Web inclusiva: os desafios da acessibilidade nos portais
Executivos do Hand Talk e do R7.com comentam as particularidades da aplicação de medidas inclusivas nos portais de comunicação
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Carolina Huertas
22 de março de 2022 - 6h01
No Brasil, segundo o Censo IBGE 2010, o número de deficientes auditivos chega a 9,7 milhões. Já segundo a Federação Mundial de Surdos, 80% dessas pessoas são analfabetas ou semianalfabetas na linguagem escrita e dependem da língua de sinais para se comunicar. Esse número representa 5% da população e, entre esse grupo, 2,7 milhões são surdos totais.
A rotina dessas pessoas no ambiente digital não é algo fácil. De acordo com um estudo realizado pelo BigData Corp e o Movimento Web para Todos, ao analisar mais de 14 milhões de páginas de sites e portais, menos de 1% foi considerado acessível, o que contraria, inclusive, a legislação.
A Lei Brasileira de Inclusão, número 13.146, de 6 de julho de 2015, declara que “É obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet mantidos por empresas com sede ou representação comercial no País ou por órgãos de governo, para uso da pessoa com deficiência, garantindo-lhe acesso às informações disponíveis, conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas internacionalmente.”
Com um olhar para essa questão, o R7.com anunciou recentemente a inclusão tradutores virtuais em todas as áreas do portal, de notícias à blogs, e também nas páginas da programação da Record TV. Assim, todo conteúdo poderá ser traduzido em libras. Para isso, é preciso clicar no plugin de acessibilidade no lado esquerdo da tela tanto na versão web quanto na mobile.
A tecnologia assistiva é capaz de realizar a tradução de texto e imagem para libras. “A ideia de incluir um assistente virtual em libras é apenas mais um caminho para ampliarmos nosso público e atendê-lo de maneira mais completa, agora com mais uma via de acessibilidade. Atualmente, menos de 1% dos sites no Brasil é considerado acessível, estamos falando de um público de 45 milhões de pessoas com acesso limitado à informação. A acessibilidade em libras é um enorme passo e um diferencial competitivo para o portal. Além disso, essa é uma iniciativa importante para adequar o site à Lei Brasileira de Inclusão, que garante o direito à informação de pessoas com deficiência. Lembrando que o R7 já conta também com recursos de áudio em suas matérias, para alcançar quem tem dificuldade com leitura”, conta Beatriz Cioffi, diretora de conteúdo digital e transmídia da Record.
A novidade foi desenvolvida em parceria com o Hand Talk, especialista em plugins de acessibilidade digital, que conta com um grande banco de dados constantemente atualizado. Beatriz conta que o portal fez uma customização do plugin para o universo do R7.com, e hoje a Maya, a assistente e “tradutora” virtual, veste a marca. “O plugin é muito intuitivo e fácil de utilizar. Há um guia inicial, na homepage do portal que mostra todo o caminho de utilização do assistente”, conta.
O Hand Talk nasceu através de um projeto de faculdade do CEO, Ronaldo Tenório, que junto a outros 2 amigos, quis resolver a questão. A ideia inicial nasceu como um aplicativo que funcionasse como tradutor de bolso para as Línguas de Sinais. Com o app, seria possível traduzir o português escrito para a Língua de Sinais Brasileira e, assim, quebrar barreiras limitantes de comunicação entre a comunidade surda e ouvinte.
Priscila Fenner, gerente de marketing, conta que o aplicativo foi lançado em 2013, ano que se deu o lançamento oficial da startup, e em 2014, um outro produto acabou nascendo e virando o carro chefe da Hand Talk: o Hand Talk Plugin, um serviço de acessibilidade digital voltado para empresas. Em 2021, a empresa lançou também uma nova tecnologia de reconhecimento de sinais, o Hand Talk Motion.
“O interesse em acessibilidade tem sido pauta dentro e fora das organizações nos últimos tempos. O mundo corporativo tem apresentado cada vez mais preocupações com suas vertentes sociais e com o impacto que causa nas comunidades, influenciados pelo conceito de ESG (Environmental, Social and Governance), questões que têm se tornado fator competitivo de mercado, guiando investimentos financeiros e mudando o rumo de estratégias empresariais”, conta.
A executiva aponta que, de acordo com o relatório da iniciativa Who Cares Wins, da ONU, 81% das empresas presentes no Fortune 500 elencaram práticas sustentáveis como um dos principais fatores que agregam valor aos seus negócios. Ela comenta que, especificamente dentro do ambiente corporativo brasileiro, no âmbito social, a pauta deve estar cada vez mais na mesa da alta diretoria, a fim de discutir e promover a autonomia e inclusão das 46 milhões de pessoas com deficiência que vivem no país hoje e sofrem com barreiras de acesso e comunicação.
“Ao ter em mente a vontade de incluir pessoas nos mais diversos meios, não se pode deixar de pensar em acessibilidade. Por meio de inovações tecnológicas é possível promover acessibilidade também no espaço digital. Assim surgem as tecnologias assistivas, recursos e serviços criados para facilitar a vida de pessoas com deficiência. A nível global, esse mercado deve crescer cerca de 7% ao ano, algo que as empresas não devem ignorar”, revela.
Beatriz comenta que para o R7.com, como uma empresa de comunicação, é muito relevante poder trabalhar para levar a informação a um número cada vez maior de pessoas, e graças à tecnologia, hoje é possível ultrapassar limites que até pouco tempo pareciam barreiras intransponíveis.
“Esse projeto mostra que podemos avançar cada vez mais para a inclusão de grupos que desejam se informar, se atualizar, aprender. A chegada da Maya ao portal representa um momento importante na história do portal e da comunidade surda. Oferecer um recurso de acessibilidade como esse é uma ação muito importante e que contribui na quebra de barreiras de comunicação e permite a autonomia de pessoas surdas e com deficiência auditiva consumirem conteúdos online. Mas mais do que isso, coloca a pauta de acessibilidade digital em evidência para outros portais de notícia e grandes empresas que, em sua maioria, deixa de se comunicar com um público consumidor que movimenta bilhões em renda própria por ano e que quer ter autonomia para se relacionar com as marcas e as pessoas como qualquer um de nós”, afirma Beatriz.
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