IA: desespero por redução de custos x conhecimento de benefícios

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Opinião

IA: desespero por redução de custos x conhecimento de benefícios

Não é preciso alarmes e desesperos, mas há um fenômeno absurdo, que preocupa: a explosão do número de gurus que dão palpites com o "chutômetro" ligado


9 de maio de 2024 - 14h00

A inteligência artificial (IA) existe há, pelo menos, 80 anos, com as redes neurais. O nome IA apareceu na década de 1950. Na prática, você convive com inteligência artificial desde o nascimento, só não tinha se dado conta. Sempre que a máquina consegue processar dados como se fosse um ser humano, isso é IA. Sabe aquela central telefônica insuportável, do tipo “aperte o 2 se quiser X, aperte o 3 se preferir Y”? É inteligência artificial. E aqueles bots chatos em WhatsApp que ficam respondendo automaticamente quando você quer um atendente humano? Também é IA.

Enfim, a novidade dos últimos 18 meses é a IA generativa (IAGen), desde o lançamento para o grande público do ChatGPT. Depois disso, uma série de ferramentas, lançadas pelos principais players, apareceram nas telas do dia a dia. E, claro, esse fenômeno só vai crescer, com máquinas substituindo humanos em tarefas em que isso pode acontecer. Na revolução industrial aconteceu a mesma coisa. Não é preciso alarmes e desesperos, mas há um fenômeno absurdo, que preocupa: a explosão do número de gurus que dão palpites com o “chutômetro” ligado, experts do apocalipse e da saída genial, como se tivessem um processador de IAGen no cérebro. Calma, pessoal. Muita calma. O quadro muda todos os dias, é humanamente impossível sair profetizando isso ou aquilo.

Há poucas verdades inquestionáveis no mundo do avanço da IA:

As máquinas vão substituir humanos em trabalhos burocráticos, que não necessitem criatividade e rapidez de decisão. Isso é muito positivo, afinal nada mais deprimente do que ficar carimbando papéis a vida inteira, sem pensar, sem exercitar a mente;
Se por um lado causará desemprego, por outro possibilitará que mais gente se dedique a novos negócios, utilizando o cérebro para atividades mais inovadoras;
A inteligência humana será cada vez mais necessária. É o grande diferencial entre os que veem a vida passar pela janela e os que vibram com cada passo para a frente.

Ainda que os gurus sejam pessimistas e recomendem, em geral, que executivos apostem tudo na automatização de processos, é preciso muita sabedoria na arte de fazer as máquinas trabalharem no lugar de um humano. Ou reforçar a necessidade de investir em sabedoria humana – algo que a IAGen não alcança, nem alcançará.

No mundo das empresas de comunicação, onde 99% faturam menos do que há dez anos, a IAGen está sendo comemorada. Mas não como uma forma de facilitar o trabalho de redação, de vendas, de distribuição, e sim como uma artimanha para reduzir custos fixos (leia-se corte de cabeças). Os executivos estão pressionando o pessoal de tecnologia para que surjam fórmulas mágicas de produção de textos via IAGen, por exemplo. E aí é onde mora o perigo:

  1. Começou uma prática de roubo de conteúdo extremamente desonesto. O site bebe.com.br (Editora Abril), por exemplo, publicou mais de 300 textos com assinatura da repórter Vanessa Tavares em apenas 25 dias, no início do ano. Todos cópias descaradas do UOL, da Folha de S. Paulo, de O Globo, da revista Crescer e da BBC, conforme matéria de Pedro S. Teixeira no UOL. Detalhe: Vanessa sequer existe;
  2. Apareceu outra forma de roubar conteúdo: através de traduções de sites de outros países, com ferramentas que buscam conteúdos de determinados produtos e palavras-chave. Aí há um passo a mais, a tradução, que via de regra fica devendo. Para agilizar, publica-se rapidamente. E aparecem textos errados, mal traduzidos, fora de contexto. Vale pelo volume, para quem acredita na absurda teoria de que é essa a moeda corrente (gurus dando palpites furados de novo…);
  3. A pressa por resultados faz com que se demita profissionais antes de se medir resultados pela utilização da IAGen. Ou seja, compromete-se os processos acreditando que tudo vai dar certo, mas não é bem assim.

Um dos problemas é a infinidade de experts receitando uso indiscriminado de IA como substituto de força humana. Não, não pode ser assim. O jornalismo é uma profissão criativa, o talento é o que diferencia um meio de outro. A IAGen não consegue chegar ao ponto de criatividade necessária para substituir talentos. Apesar do desespero dos executivos e das profecias dos gurus.

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