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Opinião

Ative o raio desmarketizador

Truques marketeiros ainda são capazes de trazer vendas, mas eles têm prazo de validade cada vez mais curto


13 de fevereiro de 2023 - 6h00

o que é marketing 5.0

Imagem: Shutterstock

Você certamente já comprou morangos alguma vez na vida e constatou: as frutinhas vermelhas que estão na fileira de cima da caixinha são sempre maiores que as de baixo. Por que isso acontece? É triste, mas a maioria das pessoas acha que isso é marketing.

Há muitas técnicas para conseguir vender algo. O moço no semáforo do trânsito tenta te convencer a comprar o pano de prato porque ele precisa alimentar a família. A vendedora da loja de sapatos explica que aquela promoção irresistível se encerra hoje! O atendente de telemarketing oferece um serviço especial que está sendo liberado para apenas dez pessoas muito exclusivas. E o algoritmo nas redes sociais te mostra um clareador dental usado pelas celebridades mais desejadas do mundo. É uma “surra diária de gatilhos”.

Qual é a estratégia por trás dessas ofertas? Parece que não interessa, o que importa é usar a técnica mágica de vendas do momento. Aquela que é ensinada no “curso para vender curso”, sabe?

Sou apaixonado por marketing. A gente chama eletrônicos usados de “seminovos”. A gente chama vendedores de colchão vestidos com jalecos de “consultores do sono”. A gente chama um alisamento que dura seis meses de escova “permanente”. E a gente lança o “modelo 2023” de um carro já em fevereiro de 2022. É o puro suco marketeiro passando pela sua timeline todos os dias, freguesia!

Mas um dia, o cliente olha para isso diferente. E se dá conta de que algumas empresas estão vendendo um cálculo que é feito no Excel como se fosse “inteligência artificial”. E que existe um limite muito tênue entre encantar e exagerar.

O movimento do “sem filtro” ganha força, carregado por uma geração de consumidores que aprecia mais a autenticidade do que o “aspiracional irreal”. Uma galera que está cansada do “marketing que parece marketing”, das promoções que vendem pela “metade do dobro” ou das 300 linhas de texto jurídico em fonte tamanho “por favor não me leia” que aparecem por dois milésimos de segundo na propaganda.
Truques marketeiros ainda são capazes de trazer vendas, mas eles têm prazo de validade. E esse prazo está cada vez mais curto.

Você percebe quando um vendedor está lhe atendendo com má vontade? Nota quando ele está sendo falso? Consegue sentir quando um fornecedor está blefando? Seus clientes também percebem isso em sua publicidade. Muitas marcas que falam com o público jovem já entenderam que o jogo mudou e estão se apresentando de forma mais verdadeira, limpa, desinteresseira e humana. Parece um contrassenso expor as suas fraquezas para vender mais, mas esse público prefere relações assim.

O que aconteceria se amanhã surgisse um novo concorrente no seu mercado que chegasse “jogando a real” para os seus clientes? E se ele começasse a admitir seus erros e se mostrar como uma opção diferente? Cuidado. Esse risco é maior do que você imagina.

Cada marca tem os seus posicionamentos, limitações e escolhas. Mas existe uma multidão de consumidores que certamente gostariam de aplicar um “raio desmarketizador” nas comunicações que vêm por aí.

Ao invés de esconder os morangos pequenos na fileira de baixo da caixinha, que tal falar sobre eles? Talvez eles sejam os mais gostosos, aliás. E podem se tornar os preferidos de muitos clientes.
Desmarketize-se. Esse é o novo marketing.

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