Opinião

Educação financeira como aliada dos profissionais criativos

A indústria requer a construção de uma reserva que proteja as empresas em períodos de baixa entrada de capital

Luciana Pavan

Fundadora da 90 Segundos de Finanças 1 de agosto de 2025 - 6h00

Sejamos francos: uma conversa sobre controle de gastos é percebida como simpática ou como algo a ser procrastinado? Já faz um tempo que venho me deparando com os perfis diversos de mentorados. Quando o assunto é educação financeira (diria até educação de uma maneira geral), cada um aprende à sua maneira e ao seu tempo, embora a presença do tutor seja imprescindível para guiar essa jornada.

Na indústria publicitária, noto um denominador comum entre a maioria dos profissionais com os quais trabalhei e mentorei: a falsa ideia de que as finanças restringem a criatividade. Geralmente, perfis mais criativos têm uma beleza ímpar: a capacidade de abstração e de subjetivação. Há pouco, o mercado de publicidade se despediu de Roberto Duailibi, que além de deixar saudades, lega também toda uma história. Ao ler mais sobre o executivo, fiquei me indagando: de onde vêm essas ideias tão geniais? Abstrair é uma virtude.

E justamente por ter essa habilidade tão ímpar é que o profissional de publicidade merece um olhar especial quando o assunto é educação financeira. É um público que precisa de uma reserva financeira para ter mais tranquilidade perante a dinâmica dessa indústria.

De acordo com uma pesquisa da Serasa Experian, há aproximadamente 200 mil pessoas classificadas como publicitárias, das quais 22,7% se posicionam como donos e donas dos próprios negócios. Dentro desse viés de empreendedorismo, há ainda outra variável: ao mesmo tempo que um projeto pode render uma ótima entrada, pode-se ficar meses sem receber. Como sobreviver a isso sem afetar a saúde mental e criativa? Essa é uma pergunta constante entre meus mentorados. E a resposta é: com planejamento.

Precisamos ter um perfil de gastos – também chamado de padrão de vida – que seja sustentável e enxuto. E como fazemos para atingir isso? Essa costuma ser a segunda pergunta que os mentorados me fazem. É quando costumo responder: tendo coragem para ver como estão as finanças agora. Montando controles, entendendo (e resolvendo) tais pontos de desperdício para, assim, chegar a um padrão de vida possível de se sustentar mesmo quando a maré de entradas estiver baixa.

Ainda segundo o mesmo levantamento da Serasa Experian, 81% dos publicitários se encontram nas classes B/C – 49,1% em B e 31,9% em C. Ao cuidar bem das planilhas, é possível ter acesso a recursos criativos e a um bom capital cultural, alimentando bem as mentes criativas com conhecimento e lazer.

Esse desafio sobre educação financeira direcionada à população com imaginação aguçada não é de hoje. Desde que comecei a trabalhar com mentorias, há nove anos, atendo pessoas com esse perfil e constato que uma abordagem mais tradicional – talvez efetiva com o público corporativo – não surte tanto efeito nesse perfil específico sobre o qual estamos nos debruçando. Obviamente, não há regras cartesianas, tampouco essas suposições são cravadas na pedra. Falo, sobretudo, a partir de uma perspectiva analítica de quem observa tendências de comportamento intrínsecas a um determinado meio.

A abordagem de encarar a realidade, tomar ações para melhorá-la e, assim, construir uma reserva para tempos de incerteza é a que eu vejo como mais efetiva do ponto de vista emocional e sensorial. É um meio de conectar um assunto, às vezes, espinhoso (leia-se finanças) com o respectivo universo de um publicitário: a criação. A tranquilidade financeira traz a paz que se precisa ter para deixar a mente fluir, abstrair e concluir projetos geniais.