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Plataformas SaaS: vantagens, barreiras e funcionalidades
Goldwasser Neto e Matheus Faria, CEO e head de marketing da Accountfy, respectivamente, abordam os desdobramentos das plataformas SaaS e oportunidades que geram à gestão de empresas
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Giovana Oréfice
1 de outubro de 2021 - 6h00
Já faz um tempo que as plataformas SaaS, sigla para “Software as a Service”, vem se tornando populares entre empresas de diversos portes. A solução permite a entrega e disponibilização de sistemas de softwares e demais soluções tecnológicas na internet, além de favorecer o armazenamento e manipulação de dados. Encarregada da gestão financeira de organizações, a fintech Accountfy vem se destacando: no início do ano, a fintech, que surgiu em 2017, recebeu aporte de US$ 6,5 milhões do fundo norte-americano Redpoint Eventures e da HDI Seguros em primeira rodada. Ainda que esteja em crescente adoção pelas organizações, a entrada de plataformas SaaS no Brasil enfrenta conceitos distorcidos por falta de conhecimento de gestores, o que aponta a necessidade de educação por meio de marketing digital e de conteúdo. Nesse sentido, Goldwasser Neto, cofundador e CEO da startup, alerta para a utilização de SaaS em receita recorrente, tendência muito vista no mercado. Em processo de internacionalização para os Estados Unidos e com operações em países da América Latina, como o Uruguai, a fintech tem contratado profissionais que atuem com diferentes nacionalidades para consolidar atuação no mercado internacional. O cofundador e CEO da fintech, Goldwasser Neto, e Matheus Farias, head de marketing, detalham como usar as plataformas SaaS como estratégia.
Meio & Mensagem – Qual é o papel das plataformas SaaS na gestão de performance corporativa?
Goldwasser Neto – Sendo bem franco, hoje é bem pouco, porque a adoção de plataformas SaaS no Brasil, embora esteja crescendo radicalmente, ainda é muito baixa. A maioria das empresas usa muita planilha, usa pouco sistema organizado para fazer gestão. É engraçado ver que, para empresas pequenas, o mundo de SaaS é uma realidade muito clara, porque já se adapta ao modelo pré-concebido, a um benchmark que o SaaS já traz, não fica questionando muito — também porque quer pagar barato. A adoção de pequenas empresas está muito maior do que nas grandes empresas. Em especial, em gestão financeira, essa penetração é muito grande. Agora, em outras plataformas, está muito concentrado nas médias e grandes empresas.
M&M – Por que pequenas empresas ainda estão relutantes em adotar esse tipo de software?
Neto – Quando uma empresa vai para ferramenta de gestão que se assemelha a um ERP, os preços são muito baratos e quando pegamos um comparativo com o ERP on-premise, local, eles são muito mais caros e complexos de implantar. Então, essa adoção é mais rápida. Quando você vai para softwares de gestão mais sofisticados, primeiro, são mais caros, mais complexos de implantar e exigem preparação interna das empresas, organização dos dados das informações — no nosso caso, informações contábeis, informações financeiras, para as quais, normalmente, uma empresa pequena não está preparada. Existe barreira organizacional interna e também aquestão de preço. Em tecnologia, usa-se muito o termo “step tecnológico” que é quando se escolhe quais são as tecnologias que serão usadas. Com o excesso de oferta de SaaS, não existe budget para empresa pequena contratar tudo o que está disponível, tem que escolher as coisas mais importantes. A falta do recurso acaba canalizando para aquilo que é mais vital ou que gera resultado mais rápido. Não existe espaço para adoção em massa de plataforma ou testes, como acontece nos Estados Unidos.
M&M – Como o marketing digital é capaz de auxiliar na ampliação dessas plataformas no Brasil?
Neto – Uma parte que vejo é uma parte de educação muito grande, porque o que fazemos, nós temos, mas já teve muito mais dificuldade de ter que explicar, ensinar para o interlocutor o que fazemos, o que que é possível ou não fazer. O marketing ajudou muito a educar, mostrar que é possível fazer.
Matheus Faria – Atendemos um tipo de demanda que está associada à mudança de paradigma. As empresas utilizam muito planilhas para essa parte de gestão e a proposta é que saiam das planilhas para utilizar o SaaS e, com isso, temos tanto o desafio de descoberta por esse tipo de solução SaaS, que ajuda de fato a controlar toda a performance, quanto de educação ao longo da jornada. Utilizamos muito conteúdo para conseguir cumprir esse papel de educar e ensinar a mudar paradigmas.
M&M – Porque as marcas estão aderindo ao cloud? Quais são as vantagens?
