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Mídia

Revolução ou repetição: eis a questão

O mais conceitual e ?cabeça? dos seminários do V Congresso reuniu jornalistas e escritores para debates os rumos e o papel da comunicação humana


29 de maio de 2012 - 8h12

Mágoas, tiro ao alvo, cirurgia de catarata, Shakespeare e internet. Todos esses assuntos – aparentemente desconexos – foram usados como metáforas para as teses e debates da mais conceitual das palestras do V Congresso Brasileiro de Comunicação. Com o tema “A Comunicação e os Pensadores”, o encontro, que encerrou as atividades oficiais desta edição do evento, conseguiu reunir todos os grandes nomes da indústria da comunicação na plateia que, atentos, ouviram os discursos, as teses, as ideias e as “viagens” acerca do núcleo primordial da atividade humana: o pensamento.

Comandando pelo diretor editorial da revista Veja, Eurípedes Alcântara, a palestra colocou frente a frente as produtivas mentes dos jornalistas e escritores Eugênio Bucci, Caio Tulio Costa e Luiz Felipe Pondé. Em quase duas horas de debate, a plateia foi brindada com explanações detalhadas acerca da trajetória da comunicação humana, finas ironias e divergências claras de pensamento acerca do cenário atual que a sociedade atravessa.

Primeiro a expor suas conjecturas, Luiz Felipe Pondé destacou sua decepção diante da atual postura dos pensadores públicos. “O pensamento foi criado com o objetivo de gerar dissonâncias e estimular reflexões. O que notamos, no entanto, é uma repetição de ideias e uma postura polida demais em relação às ideais dos outros”, criticou. Segundo ele, os seres humanos vivem como se tivessem a obrigação de manter uma sociedade de boa conduta, na qual exprimir seus pensamentos os colocaria em má posição diante dos outros.

Apresentando a plateia uma tábua de tiro ao alvo – que ele mesmo havia utilizado em uma recente brincadeira com a família – Eugênio Bucci brincou com o público ao exemplificar, de maneira bem clara, como a linguagem da comunicação entre emissor e receptor ainda é baseada em conceitos bélicos. “A publicidade fala que as pessoas são público-alvo. A imprensa também trata seus leitores como alvo. Ouço muito as empresas falaram que ‘disparam’ e-mail marketing. Tudo isso coloca o emissor na posição de atacante, como se o inimigo fosse apenas um objeto a ser dissuadido, convencido e dominado”, exemplificou.

Com uma posição mais “moderna” entre os debatedores, Caio Tulio Costa levantou a bandeira de que a internet e as mídias digitais colocam a humanidade em uma revolução jamais vista na História. Segundo ele, a indústria da comunicação precisaria passar por uma “cirurgia de catarata” para poder enxergar claramente que a forma de produzir e consumir mídia é totalmente diferente e que, afirma ele, não existem mais donos do poder e nem detentores das ideias.

Revolução, repetição ou as duas coisas?

A maior parte do debate, no entanto, foi monopolizada pela dualidade das ideias de Caio Tulio Costa e Eugenio Bucci. Enquanto o primeiro defendia arduamente o atual momento como a maior revolução da comunicação após os feitos de Guttemberg, Bucci salientava que as transformações geradas pela web e seus impactos são tão importantes (e por isso, devem ser enxergadas na mesma medida) do que foi a invenção do telégrafo, dos jornais, do rádio, da TV e das outras mídias. “Não se trata de revolução, mas sim de uma constante evolução pela qual a sociedade já vem passando. A História sempre nos colocou diante de mudanças extremas”, defendeu Bucci.

“Trata-se sim de uma revolução pois o que mudou, primordialmente, é o poder do controle da informação. Antes, por mais tecnologia que fosse inventada, a informação estava nas mãos de quem tinha dinheiro para comprar tinta, máquinas e fazer jornal. Hoje qualquer pessoa publica seu conteúdo, sem gastar nada. Essa é a grande revolução”, rebateu Costa.

As duas defesas arrancaram aplausos da plateia. “Você ainda vai concordar comigo, Eugênio”, brincou Caio Tulio. A sensação, para a plateia, era de que a tese de Luiz Felipe Pondé, pelo menos naquele momento, encontrava uma luz: as grandes respostas e ideias do pensamento humano nascem, de fato, das divergências.

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