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Opinião

A vista da minha janela (#ViewFromMyWindow)

Em um mundo pós-crise, ainda que algumas boas práticas que adquirimos desapareçam, teremos mais pessoas lutando para garantir que esse horizonte não se dissipe de todo


18 de maio de 2020 - 12h41

(Crédito: Onfokus/iStock)

Você talvez já faça parte do grupo de Facebook View From My Window onde, diariamente, são compartilhadas fotos das paisagens que pessoas em quarentena no mundo todo veem de suas janelas. Das montanhas geladas da Islândia aos arranha-céus de Nova York, há imagens belíssimas e outras que, simplesmente, nos escancaram uma realidade pouco poética.

A cada novo post, se sucedem milhares de curtidas e centenas de comentários. Em geral, são mensagens de apoio trocadas entre desconhecidos unidos pelo medo da Covid-19 e de seus efeitos. E pela angustiante sensação de liberdade cerceada.

Em paralelo, vemos empresas e mais empresas desempenhando o seu papel social e fazendo uma série de ações e doações em nome do bem comum. Os casos são tantos e estamos todos tão pré-dispostos a conhecê-los que até o Jornal Nacional, tradicionalmente um espaço sem marcas, lançou o quadro Solidariedade S/A para mostrar o empenho do mundo corporativo em combater o vírus.

Para pessoas de fé, como eu, e até para as mais céticas, a sucessão de histórias de compaixão e empatia diante de um momento tão difícil são um indicativo de que podemos sair melhores desta crise. Uma ideia reconfortante e que oferece resposta a quem busca motivo para estarmos passando por uma situação tão inquietante.

Junte-se a isso as notícias da natureza revelando toda a sua força de regeneração: macacos circulam pelo Rio de Janeiro, um puma por Santiago do Chile e peixes e patos voltam aos canais de Veneza. As emissões de monóxido de carbono despencam em níveis impensáveis em tempos “normais” até pelos ecologistas mais otimistas.

Quando todas essas mensagens chegavam a mim de forma quase sincronizada, li uma entrevista com o Mario Sérgio Cortella no jornal Folha de S.Paulo. Nela, o filósofo, educador e escritor, basicamente, explicava que, historicamente falando, o que nos traumatiza não nos redime. Ou seja, talvez essa onda de solidariedade seja momentânea e tenda a ir embora se e quando a pandemia se apaziguar. A frase me atingiu como um desses chacoalhões que recebemos para acordar de um sono profundo em meio a um sonho lindo.

Sei e concordo que, sob pressão, todos temos reações diferentes que podem revelar o nosso melhor ou pior. A mobilização para superar a pandemia tem me surpreendido positivamente por todos os motivos que citei e pela incrível capacidade de adaptação que demonstramos como pessoas, empresas e mercado, a um mundo amplamente digital.

Como sociedade, superamos os receios que ainda tínhamos em relação às compras online e ao trabalho a distância, ampliamos os índices de inclusão bancária digital e encontramos novas (plata)formas de convívio social virtual. No nível pessoal, reencontramos o prazer de coisas simples, dos hobbies caseiros, da união familiar. Reavivamos a tendência do “do it yourself” que os americanos sempre reverenciaram.

Muita coisa vai passar. Certamente, voltaremos a terceirizar boa parte da nossa vida, o que é bom porque fomentaremos novamente empregos hoje em risco e daremos novo impulso à microeconomia, que é uma das grandes forças motrizes do nosso país. Mas acredito que temos lições importantes a guardar desta crise que vivemos hoje e que, se soubermos aproveitá-las no futuro, isso nos ajudará, sim, a evoluir para um mundo e uma sociedade melhor.

A vista da minha janela traz um pôr do sol paulistano estarrecedor, de uma cidade bem menos poluída, com uma sociedade e empresas dispostas a reinventar hábitos e a implementar o conceito de colaboração em ampla escala. Creio profundamente que, em um mundo pós-crise, ainda que algumas boas práticas que adquirimos desapareçam, teremos mais pessoas lutando para garantir que esse horizonte não se dissipe de todo. E só isso já é uma boa notícia em meio a tantos problemas.

*Crédito da foto no topo: Reprodução

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