Morango é a nova estrela da vez
O “morango do amor” mostra como as redes sociais se tornaram vitrines de teste e laboratório de desejo
Estava sem entender por que a vendinha perto da minha casa aumentou tanto o valor do morango em questão de dias. Em poucos cliques, a explicação apareceu: o morango virou tendência nas redes sociais. Mais do que isso, virou protagonista de uma febre criativa chamada “morango do amor”, que tomou conta dos feeds, das cozinhas e das vitrines improvisadas de quem viu ali uma chance de vender mais e rápido.
Não foi uma nova safra, uma mudança climática nem um problema logístico. O que fez o preço da fruta disparar no Brasil foi o marketing criativo espontâneo. A receita é simples: morangos frescos cobertos por uma casquinha de açúcar ou chocolate colorido, crocante por fora e suculenta por dentro. O resultado é esteticamente irresistível, sensorialmente envolvente — e altamente viralizável.
Em poucos dias, vídeos caseiros e bem editados dominaram o TikTok e o Instagram. Confeiteiros independentes, microinfluenciadores e entusiastas da cozinha doméstica apostaram em cortes rápidos, trilhas envolventes e closes no momento da mordida. A estética fez o resto: brilho, contraste e desejo. O morango deixou de ser apenas fruta para se tornar um objeto de consumo simbólico.
O preço acompanhou. Em algumas capitais, o quilo do morango ultrapassou R$ 30. A demanda cresceu, a oferta correu atrás e comerciantes começaram a perceber o efeito que um simples vídeo no TikTok pode ter no seu estoque. É o impacto direto da cultura digital sobre o consumo cotidiano e sobre a economia da fruta.
O caso é um exemplo didático de como o marketing criativo, quando bem executado, dispensa verba publicitária. É conteúdo que atrai, emociona e vende. O chamado visual-first marketing ganha força: é a imagem, e não o argumento, que converte. E quando a imagem entrega estética e afeto ao mesmo tempo, o resultado é explosivo.
Mais do que um caso curioso, o “morango do amor” mostra como as redes sociais se tornaram vitrines de teste, espaço de tendência e laboratório de desejo. Ali, uma ideia bem embalada vira demanda real e, às vezes, muda até o preço da feira.
Pode ser só mais uma moda passageira, mas o morango deixou seu recado: no universo digital, quem brilha é a criatividade. E ela não precisa de grandes orçamentos, só de boas ideias, execução rápida e conexão com o imaginário coletivo.