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Reality não tem “fórmula de bolo”, diz Rodrigo Dourado

Diretor do gênero reality da Globo fala sobre estratégias para engajar o público e comenta sobre o formato do próximo BBB

i 4 de setembro de 2025 - 6h01

Rodrigo Dourado

Rodrigo Dourado, diretor do gênero reality na Globo: “A força do engajamento dos realities é exatamente essa capacidade de falar para 30, 40 milhões de pessoas ao mesmo tempo” (Crédito: Divulgação/Globo)

A Globo não quer mais resumir sua estratégia de reality shows ao Big Brother Brasil. Embora o programa de confinamento ainda seja a atração de maior repercussão – e maior faturamento comercial da casa – a empresa vem investindo em outras produções do gênero, para acomodar o formato em sua grade ao longo de todo o ano.

Desde a semana passada, o Estrela da Casa vem ocupando a grade noturna da Globo, com a proposta de revelar talentos da música. O formato, original do veículo, estreou no ano passado, mas passou por alterações para essa nova edição, focando mais na preparação e provas musicais do que na rotina de confinamento da casa.

O espaço em que os cantores do Estrela da Casa ocupam, nos Estúdios Globo, é o mesmo da mansão do BBB, que agora é vizinha da cozinha de três andares que, recentemente, abriou o Chef de Alto Nível. O reality gastronômico já garantiu sua segunda temporada em 2026 e toda a estrutura será mantida para a próxima edição.

Os três realities, agora, formam um pilar fixo de conteúdo que é, desde o fim do ano passado, liderado por Rodrigo Dourado. O diretor já era responsável pelo BBB há anos, mas assumiu o comando de todo o núcleo após a saída de Boninho, no fim de 2024.

Confiante no poder do engajamento que o reality ainda tem, Dourado admite que, por mais que a produção tente aprimorar as técnicas de seleção do elenco e toda a estrutura tecnológica para levar as atrações ao ar, nenum formato é garantia de sucesso.

” A gente escolhe os personagens, mas não temos como prever o que surgirá da interação entre eles nem quais serão suas reações diante de desafios tão específicos e imprevisíveis que o próprio jogo propõe”, contou o diretor do gênero reality show em entrevista ao Meio & Mensagem.

Dourado também falou sobre as mudanças no Estrela da Casa e adiantou sobre o possível formato da próxima edição do BBB. Veja:

Meio & Mensagem: Quais os seus critérios para identificar e formar um bom elenco de reality?
Rodrigo Dourado: Essas escolhas são um dos pilares que levam ao sucesso de um reality. Em geral, além de histórias interessantes, capazes de gerar identificação e conexão com o público, existe algo que popularmente chamamos de “carisma”, que é uma característica muito sutil, que quando está presente, conquista a todos. Ter diversidade cultural, racial, regional e de estilos também é um ativo importante, pois isso enriquece ainda mais as trocas, conversas e repertório do programa. Esses são alguns dos critérios, mas não há fórmula de bolo. Nossa equipe trabalha por quase um ano nessa seleção, viaja o Brasil inteiro, fazendo milhares de entrevistas com pessoas de todas as regiões, o que mostra a complexidade do trabalho. E, mesmo assim, nada disso é garantia de sucesso. A gente escolhe os personagens, mas não temos como prever o que surgirá da interação entre eles nem quais serão suas reações diante de desafios tão específicos e imprevisíveis que o próprio jogo propõe. O resultado que vem da união desses indivíduos é a parte imponderável, e uma das mais legais de ver acontecendo diante de nós.

