A perfeição versus o aperfeiçoamento
Diferença é sutil, quase um jogo de palavras, mas marca uma infinita jornada de aprimoramento ou growth mindset
Diferença é sutil, quase um jogo de palavras, mas marca uma infinita jornada de aprimoramento ou growth mindset
Um dia desses meus pais iam mudar de casa e pediram para eu revisitar meu quarto de infância. Que momento nostálgico de olhar brinquedos, diários e, principalmente, redações em folhas de papel almaço. Numa delas, vi uma frase que escrevi em uma das redações aos nove anos de idade, mas que até hoje me acompanha: Feliz é aquele que busca aperfeiçoar-se todos os dias, ciente de que jamais atingirá a perfeição.
Essa frase significa muito para mim, porque simboliza um equilíbrio que busco todos os dias: aprender e crescer continuamente, lembrando que essa jornada não tem fim. E é com esse tema que começo meu primeiro artigo para o Meio & Mensagem, aceitando um convite que me estica e me desafia, mas sem a pretensão de ser perfeita.
Eu sempre fui uma verdadeira curiosa, dessas que perguntam “por quê?” em sequência, mas também uma grande perfeccionista, alguém que desde muito cedo se exigiu demais. Isso era uma grande batalha, até o momento em que compreendi que a perfeição é uma grande ilusão. Aos poucos entendi a diferença entre aperfeiçoar-se e ser perfeito. A perfeição é um estado finito, que não abre espaço para nada mais. Já o aperfeiçoamento é uma ação, uma busca por ser continuamente melhor. É evoluir de ontem para hoje, e de hoje para amanhã. A diferença entre os dois é sutil, quase um jogo de palavras, mas traz um grande significado, e marcou a resolução de um conflito interno e a possibilidade de viver a deliciosa e infinita jornada do aprimoramento, ou growth mindset.
Essa virada de chave mudou minha maneira de encarar algumas coisas. A primeira delas foi em relação a situações desafiadoras. Percebi que o conforto não é um lugar que traz crescimento e melhoria. Por isso, em vez de querer passar batido uma dificuldade, eu passei a encarar como uma oportunidade. Hoje, sempre me questiono: como eu posso aprender com esse momento complicado? Como posso extrair uma experiência importante e sair dessa situação melhor do que entrei?
A paixão pelo aprendizado também mudou minha percepção de sucesso. Eu tenho alguns objetivos muito claros na vida, especialmente na área profissional. Eles são guias importantíssimos para mim, mas deixei de enxergá-los como o único ponto de chegada possível. A jornada importa e as vitórias pelo caminho também. Aprendi, então, a comemorar as conquistas, grandes ou pequenas, e a reconhecer a resiliência necessária para cada uma delas. Isso me ajuda a balizar a cobrança interior e a me olhar com mais gentileza.
Por último, o growth mindset me ensinou a estar presente. Olhar para o futuro em busca do aperfeiçoamento é maravilhoso, mas preciso também ser melhor hoje, e focar no que precisa ser feito no agora. Isso pode ser bastante complexo em nossa sociedade acelerada e com nossa mente que não para, mas alguns hábitos me trazem para o momento atual.
Um deles é a leitura, que para mim sempre funcionou como uma forma de meditação. É uma das únicas atividades que realmente me fazem focar em apenas uma coisa e mergulhar inteiramente no presente: aquele momento singular quando estou devorando palavras, novos conhecimentos, personagens e histórias. Outro hábito que sempre foi um dos meus guias é a escrita: uma prática que me permite digerir, absorver, refletir e me entender melhor ao expressar de forma mais organizada tantos pensamentos e sentimentos que, muitas vezes, se cofundem. Por isso, ler e escrever sempre me ajudaram a alimentar cada pedacinho de quem eu sou — sempre em transformação, sempre em evolução.
Com isso, trago aqui um convite de reflexão — você é do time que busca a perfeição ou do grupo do aperfeiçoamento? Eu realmente acredito que não há ninguém mais inspirador do que quem podemos ser, e nada mais gratificante do que nos tornarmos a melhor versão de nós mesmos junto a nossas experiências, conhecimentos e reflexões. Como Hermann Hesse escreveu em Siddhartha: “Não estamos andando em círculos, estamos subindo. O caminho é uma espiral”.
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