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Opinião

Falta de liderança para mudança (em 2 atos)

Ou se muda o jeito de liderar ou se muda os líderes ou não se muda nada


22 de novembro de 2016 - 10h00

Foto: Reprodução

Foto: Reprodução

Acho que ninguém mais tem dúvida de que é preciso mudar. E nem de que se trata agora de uma mudança diferente. Que é resultado de ciclos contínuos e mais curtos de mudança. Seja na forma como as pessoas enxergam o mundo, as marcas ou as relações com o trabalho.

Só que a mudança verdadeira só vai acontecer se tivermos lideranças inspiradoras e sensíveis para entender que, a despeito de tudo, nada é tão importante nesse processo como pessoas. As mesmas pessoas que são fatores estruturantes para a transformação acontecer, são, na mesma medida, fatores paralisantes que impedem qualquer transformação de ir para frente.

Ato 1: O líder que não serve, não serve pra nada.

Outro dia defendi essa tese numa apresentação. E acredito verdadeiramente nela. Por mais que olhares desencantados por hora me fulminem, acredito nisso. Fazer o quê?

É mais fácil se falar de crise de talento. É mais fácil usar de muleta a tal ausência de automotivação. Ou disfarçar a incapacidade de reter gente legal, na tal inquietude que essa gente legal tem, de não saber o que quer: “Que vá ser infeliz em outro lugar.”

Mas a verdade é que a falta de liderança para mudança é um dos grandes dilemas silenciosos das organizações. As pessoas seguem os líderes por elas e não por eles. E se o líder não muda, nada muda. Liderança é sobretudo exemplo. E mais do que cobrar a mudança, é ser em cada atitude um pouco do que ela significa.

O líder trabalha para sua equipe. E não o contrário. Aliás, o líder que não trabalha mais do que sua equipe, não serve. Sei que isso é anticlímax. Que magoa um pouco. Que é menos glamouroso. Mas chega a ser patético nos dias de hoje imaginar ser possível ter o melhor de alguém, sendo, simplesmente, chefe.

Se o líder não servir para entender isso, não vai servir rigorosamente para nada

Ato 2: “Eu que mando. Se já falei que é para mudar, por que (raios) as coisas não mudam?”

Muito se busca a resposta nos bestsellers de administração. Ou nos cursos de prateleira e seus slides cheios de clipart e fotos de astronautas e grandes estadistas da história.

Eu tenho uma tese mais singela, que vem de Guaxupé, na frase cheia de sabedoria da saudosa Dona Tulica, avó de um grande amigo meu. “Confiança é como uma jarrinha de porcelana. Se quebrar, você pode até colar. Mas nunca mais vai poder colocar leite quente dentro.”

De verdade, lá no íntimo, as pessoas só mudam genuinamente por elas próprias. E isso passa por desarmar os efeitos paralisantes da mudança. Aqueles que nem quilos de e-mails, horas de discursos e toda racionalidade do mundo conseguem desarmar.

A mudança antes de ser funcional é emocional. E trava na insegurança que é alimentada pela falta de confiança. Em si próprio. Nas intenções do outro. Ou no efeito que vai causar.

Se o líder da mudança não gera confiança, a mudança não acontece. Esquece. Ele vai tentar na frieza da racionalidade. Vai tentar de novo sendo morno. Mas quando ele for quente como toda mudança pede, a jarrinha não vai aguentar.

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