divulgado ano passado. A TV aberta recebeu 53% da verba, TV por assinatura 11% e merchandising 5%. E os programas femininos dominaram publicidade na TV aberta em 2015. Em 2016, tivemos notícias da redução de investimentos, crise econômica, tendências também. Há o comportamento da juventude olhando para novos modos de ver e consumir notícias, entretenimento e a interatividade da internet que puxa a atenção. Vejo que as produções se movimentam para concorrer em todas as searas. É bom. E a pauta feminina é forte e vem se destacando. O feminismo não tem volta. Evolui, amplia ferramentas e seu espectro de interesses e que seja assim até chegarmos à igualdade. E aí? Virá o novo!
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