Assinar

Monark, games, nazismo e a força da natureza

Buscar
Meio e Mensagem – Marketing, Mídia e Comunicação

Monark, games, nazismo e a força da natureza

Buscar
Publicidade


17 de fevereiro de 2022 - 6h01

 

Monark deixa o Flow após fala polêmica (crédito: Reprodução/YouTube)

Eu me lembro que em uma das primeiras BGS (Brasil Game Show) que fui acompanhando o influenciador Zangado como sua empresária, eu parei para admirar os outdoors com as fotos do Monark, na época um dos maiores influenciadores gamers do Brasil com o canal Randonsplays. Acontece que, naquela época, eu não sabia nada sobre o que seria necessário fazer para chegar ao topo do YouTube…agora eu sei! Polêmica é um dos caminhos mais eficazes.

Essa mesma polêmica transformou Monark em manchete nos principais portais e canais de notícias na terça-feira, 8 de fevereiro. Até a noite anterior, ele era âncora no Flow Podcast, ao lado de Igor 3K. Igor e Davy Jones, influenciador gamer e amigo de Monark desde os velhos tempos, jogaram toda a responsabilidade no parceiro. Mas devemos lembrar que se Monark era âncora do programa, seguia a linha editorial do Flow Podcast, então não pode ser crucificado sozinho.

Naquela noite, no episódio que teve participação dos deputados Kim Kataguiri (Podemos) e Tabata Amaral (PSB), Monark defendeu a “legalização” de um Partido Nazista no Brasil. A afirmação seria supostamente uma defesa à “liberdade irrestrita de expressão”, contrariando princípios básicos da Constituição, como a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade.

“Eu acho que tinha que ter um partido nazista reconhecido pela lei”, disse o apresentador do podcast. “Se o cara quiser ser um antijudeu, eu acho que ele tem direito de ser”, disse Bruno Monark Aiub.

No dia seguinte, os “Estúdios Flow” anunciaram o desligamento de Monark. Mas, será que esse jovem âncora de um programa polêmico cheio de patrocinadores havia mudado desde sua primeira aparição, em 2009, para cá? Me digam vocês.

O adolescente Monark surgiu jogando Minecraft, um jogo para crianças e adolescentes, e declarou que ganhava R$ 30 mil por mês do YouTube, fazendo um ou dois vídeos por dia. Era a época áurea dos criadores de conteúdo da plataforma, hoje soterrados pelos streamers.

Ele reinava como o maior influenciador de Minecraft, ao lado de Venom Extreme, e fazia sucesso com outros big influenciadores: Guilherme Gamer, Leon (hoje no canal Coisa de Nerd) e Davy Jones, do Gameplayrj. Estes eram os cinco gigantes do YouTube de games do Brasil.

O tempo foi passando e por volta de 2013, Monark decidiu que não falaria mais de games e decidiu dedicar seu canal à política, o que fez a audiência despencar de mais de 3 milhões para 500 mil. Nunca mais ouvimos falar dele na indústria de games BR, e recentemente ele voltou como âncora do Flow Podcast. Agora, estava cheio de patrocinadores e ganhando muito dinheiro de novo e podia dizer ao filho de Bolsonaro que o presidente da República é burro, uma ousadia nunca cometida por um jornalista.

Em abril, em uma entrevista, Monark e Igor 3K afirmam que o produto nasceu em um momento de revolta com a vida, da vontade de fazer algo diferente. Em abril de 2021, o Flow tinha mais de 100 milhões de visualizações mensais nas diferentes plataformas e ele dizia ganhar R$ 50 mil por mês. Complementando, disseram que esse ano os planos era levar os pré-candidatos ao programa.

Eu vi o Flow poucas vezes, profissionalmente, pois não tenho muito estômago para programas polêmicos que colocam o entrevistado na parede para ganhar views. Me lembro que um dos vídeos que dei uma olhada foi um em que ele respondia um F* para um crítico, enquanto acendia um baseado.

O palavrão não me surpreendeu porque já em seu primeiro vídeo para o YouTube, feito em 2009, e que agora está no canal Monark, ele dizia o mesmo palavrão, dava a entender que era preguiçoso, comia fast food, se dizia viciado em videogames e mostrava seu preconceito quando exclamava: “isso que eu disse foi muito gay”.

Essa história me fez lembrar um outro episódio, que aconteceu com o canal “gamer” do YouTube Xbox Mil Grau. Durante anos o influenciador Chief carregou o nome do Xbox no seu canal. Fazia um conteúdo pobre, que incluía expor jornalistas, influenciadores e outros profissionais de games chamados por ele de sonistas (que jogam no PlayStation). Foram anos de humilhação a profissionais renomados até que o Xbox Mil Grau foi extinto porque seus integrantes foram acusados de publicar um post com teor racista: um meme durante a manifestação contra o racismo e a morte de George Floyd por espancamento!

Depois disso, o influenciador Chief retornou com um novo canal, que já foi deletado novamente pela plataforma. Ele teve quatro canais deletados no YouTube.

Monark pediu desculpas dizendo que estava bêbado. Pergunta: se um funcionário seu fosse trabalhar trançando as pernas você o colocaria na reunião com o cliente? Ele diz que está sofrendo um linchamento nas redes sociais e que as pessoas estão sendo desumanas com ele. “Eu posso ter errado na forma como eu me expressei, mas o que estão fazendo comigo é um linchamento desumano. Reitero que um nunca apoiei a ideologia nazista e que a considero repugnante. A ideia defendida é que eu prefiro que o inimigo se revele do que fique nas sombras”, afirmou.

Além da crueldade, os dois episódios do Xbox Mil Grau e do Flow, têm em comum a justificativa usada – “ignorância”.

Vou dar a palavra a outro cara polêmico e preconceituoso, Nelson Rodrigues. Segundo o dramaturgo, “a burrice é diferente da ignorância. A ignorância é o desconhecimento dos fatos e das possibilidades. A burrice é uma força da natureza”.

Publicidade

Compartilhe

Veja também