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Opinião

Partidos sociais

A vigilância digital das massas vai gerar mais transparência, alinhamento entre os três poderes e o povo, menos corporativismo/populismo, surgimento de novos líderes e criação de uma agenda positiva que realmente olhe adiante de um simples mandato


15 de dezembro de 2016 - 10h13

Foto: Reprodução

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A maioria dos partidos adoram utilizar a palavra “social” em seus nomes, mas, como nós todos bem sabemos, de sociais é que esses partidos não têm nada. Cada um deles olha para seus próprios umbigos, defendendo com unhas e dentes seus interesses corporativos.

Mas, o termo social a que aqui me refiro nada tem a ver com o social subentendido nas siglas dos partidos. Me refiro ao social relativo às redes sociais. A internet e as redes sociais, com seus influenciadores que surgem e desaparecem com a velocidade de um raio, estão atraindo para seu ambiente atividades tradicionais como vendas, marketing, propaganda, funding, desenvolvimento de novos produtos, etc.

Porém, uma atividade óbvia, como a dos partidos políticos, está demorando muito a fazer sua migração. Não me refiro aos partidos terem uma URL, ou uma fan page no FB, ou até um branded channel no YT; isso a maioria já tem, mas como simples ações de marketing. Me refiro aos partidos efetivamente migrarem, para atuar primordialmente na Internet, visando propalar suas ideologias e angariar novos adeptos e eleitores.

Imaginem que os movimentos “Vem pra Rua” (VPR), ou “Movimento Brasil Livre”(MBL) resolvam se transformar em partidos políticos. Seria apenas uma questão de registro no TSE, porque na realidade eles já atuam como partidos políticos: têm ideologias claramente estabelecidas, muitos milhares de seguidores e um engajamento que vai muito além de qualquer partido político da ativa. Um MBL da vida se virasse PMBL, angariaria instantaneamente milhões de eleitores e seria um partido fortíssimo em qualquer eleição nacional. E eu pergunto: será que o Kim Kataguiri (MBL) ou o Rodrigo Chequer (VPR) já não estão pensando nisso?

Porém, uma atividade óbvia, como a dos partidos políticos, está demorando muito a fazer sua migração. Não me refiro aos partidos terem uma URL, ou uma fan page no FB, ou até um branded channel no YT; isso a maioria já tem, mas como simples ações de marketing

Na verdade, o MBL já lançou candidatos a vereador nas eleições 2016 em 38 cidades! Só que esses movimentos para elegerem seus candidatos ainda dependem de partidos de aluguel, com registros no TSE. Logo concluirão que são mais fortes que as siglas de aluguel e partirão para partidos próprios. O próprio TSE os empurra nessa direção quando restringe o discurso político dos movimentos de rua.

Isso tudo nos leva a concluir que teremos muitas novidades no âmbito de “web politics” até 2018. Entre muitas tendências prováveis, eu antecipo algumas:
– O surgimento de novas lideranças políticas advindas da Internet.
– Movimentos sociais se transformando em partidos políticos, ou se fundindo num já existente.
– Os partidos tradicionais correndo atrás do prejuízo e buscando desenvolver uma estratégia de engajamento de eleitores/internautas, que transcenda as campanhas eleitorais.
– Os três poderes cada vez mais reféns da pressão advinda da Internet. O STF demoveu Renan Calheiros de seu cargo de presidente do Senado, não concidentemente no dia seguinte às manifestações nacionais que o tiveram como alvo.
– Os blogueiros de política se tornarão mais relevantes que os próprios articulistas da mídia tradicional.
– O próximo presidente da república será uma surpresa, alguém obviamente já relevante, mas que ainda não aparece nos “periscópios políticos” da mídia; alguém que já começou a se articular digitalmente para 2018 (Dória talvez?). Esse palpite pode queimar minha língua, mas eu arrisco!

E quais as implicações mais abrangentes de tudo isso? Eu só vejo coisas boas. A vigilância digital das massas inevitavelmente vai gerar mais transparência, mais alinhamento entre os três poderes e o povo, menos corporativismo/populismo, o surgimento de novos líderes e a criação de uma agenda positiva que realmente olhe adiante de um simples mandato.

Por outro lado, tudo tem seu contraponto. O Trump e o Brexit também refletem a pressão digital sobre os políticos e nem sempre o povo está certo. Mas, no frigir dos ovos, os erros e os acertos cometidos pelos políticos terão cada vez mais a impressão digital do público. E isso não é ruim, muito pelo contrário, é ótimo. Afinal, só se aprende vivendo.

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