Opinião

Modelo brasileiro de agência se diferencia no cenário global

Entenda os aspectos do mercado que fizeram do Brasil uma referência mundial na publicidade

Luiz Leite

Diretor financeiro da Abap e CFO da Ogilvy 31 de julho de 2025 - 15h00

A publicidade brasileira é referência global em criatividade e inovação. Além das campanhas icônicas e premiadas internacionalmente, nosso mercado é admirado também pelo seu alto nível de profissionalização e por um modelo único de agências.

Não por acaso, o Brasil foi eleito o primeiro “País Criativo do Ano” no Cannes Lions International Festival of Creativity — um marco inédito na história do festival, criado em 1953.

Nas últimas décadas, o setor passou por transformações profundas, impulsionadas por mudanças culturais e pela aceleração digital. A digitalização modificou os meios de comunicação, alterou o comportamento do consumidor e impactou diretamente o modelo de negócios das agências.

Com o avanço da tecnologia e a chegada da internet, surgiram novas jornadas de consumo e exigências por parte do público. Isso demandou das agências mais do que criatividade: exigiu adaptação, novos formatos de entrega e uma reestruturação operacional para garantir rentabilidade e sustentabilidade no longo prazo.

Para entender melhor esse cenário, realizamos uma pesquisa com apoio da Deloitte, disponível aqui.

 

Mídia e criatividade sob o mesmo teto

A capacidade de preservar um modelo consistente ao longo de décadas, mesmo diante de tantas transformações, é uma das forças das agências brasileiras. Esse modelo se caracteriza pela integração entre criatividade e estratégia, com um papel central das agências na construção de marcas fortes e no retorno real para os negócios de seus clientes.

Um diferencial importante é que, no Brasil, as agências concentram as frentes de mídia e criatividade sob o mesmo teto. Essa integração operacional, rara em muitos mercados internacionais, está na raiz da nossa relevância global.

As agências brasileiras lideram estratégias completas: da concepção criativa à distribuição nos canais certos. Esse modelo exige culturas organizacionais sólidas e inteligência coletiva capaz de responder às mudanças do mercado — não apenas reagindo, mas conduzindo transformações.

A estrutura interna, com departamentos interdependentes e profissionais multidisciplinares, aliada ao uso de ferramentas de gestão eficientes, garante uma operação ágil, orientada a resultados e sintonizada com a realidade contemporânea: dinâmica, digital e altamente conectada.

Outro aspecto que diferencia o nosso modelo é o arcabouço legal e ético que regula a atividade publicitária no país. Desde a década de 1950, contamos com legislações e instituições que asseguram diretrizes claras e boas práticas — da conduta ética ao funcionamento operacional do setor.

Falamos sobre isso em outros artigos desta série no Meio&Mensagem: sobre autorregulamentação e sobre a legislação do setor, assinado pelo nosso consultor jurídico, o advogado Paulo Gomes.

Entre as normativas relevantes está a Lei nº 4.680, de 1965, que define as atividades de publicitário e agenciador de propaganda, estabelecendo também as funções específicas de agências, anunciantes e veículos.

Além disso, apenas agências registradas estão autorizadas a intermediar a compra de mídia — uma determinação que fortalece a profissionalização do setor e assegura a qualificação dos agentes que operam nesse elo estratégico entre marcas e veículos.

Essa base sólida favorece um mercado mais transparente, com parâmetros competitivos que valorizam técnica, consistência e experiência — não apenas preço.

Mais do que um modelo criativo, as agências brasileiras representam um ecossistema robusto, que movimenta a economia, gera empregos e contribui ativamente para o desenvolvimento do país.

O modelo brasileiro segue como referência global porque entrega resultado — com eficiência, visão estratégica e capacidade de construir marcas relevantes em um mundo cada vez mais exigente.