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O letramento na comunicação

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Opinião

O letramento na comunicação

Como entender o cenário é imprescindível na era da economia da atenção


17 de outubro de 2024 - 14h00

“Uma riqueza de informações cria uma pobreza de atenção”. É com essa simplicidade, desprovida de rodeios e obstáculos, que o Prêmio Nobel de Economia de 1978, Herbert Simon, explicou o que ele entendia como economia da atenção. De lá para cá, a expressão cunhada por Simon, que, além de economista, é psicólogo e cientista político, ganhou tração no universo da comunicação, principalmente depois que o computador virou Personal Computer e tomou conta de mesas de trabalho e lares do mundo simultaneamente.

Em tempo, a economia de atenção pode ser entendida como a atenção das pessoas vista como mercadoria. E, portanto, podendo ser capitalizada.

No andar dessa sinergia casa-trabalho, houve o desembarque das redes sociais, tímidas inicialmente, mas que insinuavam potencial, uma vez que ICQs, messengers e e-mails já davam o tom de que a localização não era mais um obstáculo. Ou seja, uma vez plugado na rede mundial de computadores, qualquer um poderia ser encontrado a qualquer tempo.

Corte temporal feito, é hora de olhar para o agora. E o agora nos aponta que há 5 bilhões de usuários de mídias sociais. Quem atesta? O Digital 2024 Global Overview Report,

publicado em parceria pelo We Are Social e Meltwater, além de uma série de colaboradores.

Mas o que significa 5 bilhões de usuários? Significa que perto de 62% da população mundial, estimada em pouco mais de 8 bilhões, está imersa nas redes sociais. E pouco mais de 66% lançam mão da internet, o que se configura num exército de mais de 5,3 bilhões de seres humanos.

No Brasil, a distância em relação à média existe somente na casa decimal. Porque os números desse levantamento atestam que 66,3% da população brasileira se faz presente nas redes sociais.

Esse retrato já seria suficiente para dar o peso à economia da atenção. Mas há mais. O mesmo levantamento joga luz em direção ao tempo gasto pelos cidadãos do mundo na internet. Aí, o Brasil comanda. Perde apenas para África do Sul, que despende 9 horas e 24 minutos, contra as 9h e 13 minutos dos brasileiros.

Muito embora os números já sejam robustos, quando se pretende estabelecer o diálogo entre economia da atenção e comunicação há requisitos à mesa. Porque o que suporta essa amarração é a união de dogmas comunicacionais, por assim dizer, com os fundamentos da economia da atenção. Dogmas, a saber, sem hierarquizar: mensagem-chave, público-alvo, comunidades relacionadas e veículos de comunicação. E os fundamentos: tempo de retenção, de visualização e de engajamento.

Só que tem um detalhe nisso tudo: o público está cada vez mais distraído. E, em boa medida, apático, diante do bombardeio informacional no qual é submetido, decorrente também da economia da atenção. (Em tempo, há uma boa teoria crítica da comunicação para isso, inclusive, chamada Teoria da Saturação Comunicacional, que gera um sistema não-comunicacional.)

Há remédio? Talvez, talvez… Essa “medicação” se baseia numa panaceia gramatical: cenário, que estabelece uma única condição. Qual seja? Leitura.

Só que o cenário, que pode ser entendido também como framework, não joga sozinho. Ele demanda elementos que vão preencher essa área delimitada, que vai impulsionar a economia da atenção em direção ao movimento que se pretende fazer. E é justamente aí que a “leitura” se torna imprescindível.

Porque não é um ato de preenchimento do espaço vazio. É um movimento artesanal de se alinhavar dogmas e fundamentos. Não é uma operação industrial, automatizada. Bem longe disso, uma vez que requer expertise, experiência e saber-fazer.

Em outras palavras, um framework desprovido da correta leitura de cenário é um carro desgovernado descendo a ladeira. Em algum momento, pode até se ter a sensação de que está funcionando, mas invariavelmente o fim costuma ser trágico. A saber: um caos comunicacional que ou atinge a imagem pessoal, a imagem jurídica, a reputação, o lastro ou simplesmente tudo ao mesmo tempo. É uma explosão midiática, que se inicia numa implosão de pontos comunicacionais, fomentando desorganizadamente a economia da atenção daquele movimento.

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