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Opinião

Não dá para ser um chefe “gente boa”

Pelo menos não no sentido antigo desse termo, ao qual as novas gerações conferiram novos significados


3 de maio de 2023 - 6h00

Dá pra ter um time comprometido, mas você precisa ser empático, colaborativo, flexível, leve e justo. (Crédito: Divulgação)

Dia desses estava aqui observando e fiz um comparativo entre o que foi ser estagiário ou começar uma carreira em propaganda na minha época e hoje em dia.

Falamos tanto dos arroubos da geração Z, a famosa geração “mimimi” – que é pouco comprometida, que quer tudo na hora, que não respeita o tempo – que não prestamos atenção na evolução que esses garotos trouxeram para o mercado. Eu pelo menos, encaro assim.

Era surreal o tamanho do ego até dos estagiários dentro de uma agência. E você era treinado pra virar um egocêntrico louco à medida que fosse subindo na carreira.

Praticamente tínhamos quase que implorar pra conseguir uma vaga na maioria das vezes, sem salário nenhum, o que obviamente elitizava o ambiente e afunilava quem não tinha condições de entrar numa boa agência – e era quase um certificado de “comprometimento” ficar até mais tarde, refazendo layouts ou escrevendo infindáveis listas de títulos. Virar uma noite significava um atestado de que você estava “trilhando o caminho certo”. Sair às 6 da tarde? Piada. Todo mundo ia te olhar torto.

Era também necessário entrar num certo padrão estético e de assunto pra poder se enturmar. Descobrir antes de todo mundo qual a tendência mais “descoladinha” ou qual o ilustrador que estava fazendo mais sucesso em Nova York pra ter o mínimo de atenção e assunto com as pessoas.

Acolhimento? Oi? Que palavra era essa? Isso não existia em dicionário de publicitário.
Muitos DCs achavam que estavam num quartel. E isso, pra mim, não foi uma analogia. Certa vez, cheguei a uma agência e no primeiro dia de estágio, o Diretor de Criação me fala: “Isso aqui é um quartel e você é o soldado raso. Vai ter que aguentar o tranco pra subir de patente”.

Isso era normal, não foi só comigo. Os ataques egocêntricos, as humilhações, a competitividade tóxica eram práticas usuais no mercado. E o que é pior, isso se perpetuava de um jeito quase que inconsciente. Você começava a achar que estava “chegando lá” quando começava a repetir esse comportamento com alguém. Era sinônimo de status.

Até que veio essa turma. Que não é tão alucinada assim por agências. Que não quer entrar e questiona os métodos da indústria. Que encara o trabalho na medida do que ele é: um trabalho. Que é multitarefa, que tem naturalmente um olhar mais diverso, que valoriza o fato de experimentar e se lançar ao novo. Sim, também são mais ansiosos, imediatistas, mais “politicamente corretos”. Mas toda geração tem seus códigos de ruptura não é mesmo?

Eles não aceitam determinadas coisas, comentários, comportamentos que a minha geração aguentou pra chegar lá. Mas entendo que era o código daquele tempo e esse código, atualmente, não faz mais sentido. Assim como a propaganda, que antes era unilateral, hoje é feita colaborativamente e que muitas vezes acontece da parte do consumidor e a agência simplesmente pega carona.

Com eles, estou aprendendo que dá sim pra ser um chefe gente boa. E isso não significa brincar além da conta ou fazer piadas. Significa que dá pra ser legal e acolhedor, olhar o trabalho do outro com inteligência emocional. Respeitar o tempo e o histórico de cada um (e isso só agrega). Entender que o trabalho é um pedaço da vida das pessoas e que elas são bem mais que isso. E é isso que faz com que a entrega de cada um seja diferente, única e que agregue mais ao trabalho todo. A diferença faz a diferença. E fazer diferente está mudando tudo.

Dá pra ser assertivo. Dá pra puxar o melhor da equipe. Dá pra ter um time comprometido. Mas hoje em dia pra isso você precisa ser empático, colaborativo, flexível, leve e justo. Ou seja, não dá pra ser eventualmente o que antes era chamado de um “chefe gente boa”. Se você quiser ter uma equipe que realmente entregue, você tem que ser um chefe gente boa.

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