Vozes femininas indicam caminhos para espaços mais equânimes
A construção de ambientes mais acolhedores nas organizações é urgente, defende Monica Gregori, da consultoria Cause
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Mesmo com tamanhos e inegáveis avanços ao longo do tempo, especialmente no progresso da redução das desigualdades de gênero, nós, mulheres, ainda sofremos com discriminações e frequentes violências, em vários âmbitos. O mundo no qual vivemos hoje foi criado a partir de uma perspectiva masculina, haja vista que as mulheres não estão presentes, em quantidade significativa, nos espaços de tomada de decisão.
No Brasil, por exemplo, o gênero feminino compõe mais da metade da população. No entanto, o mesmo dado não se reflete em equidade, já que 57% delas admitem que não se veem representadas nas publicidades, segundo o estudo visual da GPS, realizado pela Getty Imagens em 2021. Na política, plataforma fundamental para transformar realidades, a proporção é ainda mais baixa: de 26 estados do país, apenas um é governado por uma mulher, e somente 15% dos mandatos no Congresso Nacional são femininos.
O estudo “Mulheres perdem trabalho após terem filhos” da FGV evidencia que, após dois anos de retorno às atividades profissionais, quase metade das mulheres que tiram licença-maternidade perdem seu emprego. Soma-se a isso o fato de que as mulheres passam significativas horas a mais que os homens se dedicando às tarefas do lar, assim como a diferença de tempo entre a licença maternidade e paternidade e a falta de creches disponíveis para auxílio na primeira infância.
A maternidade é, de fato, um dos diversos desafios que experimentamos ao longo da vida, principalmente com relação ao mercado de trabalho. Desmitificar que a tarefa do cuidado com os filhos não é exclusivamente das mães é uma urgência social, sobre a qual organizações e empresas precisam lançar luz.
A paridade de gênero é um outro ponto que nos chama atenção e que precisa ser visto com prioridade por vários setores na sociedade. As estatísticas retrocederam no mundo todo. Atualmente, o tempo necessário para que a equidade seja alcançada no âmbito profissional passou de 100 para 136 anos, em decorrência dos efeitos da pandemia de Covid-19. Os dados são do Global Gender Gap Report 2021, do Fórum Econômico Mundial.
Quando nos aprofundamos nas intersecções de raça, gênero, faixa etária e deficiências, o abismo é ainda maior. Exemplo disso é que apenas 4% das mulheres trans têm emprego formal, segundo dados da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais). Em contrapartida, a plataforma Transempregos, criada em 2013, ajuda o grupo a se inserir no mercado de trabalho. Com crescimento de 315% de janeiro de 2020 até janeiro de 2021, o projeto tem parceria com 715 empresas – entre elas, KPMG, Accenture e Mercado Livre. No entanto, essa e outras poucas iniciativas não dão conta de reparar a imensa falta de oportunidades. É preciso que organizações e instituições olhem também para essa parcela populacional.
O mundo vive constantemente uma série de transformações. Todas elas, de uma forma ou de outra, passam pelas mãos das mulheres – seja por serem a própria força motriz ou porque são as responsáveis pela geração da vida. Mas, se tivéssemos o poder de redesenhar as dinâmicas sociais com uma perspectiva feminina, como seria? Foi essa pergunta que nos inspirou a criar o documento “E se o Futuro fosse Feminino?”, um projeto debruçado sobre os desafios da mulher do século 21, para fomentar debates para além da efeméride do 8 de março.
Por meio do olhar interseccional sobre as demandas da mulher na sociedade atual, o paper faz um chamado à escuta dessas vozes e a compreensão de onde elas estão hoje e para onde desejam ir. Vozes estas, femininas, que trazem personalidades contemporâneas, cujos repertórios de vida e trabalho se diluem em aprendizados em torno de: maternidade, mercado de trabalho, inclusão, diversidade etária, negritude, transgeneridade, luta indígena, PcD, representações e beleza.
A construção de ambientes mais acolhedores e equânimes é urgente. Um papel que precisa ser desempenhado tanto no âmbito de políticas públicas quanto pelas organizações (privadas ou do terceiro setor), e também pela sociedade civil, a partir de olhares que orientem práticas reparatórias. Esse é o primeiro passo, que passa pela consciência coletiva. Aí, avançamos para as etapas de sensibilização, engajamento e administração de recursos para caminhar rumo à transformação. Ainda tem pouca gente trabalhando, de fato, na instrumentalização desse propósito, mas ainda é tempo para mudar o cenário.
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