M&M: De forma geral, vc considera que os realities ainda têm espaço na TV aberta? Alem dos que a Globo já tem no ar, atualmente, há espaço para desenvolver outros formatos?
Dourado: A TV aberta é a principal janela para os realities, com sua vocação para a programação ao vivo, capaz de colocar todo mundo conectado ao mesmo tempo. A força do engajamento dos realities é exatamente essa capacidade de falar para 30, 40 milhões de pessoas ao mesmo tempo, coisa que o ambiente digital ainda tem limitação técnica para fazer. É isso que faz com que os assuntos dos realities extrapolem a TV e sejam comentados por todo mundo, nas ruas, nas casas ou nas redes sociais. E diversas pesquisas que realizamos, inclusive com o BBB, mostram que os realities continuam sendo um gênero de sucesso no Brasil nos seus mais variados formatos. Eles têm uma enorme capacidade de engajar o público, de abrir conversa, de conectar, envolver e apaixonar os brasileiros. Junto a isso, a TV Globo continua evoluindo igualmente em novos formatos de conteúdo, publicidade e tendo ao lado dela todo um ecossistema no ambiente digital que potencializa ainda mais sua programação, além de possuir um hub de fomento no gênero, que avalia e desenvolve novos formatos de realities. Para o formato reality show, que tem como característica o alcance multiplataforma, esse é um terreno muito fértil e que nos instiga e estimula sempre, enquanto profissionais do gênero.

M&M: A Globo estreou a segunda edição do Estrela da Casa. Quais são os elementos que a empresa acredita que deram certo, na primeira edição, e quais não deram muito certo e precisaram ser revistos para essa segunda?
Dourado: Em todos os programas do núcleo de realities, a cada temporada trazemos aprendizados da anterior e propomos novidades e atualizações para a próxima. Estamos sempre nos reinventando e nos desafiando a fazer melhor e diferente. O público já espera isso da gente. Para o Estrela da Casa deste ano, pesquisas revelaram o desejo de ver mais música no programa. Levamos em conta tudo que aprendemos na última edição e fomos atrás de ideias criativas que se adequassem ao formato e entregassem o que a nossa audiência quer. Estamos muito animados com resultado desse trabalho. Todas as provas e desafios têm ligação com a música; temos mais apresentações ao vivo dos participantes; e receberemos um número ainda maior de convidados musicais nas diferentes dinâmicas ao longo da temporada. Tudo isso enriquece o lado “show” da competição. Para amparar tudo isso, a gente amplia a estrutura de desenvolvimento artístico que acontece em paralelo preparando os participantes para cada performance. Voltam as oficinas que oferecem ganhos técnicos de voz, movimento corporal, composição e musicalidade. Além de temas variados que trazem conhecimento sobre o mercado fonográfico, o que foi um enorme acerto do primeiro ano. Unimos a isso funções inéditas, como a de Michel Teló, como mentor de todos os participantes, e um júri para os Festivais. Temos um Estrela da Casa com mais música, mais shows e mais desenvolvimento artístico este ano. E claro, com uma participação importante do público no desenrolar da competição.

M&M: Você já fazia parte do BBB há anos, mas assumiu o comando de toda a área de realities desde a saída de Boninho. Como tem sido esse desafio para vc?
Dourado: É uma grande responsabilidade, sem dúvidas. Recebi com muita felicidade essa missão, na certeza de que, ao longo de 23 anos no entretenimento da Globo, passei por diferentes programas do gênero e construí uma trajetória cheia de desafios e conquistas. A maior meta é seguir entregando programas que cativem o público, que se renovem a cada ano e gerem conexão. Eu não faço os programas sozinho, tenho excelentes profissionais ao meu lado no núcleo de Realities da Globo, que me dão muita segurança

M&M: O BBB continua sendo o reality de maior repercussão no Brasil, mesmo após tantas temporadas. A cada ano, contudo, aumenta o desafio de fazer com que o formato continue gerando engajamento. Vc acha que o atual modelo do BBB, com Camarote e Pipoca, ainda se sustenta?
Dourado: O BBB se renova todos os anos, e a cada temporada a gente repassa ponto a ponto para ver o que fica, o que muda, o que precisa apenas de um ajuste. Isso é feito com todos os elementos do reality, não só com o grupo camarote. Enquanto fizer sentido para a proposta do ano, a gente pode utilizar este recurso, assim como também podemos entender que outra novidade merece ganhar espaço. Até aqui, a presença dos camarotes foi bastante positiva, e isso foi confirmado em pesquisas que realizamos sobre o programa.