ProXXIma
17 de setembro de 2018 - 8h00
Por Paulo Silva (*)
Você já reparou em como ficou velha aquela conversa de on-line e off-line? Depois que a internet se tornou móvel (nos tablets e smartphones), ninguém mais precisa sentar em frente a um computador e ligar o aparelho para acessar a rede. Para você ter uma ideia, mais de 58 milhões de brasileiros só acessam a internet pelo celular. Ou seja, quase todo mundo está on-line e off-line ao mesmo tempo, o tempo todo. Quer ver um exemplo? Certamente você já respondeu um WhatsApp enquanto participava de uma reunião presencial. Viu? É simples assim: on-line e off-line simultaneamente.
Mas se isso já é velho, a novidade agora é outra: esse processo que já aconteceu com você há alguns anos vai começar a acontecer com as coisas ao seu redor. Sim, além de você, os objetos e dispositivos que você usa no seu dia também vão estar on-line e off-line o tempo todo. E é nisso que empresas do mundo todo estão investindo: a Internet das Coisas ou, em inglês, IoT – Internet of Things.
Internet das Coisas é um termo criado em 1999, por Kevin Ashton, e define uma revolução que está conectando à internet a maioria dos dispositivos que usamos diariamente criando sistemas inteligentes e integrando definitivamente nossos mundos físico e digital. E não pense que você vai passar batido por essa revolução, ela vai mudar drasticamente a economia, a saúde, a segurança e até a maneira como você usa objetos comuns no seu dia a dia. Segundo pesquisa da consultoria internacional IDC, o valor total das despesas mundiais com IoT chegará a U$S 772 bilhões até o final de 2018.
Só para dar uma noção do tamanho dessa revolução, a previsão é que até 2020 mais de 200 bilhões de “coisas” estejam conectadas à internet. E não estamos falando de coisas como seu celular ou relógio, esses já estão conectados faz tempo. Agora são seu carro, sua geladeira, a fechadura da sua casa e até sua garrafa de uísque que vão estar na internet, trocando informações com fabricantes, distribuidores e outros usuários para tornar sua vida mais confortável. Maluco? Um pouco. Mas é assim que nosso futuro próximo vai ser, melhor irmos nos acostumando.
Para falar em IoT, é preciso falar em sensores. São eles que coletam, com precisão cada vez maior, dados, como movimento, temperatura ou desempenho. É com esses sensores ligados à rede, que o técnico vai poder monitorar, a distância, o desgaste das peças do seu carro antes mesmo que elas precisem ser trocadas. Ou a garrafa de seu uísque preferido vai detectar quando o líquido está acabando e comprar outra automaticamente pela internet. E nem precisamos ficar só falando de futuro: com a Internet das Coisas, já é possível atender à campainha de sua casa a distância, ver quem é pela câmera e até abrir a porta para o visitante entrar, enquanto você está no trabalho.
Se hoje seu telefone é smart, muito em breve praticamente todos seus objetos também vão ser: geladeira smart, camiseta smart, bicicleta smart e tudo o que a imaginação humana puder viabilizar. E você? Quanto smart vai ficar? Podemos dizer, sem medo de exagerar, que a IoT está fazendo com que a internet desapareça. Ou melhor, a internet vai se camuflar nas coisas. Como ela precisa cada vez menos de computadores, está se inserindo em praticamente tudo, a ponto de não percebermos mais que ela está lá e a utilizarmos sem qualquer esforço. Aliás, só vamos notar mesmo é quando ficarmos sem ela – igual a quando falta luz em nossa casa, por exemplo. OU UÍSQUE NA GELADEIRA.
Agora imagine comigo o poder de transformação da Internet das Coisas levado para a economia. Os custos de produção baixam, proporcionando preços melhores. A logística de distribuição fica muito mais inteligente, com monitoramento e rastreamento mais eficazes e melhor gestão de estoques. Nem a entrega vai ser mais a mesma. Por exemplo: em algumas cidades, você já pode fazer a compra do mercado pelo site de grandes varejistas sem precisar esperar o entregador. Isso mesmo: lembra da campainha com webcam? Pois então: de onde você estiver, pode abrir a porta para o entregador, que coloca todos os produtos na sua geladeira e vai embora logo em seguida. É como se fosse um refil humano. E, em breve, você não vai precisar nem fazer a compra: sua própria geladeira identifica o que está faltando e faz a compra sozinha.
E, finalmente, o uso de sensores e novos dispositivos por equipes de marketing ajuda a gerar novas métricas e insights. Ou seja: mesmo quando a IoT não está diretamente ligada a um produto, ela vai proporcionar benefícios em toda a cadeia que leva esse produto até o consumidor.
A IoT também está revolucionando a maneira como governos administram cidades, estados e países. No setor energético, por exemplo, sensores coletam dados, como corrente e voltagem, tornando possível saber em tempo real como está a infraestrutura em pontos específicos. Dessa forma, fica mais fácil e rápido solucionar os problemas. Isso sem falar nas smart cities, em que a tecnologia vai provocar toda uma transformação digital na infraestrutura, modernizar sistemas de transporte e agilizar processos burocráticos.
Em linhas gerais, smart city é uma cidade que planeja todo o seu desenvolvimento urbano sobre a tecnologia da informação e ferramentas digitais, como a Internet das Coisas. Por meio de um trabalho conjunto entre governo e empresas de tecnologia (boa parte delas, startups), dados são coletados e analisados em tempo real, reduzindo custos, aumentando o nível de investimentos e aumentando a sustentabilidade. Algumas cidades, como Houston, Copenhague e Estocolmo já vêm implantando iniciativas do gênero e colhendo benefícios para os moradores no trânsito, na segurança e coleta de lixo. Tudo isso mostra uma inversão no pensamento humano: se antes pensávamos primeiro nas coisas e depois em como colocar a internet nelas, daqui para a frente vamos pensar primeiro na internet e depois em como embuti-la nas coisas. Quando digo coisas, são devices, mas também objetos, casas, museus, cidades e países. Só essa mudança de drive mental já vai produzir uma revolução por si só.
Para finalizar, vamos voltar às nossas vidas particulares: você já ouviu falar na expressão “biohacking”? Misturando biologia com princípios hackers, os biohackers já desenvolvem implantes cibernéticos que aprimoram as capacidades humanas. Já são comuns, por exemplo, implantes que permitem que pessoas surdas voltem a ouvir. Mas, além disso, no campo militar, já se desenvolvem próteses que melhoram o desempenho físico de pessoas, mesmo sem deficiências. E o que dizer sobre as possibilidades de fusão entre inteligência biológica e digital? Tudo leva a crer que, num futuro não tão distante, poderemos implantar chips e acessar a internet diretamente de nossos cérebros. E você trombará com pessoas híbridas (meio humanas, meio robôs) com tanta frequência, que será algo normal. Ou talvez você mesmo se transforme num cyborg um dia. Já pensou você ser o próximo Steve Austin?
(*) Paulo Silva é Founder & Managing Partner da RockOn Advisors – Consultoria Digital
http://www.rockonadvisors.com