Quem é o dono da sua carreira?
Eventualmente, o mercado nos coloca numa espécie de xeque-mate executivo
Eventualmente, o mercado nos coloca numa espécie de xeque-mate executivo
No meio de uma daquelas reuniões globais de marketing com dezenas de pessoas, recebi uma mensagem inesperada do CMO da empresa. Queria me ver naquele momento, se eu estivesse livre. Como qualquer pessoa com um mínimo de bom senso, larguei tudo, abandonei a reunião e fui para seu escritório.
Na minha função de vice-presidente global de patrocínios, eu estava acostumado a interagir com o CEO, o CMO e todos os outros executivos. Alguns dos contratos que eu negociava valiam centenas de milhões de dólares e requeriam aprovações de todos eles. Apesar disso, ser chamado para uma reunião assim de surpresa não era comum. Como qualquer pessoa com um mínimo de bom senso, e sem nenhuma razão evidente, achei que seria demitido.
O escritório dos executivos ficava no último andar do edifício e tinha acesso controlado. Tive que escrever para a sua secretária pedindo para entrar. Achei que aquilo era menos uma questão de segurança e muito mais uma estratégia para relembrar aos visitantes que não pertencíamos nem àquele nível da organização nem àquele andar.
Depois de alguma espera, quando a secretária finalmente me autorizou a entrar em seu escritório, fui recebido com uma alegria incomum. “Não é hoje que perco meu emprego”, pensei.
Depois de alguns minutos de uma conversa informal, ele se ajeitou na cadeira e me disse:
“Ricardo, tenho uma proposta para você. Quero promovê-lo para a posição global head de design da empresa. Além do seu trabalho na área de patrocínios e eventos ser excepcional, seu grupo ainda tem o maior engajamento dos funcionários em todo o marketing global. Eu quero que o nosso design se torne algo mais parecido com as experiências que vocês criam com o esporte e entretenimento. Você é o líder que a área de design precisa nesse momento”.
Uma breve pausa na história…
Eu trabalho com patrocínios há muito tempo; estudo, leio, discuto, e escrevo sobre patrocínios; faço apresentações sobre patrocínios; tuito sobre patrocínios; comento no LinkedIn sobre patrocínios; sou jurado de premiações de casos de sucesso em patrocínios; etc. Gosto do assunto e sei que sou competente para trabalhar com o esporte e entretenimento. Naquela reunião, eu e ele sabíamos disso. Mesmo assim, por alguma razão que foge à lógica, ele resolveu me oferecer uma posição em uma área onde minha experiência me condenaria ao fracasso.
Aquela reunião me forçou a decidir quem era o dono da minha carreira.
Se eu fosse o verdadeiro dono, diria não àquela oferta, desperdiçaria uma promoção, maior salário e benefícios e até arriscaria perder o emprego de que eu tanto gostava. Tudo em nome da minha preferência pessoal em continuar a trabalhar com patrocínios.
Se a carreira pertencesse à empresa, eu aceitaria a proposta, seria visto como um executivo dedicado, capaz de encarar desafios e fazer sacrifícios pessoais em nome da corporação. Ganharia muitos pontos com os executivos, teria mais visibilidade e me posicionaria para oportunidades ainda mais importantes no futuro.
Não existe uma resposta certa para este xeque-mate executivo. Mas é importante que cada um de nós pensemos em como queremos administrar as nossas carreiras antes que a pergunta nos pegue desprevenidos no meio de uma tarde qualquer, como aconteceu comigo.
Voltando à reunião…
Respirei fundo, agradeci a honra de ser considerado para aquela posição, e por poder ser promovido. A minha lembrança distorcida e embelezada do que veio depois é algo assim:
“Infelizmente, não acredito que essa mudança seja a melhor para a empresa e para a minha carreira. Como você sabe, há mais de 20 anos eu trabalho com a área de patrocínios. Além de gostar muito desse trabalho, acho que sou um dos melhores no assunto. Sirvo melhor para a empresa onde estou hoje do que nessa nova função, onde não acredito que vou agregar valor suficiente. Apesar de estar renunciando a uma promoção, prefiro ficar onde estou.”
Para a minha surpresa, ele não só entendeu como gostou da minha resposta. Disse que ficava feliz em saber que eu estava satisfeito no trabalho e que iria buscar um outro profissional para a função. Este foi o sinal para eu me levantar e desaparecer de sua sala.
Alguns meses depois, a empresa contratou um grande líder para área de design, o CMO foi aposentado e eu continuei trabalhando feliz na área de que tanto gosto. Decido que quem manda na minha carreira sou eu.
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