Neto – Por falta de alternativa, na verdade. Me lembro, dez anos atrás, quandoera diretor financeiro de uma empresa e implantamos um grande RP e percebemos que não tinha estrutura e arquitetura suficientes. E aí começou-se a discussão do cloud versus investir em infraestrutura local. Foi uma discussão longa, era uma coisa super nova e optamos por fazer investimento local — dois anos depois, nos arrependemos amargamente. Por que? Porque é super caro, investimento em infra é caro, caduca muito rápido, traz risco muito grande de ficar administrando banco de dados, vazamento, porque, quando a empresa vai para um provedor sério, parrudo, de soluções cloud, tem proteção muito grande nessa aplicação, no servidor data lake. É preciso ficar muito atento em outras coisas, são outras portas que se abrem quando vão para o cloud, que não mais o servidor. O dado está na nuvem com um provedor muito confiável, é difícil invadir a Google, a AWS, é quase impossível, mas começa a abrir outras portas que exigem cuidado, principalmente em endpoint. Ou seja, o usuário final acaba abrindo algumas portas e, se não tiver as portas fechadas dentro da aplicação, é possível eventualmente acessar alguns dados. A aplicação na nuvem se tornou mais barata, mais segura — por incrível que pareça –, e mais fácil de administrar.
M&M – Como o marketplace pode entrar nestas plataformas e se relacionar com elas?
Neto – Do ponto de vista de captura de cliente, já vi algumas iniciativas de empresas de centralizar a gestão de vários softwares SaaS em um único local. É até uma boa ideia, porque temos tanto software contratado dentro de casa — só que é cada uma administração diferente — que seria legal ter um só. Um marketplace seria legal, só que vejo como um ofensor muito grande de margem. No nosso caso, vejo pouco valor, porque nosso processo de venda é um pouco mais complexo, mas, quando falamos de softwares um pouco mais baratos, temos um ofensor. Quando falamos do Google como marketplace para um SaaS, por exemplo, ele acaba cobrando um custo muito alto, como a Apple também. Então, se estivermos falando desse tipo de software SaaS com tickets menores, tem sempre o ofensor de custo por conta do repasse para o outro lado.
Faria – Vejo funcionando bem como autosserviço. Utilizamos muito, por exemplo, o Hubspot, que é uma solução de automação de marketing e eles têm inúmeros parceiros que conectamos automaticamente, dentro da parte que chamam de marketplace também e conseguem utilizar serviços paralelos para agregar nesse sentido. O Accountfy, como tem um tempo de plantação maior, que é consultivo, envolve entender a documentação da empresa. Tudo isso, para a parte de contratação, concordo que fica um pouco inviável.
M&M – De que forma as funcionalidades de acompanhamento da análise financeira por meio da organização de dados permitem que as empresas tomem decisões mais estratégicas?
Neto – Tratamos o dado contábil produzido pelos contadores das empresas e transformamos esse dado em visão gerencial, visão estratégica. A contabilidade é um combo perfeito de análise econômica. Só que para transformar essa visão em visão gerencial completa, é complexo. As pessoas não têm tanto interesse, preferem fazer de outras formas. E o grande endereçamento que fazemos é dar essa visão mais amigável, fácil e rápida sem precisar que a pessoa entenda a fundo contabilidade, mas usando aquela base super robusta que é a contabilidade. Esse talvez seja o nosso grande diferencial. É o que todo mundo quer: consistência, robustez — é um fechado de análise. Tecnicamente, do ponto de vista metodológico, é a forma mais correta de se fazer finanças e conseguimos fazer isso para qualquer empresa. Permitimos que uma empresa pequena ou média — seja qual for a estrutura –, se tiver dado contábil, seja capaz de fazer análise sofisticada do nível de empresa de capital aberto, grande.
M&M – Como o processo de internacionalização da startup contribui para a expansão das plataformas SaaS?
Neto – Claramente, para a América Latina, percebemos que estamos três anos atrás no Brasil. A mesma surpresa e o ceticismo que os clientes têm quando os abordamos, reparávamos isso lá atrás. Temos aberto o mercado, investindo muito nisso, abrindo espaço até para concorrentes criarem e entrarem e na América Latina fazemos a mesma coisa. É lógico que quando você entrega uma solução a custo super competitivo para a empresa ter gestão financeira de alto nível, o trabalho e o investimento que fazemos na educação é super benéfico. Quando vamos para o mercado americano e começamos a ganhar esse mercado, que é super exigente e competitivo, é óbvio que dá bastante endosso para nós no Brasil e acaba facilitando a vida. Lá, o SaaS é um processo muito mais consolidado. Se aparecer uma solução on-premise, não vejo ninguém contratando. Ninguém mais desenvolve esse software, já é uma realidade. As discussões são mais pautadas agora no processo de segurança dentro de aplicativos no endpoint do que propriamente onde está hospedado o software. E isso exige outro tipo de codificação, de especialização tecnológica, de proteção de segurança de dados e gera escassez de profissional, porque aquele que desenvolve SaaS e que faz marketing é bem diferente de uma venda de software de prateleira.
**Crédito da imagem no topo: Gremlin/Getty Images
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