Covid-19 by design
A pergunta que está nas cabeças que mais respeito é uma só: como a humanidade vai sair depois desta experiência?
A pergunta que está nas cabeças que mais respeito é uma só: como a humanidade vai sair depois desta experiência?
A esta altura de um campeonato que estamos perdendo, todo mundo já leu, assistiu e ouviu de tudo sobre a Covid-19: das teorias da conspiração sem pé nem cabeça a estudos muito fundamentados, como o do Imperial College de Londres. E estamos longe de nos livrar de mais informação.
Muitas dessas informações geram efeitos colaterais diferentes nas pessoas. Algumas entram em pânico, outras se sentem mais confortáveis sabendo mais; têm aqueles que preferem parar, desligam a TV e o WhatsApp e voltam-se para dentro. Não tem certo nem errado.
Eu gosto de saber. Sempre li muito, sobre vários temas, e me considero um curioso de nascença. Nestes últimos 17 dias em que estou confinado — como todos deveriam estar —, descobri fontes interessantes de informação, saí de vários grupos de WhatsApp e entrei em pouquíssimos; liguei, e já desliguei a TV, e tentei criar uma rede com pessoas que considero bem informadas. Faço Zoom ou HouseParty todos os dias à noite com dois ou três grupos diferentes e diversos, e me alimento da inteligência e opinião alheia. Algumas, são bem informadas, porém, insensatas, pendendo para um lado ou outro nesse eterno Fla-Flu que virou o Brasil. Outras, com leituras interessantes sobre os acontecimentos e análises inteligentes dos fatos. E muitas, completamente desnecessárias.
Mas tem uma coisa que me chamou a atenção em diversos textos, vídeos e áudios que consumi: essa confusão era esperada. A Covid-19 estava ali, quase pronta, só esperando uma brecha. Essa pandemia não veio por acaso.
Estamos vivendo um caos social, financeiro e ético anunciado. E não estou falando de gurus financeiros caóticos ou malucos-beleza do momento. Estou falando de gente muito inteligente, com poder financeiro e político para influenciar líderes e gestores. Cientistas, empresários e até políticos. Pessoas como Bill Gates e Al Gore, por exemplo.
E por quê? Por que tanta gente que sabia do perigo de uma nova pandemia global, conhecia os possíveis riscos e estudou o tema a fundo, não foi ouvida? Como os líderes ignoraram tanta informação por tanto tempo e não fizeram nada para nos preparar para essa confusão? Não tenho respostas concretas, mas tenho alguns chutes.
O primeiro é que esse assunto não dá audiência, não dá trending topics nem likes adoidado. Quem morre de véspera é peru, como diz o ditado. Então, quem quer saber o que vai acontecer, quando, e se a próxima epidemia chegar? Quase ninguém. Estamos preocupados com a Bolsa de Valores de hoje, a vacina da gripe na semana que vem e o próximo paredão do BBB.
O segundo é que prevenção não dá voto. Imaginem os últimos candidatos às presidências por aí com uma plataforma de campanha dizendo que vão investir zilhões de dinheiro em prevenção às pandemias? Metade dos eleitores não vai entender, a outra metade vai achar que tem coisa aí e os adversários vão usar isso como tréplica de debate. Em eleição vale a segurança da família, a escola das crianças e a saúde para fazer exames. E obras. Estádios, pontes, metrô e, talvez, alguns hospitais. E isso não é só no Brasil.
E por fim, pelo simples motivo de que a humanidade é cética, prática e imediatista. Não acreditamos nos filmes de Hollywood, na palestra do Bill Gates, nas notícias sobre ebola, Sars ou gripe asiática, na série Explained, no The New York Times ou na Superinteressante. “Isso é coisa de mídia sensacionalista”; “Os médicos das universidades americanas estão estudando isso”. “Nossa, que gente pessimista!”; “O mundo está muito melhor hoje, com a internet, do que na idade média”. Ou, um simples “isso nunca vai acontecer”. Somos o resultado das nossas próprias ansiedades e não queremos enxergar o que está a um palmo à frente, mas, como a história mostra, vamos passar por isso mais uma vez.
A pergunta que está nas cabeças que mais respeito é uma só: como a humanidade vai sair depois desta experiência? Ninguém sabe ao certo. Muitos estudam o passado e outros fazem futurologia. Estou em casa, lavando as mãos e me perguntando todos os dias como vou sair de tudo isso.
*Crédito da foto no topo: Mfto/iStock
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