O mundo está precisando de uma dose de Brasil
Quando o mundo nos percebe, nos vê, vem o sentimento de orgulho e amor-próprio, mas não deveríamos precisar da validação externa para perceber o nosso poder
O mundo está precisando de uma dose de Brasil
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Não tem lugar melhor do que o Brasil. Com todas as suas dificuldades e desafios, nós temos um povo forte, paixão, braços abertos e uma fonte inesgotável de criatividade. Ando sem tempo algum para a síndrome de vira-lata que sempre nos acompanhou e que está mais do que na hora de nos deixar. Vendemos barato nosso talento, não acreditamos no poder da nossa gente e não elevamos a nossa cultura, que é plural, poderosa e única.
Quando o mundo nos percebe, nos vê, vem o sentimento de orgulho e amor-próprio ao qual eu espero que a gente se agarre e não largue, porque, apesar de ser extremamente agradável, não deveríamos precisar da validação externa para perceber o nosso poder. De tudo o que a Lady Gaga disse para as muito mais de 2,1 milhões de pessoas que a assistiram, o que mais me acendeu foi “Quero que o mundo veja o quão grande é o coração de vocês e que se inspire no seu espírito”. O mundo está precisando de uma dose de Brasil mais do que nunca e não podemos perder esse momento.
Conversando com um amigo, ele me fez perceber que, depois de muito tempo, estamos com a sensação de que o “Brasil voltou a ganhar”: a nossa performance na Olimpíada, o Brasil Core, os click baits para engajar brasileiro nos conteúdos, a Fernanda Torres e Ainda Estou Aqui no Oscar, a Beyoncé colocando funk na nova turnê do Cowboy Carter, a Doechii dizendo que a primeira coisa na sua lista de objetivos é um dia perfeito no Brasil, 2024 foi o nosso melhor ano da história do turismo internacional, a Courtney Henning fazendo com que Machado de Assis virasse um dos escritores mais vendidos dos tempos atuais, a Cate Blanchett descobrindo Clarice Lispector, o TikTok e o YouTube levando o Brasil para o mundo por meio de músicas, trends, reviews, reacts, challenges, memes e coloca aí qualquer formato de conteúdo que você conhecer.
Não existe um artista que não queira sentir a energia do público brasileiro e, ao que tudo indica, criamos o novo Super Bowl do mundo, um formato que logo logo vai virar a maior conquista e chancela de sucesso global de um artista. Lendo um texto do Felipe Kino (@felipe.kino), ele descreveu muito bem essa percepção quando aponta que Lady Gaga já fez um Super Bowl e performou para mais de cem milhões de pessoas no mundo, com tudo bem-produzido e cada segundo valendo milhões, mas o que ela viveu no Rio de Janeiro foi diferente, porque foi uma consagração popular e que “Talvez o novo auge da cultura pop não seja um palco, não seja um estádio de futebol americano. Seja um território. E esse território tem nome: Brasil”.
Este ano, no Festival Internacional de Criatividade de Cannes, o Brasil será o primeiro país a ser reconhecido como Creative Country of the Year, e os nossos profissionais se espalham pelo mundo em posições de liderança, com um histórico incrível de construção de marcas e campanhas icônicas. Eu, que já morei nos Estado Unidos, Itália e Inglaterra e, há dez anos, trabalho com pessoas de diversos países, construindo marcas para diferentes territórios, como China, Japão, Estados Unidos, Europa e, agora, América Latina, posso dizer que não há nada como o Brasil e o brasileiro. Somos intuitivamente criativos e extremamente adaptáveis. Quando vemos um problema, diferentemente da maioria que fica estagnada, a gente segue adiante porque sabe que existem formas de contornar, de resolver. Nosso otimismo que vem de fábrica é algo pouco compreendido e uma ferramenta muito poderosa para cativar e engajar pessoas. Sabemos entreter e receber como ninguém, gostamos que todos se sintam em casa e, quando olhamos para o atual momento no mundo, essa é uma atitude que está cada vez mais escassa.
Essa exaltação não ignora o tamanho dos nossos problemas e falta de estrutura, mas acredito que também podemos entender que somos uma potência cultural com uma capacidade de fomento econômico que tem, sim, um papel fundamental na nossa estrutura. Sabemos que existe um projeto de desvalorização da cultura, criando-se uma falsa ideia de que essa é uma área de menor valor para a sociedade, supérflua, com defensores do fim do seu fomento e investimento. Porém, veja só, para os que pensam assim, mas exaltam as políticas norte-americanas, dou um dado: nos EUA, a indústria de cinema e televisão de Hollywood é um negócio massivo, gerando bilhões de dólares em receita e sustentando milhões de empregos. A receita de bilheteria apenas nos EUA e Canadá foi de cerca de US$ 8,56 bilhões em 2024. E estamos falando de um país que não tem um sistema de saúde pública gratuita.
A publicidade já tem um papel importante na viabilização de produções culturais, de audiovisual, eventos, e um olhar mais profundo para isso pode contribuir para uma indústria muito mais forte e lucrativa. Em 2024, os investimentos em publicidade no Brasil movimentaram R$ 26,3 bilhões (segundo o Cenp-Meios). A reflexão que me vem é quanto do investimento olha para o País e como gerar mais dinheiro para nós mesmos? A pergunta que é repetida à exaustão: em qual bolso você está escolhendo colocar o dinheiro da sua marca? Sem romantismo, sem devaneios, estamos falando de criar formatos que incentivam a economia local. O (prefeito) Eduardo Paes criou um projeto cultural para fomentar investimento no Rio de Janeiro e várias marcas se associaram para terem exposição e criarem experiências, o que é a lógica primária do patrocínio. Como essa conta fecha no verde para além do valor gerado com exposição de mídia e o impacto gerado durante o período do evento? Quais outros projetos podem se inspirar nesse e criar novos modelos que fomentem toda uma rede de pessoas, talentos e comércio? Como podemos olhar para o papel da publicidade além das métricas óbvias que sabemos já não serem suficientes para definir o crescimento do negócio?
Temos poder criativo, investimento, talentos, audiência engajada e uma vasta riqueza de recursos e referências. Agora, temos o melhor momento, para dentro e para fora do País. Vamos mostrar ao mundo o que a gente quer dizer quando fala “Come to Brazil”.
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