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Você está demitido!

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Opinião

Você está demitido!

Nem em pesadelo queremos ouvir esta frase


4 de março de 2020 - 9h57

(Crédito: Reprodução)

A notícia do último mês de que um motorista invadiu um supermercado com o carro, no Rio de Janeiro, e que ele é um ex-funcionário que havia sido demitido, nos leva a refletir sobre o quão sensível é este momento do desligamento, o turbilhão de emoções que desperta, as reações que pode chegar a provocar e, portanto, os cuidados necessários para minimizar possíveis traumas.

Assim como ninguém se casa pensando em se separar, os vínculos de trabalho também são carregados de expectativas de ambos os lados. Empresa e colaborador apostam suas fichas de que aquela nova relação vai trazer ganhos para todos.

Mas não é sempre que as coisas caminham conforme o planejado. O processo de desligamento é sempre difícil, já que é uma expectativa que não se confirma e um vínculo que se rompe.

Quando a demissão é consensual ou o pedido parte do colaborador, é mais tranquila, mas, quando o desligamento é decisão do empregador e não se dá por justa causa, a situação é mais difícil e dolorosa. Engana-se quem pensa que os gestores não sofrem neste momento. A maioria se questiona o quanto foi competente como líder, o quanto foi claro em seus feedbacks de redirecionamento, se não deveria dar uma última oportunidade e experimenta um gosto de fracasso com aquela experiência que não funcionou bem. Já a pessoa desligada se sente desvalorizada e, às vezes, até injustiçada. Sua autoestima é abalada e ainda que a demissão não seja uma surpresa, pois pode ter recebido vários feedbacks ao longo da trajetória na empresa, não há como não ser afetado e sentimentos como raiva, frustração, medo e impotência podem se fazer presentes.

Claro que reações como invadir uma loja de carro ou matar colegas de trabalho, como aconteceu em dezembro passado, em uma empresa paulista de tecnologia, são extremas e indicam um profundo abalo emocional.

Mas, mesmo quando os envolvidos conseguem fazer uma boa gestão de suas emoções, reconhecemos que este é um momento delicado, que pode deixar marcas amargas para gestores e colaboradores. Se pensarmos neste insucesso como uma responsabilidade mútua — empresa e funcionário — cabe a pergunta: Como pode a empresa apoiar a transição profissional deste colaborador, ainda que o desligamento tenha sido iniciativa da empresa?

O processo de desligamento deve ser cercado de cuidados:

— Comunicar a decisão ao colaborador com objetividade, mas com empatia. Usar de sensibilidade para entender se é hora ou não de prolongar a conversa.

— Se o colaborador está no controle de suas emoções e aberto a conversar, esta pode ser uma oportunidade para fazer um balanço da experiência e ainda receber inputs sobre o que poderia funcionar melhor na área. A decisão de demitir alguém não significa que esta pessoa não tem nada a dizer ou contribuir.

— Dar a devida atenção aos processos de rescisão e fornecer todas as informações com transparência.

— Dar suporte ao funcionário para facilitar seu processo de recolocação no mercado, seja através de referências, indicações para vagas em outras empresas, ajuda na elaboração do material de apresentação ao mercado ou ainda o patrocínio de programas estruturados de transição profissional.

O momento de desligamento é um fim de linha e será tanto mais palatável, quanto menos a notícia for surpresa para o colaborador desligado. Mas, se as possibilidades se esgotaram, que fique o registro e a lembrança de uma relação respeitosa, na qual dois profissionais lutaram por um objetivo que afinal, infelizmente, não se concretizou naquele momento.

Importante lembrar que é o fim de linha naquela empresa, mas se colaboradores e líderes puderem aprender algo da experiência, certamente estarão mais bem equipados para lidar com situações semelhantes que podem surgir no futuro.

Que os momentos profissionais difíceis como uma demissão sejam substratos para o desenvolvimento de nossa autoconsciência emocional e das nossas habilidades relacionais.

*Crédito da foto no topo: Storm Clouds/ Pixabay

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