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Opinião

Emergência climática e crise humanitária exigem comunicação comprometida

A Comunicação profissional tem, como sempre, um importante papel a cumprir para ajudar nessa travessia


21 de novembro de 2023 - 8h00

O planeta enfrenta sérios desafios, de ordem climática, humanitária, política, econômica e social. No contexto atual, a desinformação, a intolerância, o ódio, o preconceito e a descrença nas instituições são fatores que agravam ainda mais a sensação de insegurança e as preocupações em relação ao futuro.

Os processos excludentes, presentes nas dinâmicas da sociedade, seguem demandando o direcionamento de políticas públicas e a atenção de instituições sociais e empresas comprometidas com o desenvolvimento humano. O aprofundamento das desigualdades vem ocorrendo na mesma proporção e velocidade em que surgem novas tecnologias.

Universalizar o acesso a uma educação de qualidade se impõe como dever urgente do Estado e de toda a sociedade, se quisermos evitar o aprofundamento sistemático do abismo já existente. A informação faz a diferença. O conhecimento emancipa. Mas é a comunicação profissional que tem o potencial de criar cultura e de engajar para transformar.

Numa visão solidária, mas que é também estratégica, a exclusão não é uma boa coisa para ninguém. Menos ainda para os negócios e os empregadores do futuro próximo. Para quem as empresas vão vender os seus produtos e serviços? Quem vai conseguir encontrar mão-de-obra qualificada para lidar com as inovações tecnológicas e sistemas inteligentes capazes de tornar sua organização mais competitiva?

No Relatório de Comércio e Desenvolvimento 2023, a UNCTAD aponta, dentre outras recomendações, que todos os países devem dar prioridade a políticas de redução da desigualdade e de aumento real dos salários, “com compromissos concretos no sentido de uma proteção social abrangente”. A economia global, com todas as contradições impostas pelo regime de acumulação e a necessidade de evoluir para lógicas sustentáveis, está hoje numa encruzilhada. Alguma reorientação profunda no modelo deve surgir mais cedo ou mais tarde.

No mesmo barco

Não faz muito tempo que “caiu a ficha” de que estamos, na real e literalmente, no mesmo barco. A questão que se impõe agora é: quem está no comando? Num cenário de contingências, desastres naturais, guerras e crise de confiança (deepfakes), as organizações, públicas e privadas, precisam assumir a postura e a função do comandante, responsável por conduzir, com conforto e segurança, cada um dos seus passageiros e tripulantes até o destino desejado. Vale lembrar que a liderança se exerce com o exemplo. É assim, também, que se conquista credibilidade.

A Comunicação profissional tem, como sempre, um importante papel a cumprir para ajudar nessa travessia. A diferença, agora, é que as condições meteorológicas estão, no sentido figurado e literalmente, se alterando mais rápido e com mais frequência do que em outras épocas. O cenário não é outro senão o de crise permanente. Vale para o clima, para a economia, para a política e para as dinâmicas sociais.

As pessoas estão, certamente, mais críticas, exigentes e em busca de respostas para questões imediatas e problemas concretos. A tendência é que, cada vez mais, a sociedade demande das organizações públicas e privadas iniciativas que gerem impactos positivos na sociedade e no ambiente natural. Discurso e prática devem andar de mãos dadas. Quem não estiver fazendo a sua parte, pode ter que pagar o preço, seja com um corriqueiro, mas ainda assim indesejável, “cancelamento” nas redes sociais ou, ainda pior, com a ruína da reputação e do próprio negócio.

Comunicação de causa permanente

Neste novo cenário, há uma oportunidade e, podemos pensar, também um dever a cargo das agências de Comunicação: ajudar os clientes a contribuir com melhores condições de vida no planeta. Essa será uma importante chave para construir imagem e gerenciar reputação, sem prejuízo de outras estratégias de marketing que possam ser simultaneamente adotadas. Independentemente do porte, da natureza jurídica e da sua atividade fim, cada organização, para sobreviver e se manter relevante daqui para frente, vai precisar, também, se converter em agente ativo e comprometido com o desenvolvimento humano e a promoção da vida, em todas as suas dimensões e aspectos.

A “Comunicação de Causa” ganha relevância a ponto de se tornar permanente no planejamento estratégico das organizações, incluindo no das próprias agências. Na arena pública, como numa espécie de sala de situação instalada num contexto de crise continuada, cada ator relevante será também o representante de uma ou mais causas, sociais, ambientais ou humanitárias, instado a opinar e a contribuir com a tomada de decisões coletivas.

Quem não estiver nesse lugar e nem assumir esse posicionamento de liderança, não será visto e nem considerado nos top of minds do futuro próximo. Sua opinião, marca ou produto podem se tornar menos relevantes, ou até serem alvos de boicote, perante os juízos e bolsos dos diferentes públicos e mercados.

Times Multidisciplinares

O feeling e a capacidade de definir as estratégias mais adequadas para engajar os públicos continua, obviamente, sendo o diferencial no trabalho das agências de Comunicação. Estão sendo exigidos, no entanto, novos conhecimentos e abordagens, planos de ação integrados, multidisciplinares e transversais, além da capacidade de economizar recursos e maximizar esforços a partir da identificação de convergências no interior dos ecossistemas corporativos. Tudo isso para produzir impactos positivos reais na comunidade, no município, no país e no planeta.

Além de se abrirem para a diversidade na composição de suas equipes, as agências vão precisar contar com profissionais de diferentes áreas do conhecimento. Só assim, com times plurais, saberes distintos e complementares, vão poder entregar e executar o melhor plano possível para gerar resultados positivos do ponto de vista socioeconômico, ambiental e, consequentemente, de reputação e imagem. A Comunicação é o que nos une como espécie e como sociedade. É por meio dela que nos reconhecemos no outro.

Tudo o que compromete a vida na Terra e o desenvolvimento das pessoas atenta contra a humanidade e contra a própria Comunicação, que é essencialmente humana. Mais do que nunca, o planeta requer de cada um de nós empatia, engajamento em causas coletivas, atitudes proativas e concretas em benefício de todos. Não importa se somos agências, clientes, autoridades, consumidores, usuários ou cidadãos: nossos destinos estão interligados, queiramos ou não. Independe, inclusive, das nossas crenças. É fato.

Já passou da hora de levarmos nossas crises e emergências planetárias efetivamente a sério, seja cobrando, propondo ou implementando ações concretas, em consonância com as políticas públicas de Estado, para diminuir as desigualdades. A Comunicação pode ser decisiva para uma reação em cadeia de engajamento por mudanças. Nossas reputações e, ainda mais importante, o que nos resta de humanidade, dependem do nosso empenho em fazer o melhor por nós mesmos.

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