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Do Ne Zha ao Labubu

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Opinião

Do Ne Zha ao Labubu

Você está preparado para a onda asiática?


16 de junho de 2025 - 14h00

Por muito tempo, o Ocidente contou apenas uma história: a de que cultura, tecnologia, inovação e desejo nasciam em lugares como Nova York, Paris, Londres, e que o resto do mundo era apenas consumidor. A Ásia era considerada apenas uma potência industrial, com pouco poder de influência tecnológica, cultural e criativa. Isso fez com que boa parte das pessoas fechasse os olhos para o que acontecia do outro lado do mundo.

Essa realidade mudou: o globo se tornou multipolar, com potências culturais e econômicas emergindo fora do eixo tradicional. A Ásia não é mais somente o grande mercado consumidor do mundo — agora é a grande protagonista. A cultura asiática vem redefinindo hábitos e tendências de consumo por todas as regiões do planeta.

A nova “diáspora asiática” é rica, diversa e, principalmente, viral. A narrativa envolvente, a valorização do detalhe, a estética cuidadosa e o senso de comunidade em torno dos produtos consumidos criam uma experiência que vai além da compra.

A mais recente tendência a furar a bolha foi o personagem Labubu, popularizado pela marca chinesa Pop Mart, que se tornou um fenômeno global e estampou manchetes em jornais do mundo todo. A Pop Mart é uma marca já consolidada na China, com lojas-conceito enormes nos principais centros comerciais, como a Nanjing Road — a “Times Square” de Shanghai.

Agora, filas se formam nas lojas europeias. Na Inglaterra, o frenesi foi tanto que a Pop Mart suspendeu temporariamente as vendas em prol da segurança dos consumidores, que se aglomeravam em filas e dormiam nas calçadas para garantir um item da marca. Celebridades como Kim Kardashian, Rihanna, Dua Lipa e Simone Biles já exibem seus monstrinhos nas redes sociais. Em 2024, as vendas da Pop Mart mais do que dobraram, atingindo US$ 1,8 bilhão, 23% das vendas representadas pelo Labubu, e a empresa multiplicou por cinco as vendas internacionais.

O Labubu não é um caso isolado. No cinema, o filme Ne Zha 2, inspirado em um dos personagens mais icônicos da mitologia chinesa, um pequeno deus que enfrenta dragões e injustiças, arrecadou mais de US$ 2,2 bilhões, tornando-se a maior bilheteria da história da animação mundial, superando produções da Disney como Divertida Mente 2.

E o último grande fenômeno no mundo dos games, Wukong, inspirado na história do Rei Macaco — um personagem milenar da mitologia chinesa, capaz de saltar entre nuvens e se transformar à vontade — vendeu mais de 25 milhões de cópias no mundo, mais de US$ 1 bilhão em receita. O jogo liderou as vendas em 29 países, incluindo Estados Unidos, Reino Unido e Brasil, e registrou recorde de 2,4 milhões de jogadores simultâneos. Wukong foi um dos lançamentos mais rápidos e bem-sucedidos da história dos games.

Essa tendência dialoga com algo maior: a crescente presença da cultura asiática no cotidiano mundial. Empresas como Li-Ning, Anta, Xiaomi, Baseus e BYD constroem marcas que competem com gigantes ocidentais, mesmo que muita gente ainda nunca tenha ouvido falar delas. Essa miopia custa caro, sobretudo para os negócios. Um mundo multipolar exige escuta. Exige entender que inovação e tendências podem vir de vários lugares. E que quem não está atento, perde relevância e muitas oportunidades.

Para as marcas e negócios, a lição é clara: o consumidor global, incluindo o brasileiro, está cada vez mais aberto ao novo e inesperado. E o olhar apenas para o Ocidente não é mais suficiente.

O futuro fala várias línguas e vem de várias partes. A pergunta é: você está prestando atenção?

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