Mais um golpe potente contra o jornalismo
Resultados do Digital News Report 2025 não são uma boa notícia para o meio e há pouco tempo para reverter o quadro
Saiu o novo estudo do Reuters Institute e da Oxford University sobre a mídia no mundo. O Digital News Report 2025, comandando pelo pesquisador inglês Nic Newman, assusta quem acredita que nada pode derrotar o bom jornalismo e as grandes marcas.
Se os EUA servem de termômetro para o que vai acontecer no Brasil em pouco tempo, o quadro é preocupante: a principal fonte de notícias dos americanos são as redes sociais, utilizada por 54% dos entrevistados para se informar.
É a primeira vez que Televisão – uma febre americana, mas com 50% – não lidera desde que o estudo começou a ser feito, em 2013. Sites vêm em seguida com 48%, enquanto jornais impressos aparecem com apenas 14%. Quem surge pela primeira vez é a Inteligência Artificial: nada menos que 7% dos entrevistados usam o chatbot de IA para se informar. Novos e perigosos tempos.
No caso do Brasil, a maior queda desde o início da pesquisa está na leitura de impressos. Em 2013, 50% dos entrevistados diziam ler jornais pelo menos três vezes por semana. Hoje apenas 10% admitem passar os olhos por um impresso ao menos uma vez na semana. Lideram essa disputa pela atenção a mídia digital (78%) e as redes sociais (54%).
Mas talvez o pior dado extraído do DNR é a confiança nas notícias: no Brasil o índice está em 42%. Ou seja, mais da metade da população desconfia do que recebe, independentemente da fonte. Se tem algo bom nesse universo é que a maioria identifica a razão da informação imprecisa: os “influenciadores” e os políticos. Mas, curiosamente, seguem consumindo conteúdo produzido exatamente de quem desconfiam.
O jornalismo segue se modificando todos os dias, procurando o melhor equilíbrio entre boas práticas e sustentabilidade. Não é fácil, ainda mais quando a tecnologia é muito mais ágil e ousada. O quadro que está surgindo parece ser o de muitos modelos de negócio ao mesmo tempo, respeitando os grupos específicos (que alguns gostam de chamar de clusters).
Um impresso pode sobreviver, por exemplo, desde que deixe de pensar na massa e opte pelo exclusivo, pelo diferente. Isso significa poucos exemplares, mas extremamente bem escritos, desenhados e impressos, dentro de uma frequência que não necessariamente seja diário – possivelmente semanal. Mas essa não é a fórmula das revistas semanais? Sim, só que as revistas não conseguiram se atualizar e perderam o trem.
O meio digital vem crescendo na preferência das audiências, reduzindo a relevância dos meios analógicos. No Brasil, segundo o Cenp, a Internet já conquistou 39,8% do mercado publicitário, ultrapassando inclusive a TV Aberta (36,55%) – dados de 2024.
Só que Digital não é apenas a plataforma de notícias que os veículos utilizam – essa é uma parte pequena. No mundo digital estão as redes sociais e os bots de inteligência artificial, por exemplo. Ou seja, o dinheiro está chegando muito mais volumoso para as Big Techs – que não produzem uma só linha de conteúdo. A Tecnologia está vencendo a batalha por números contra o Jornalismo.
Jornalismo independente e forte é fundamental para as instituições e para o bem-estar da população. Quem se dá conta que a fila para atendimentos no SUS está gigantesca não é um bot de IA, mas um repórter. Quem fiscaliza a utilização de recursos públicos é um bom jornalista (auxiliado por uma ferramenta de IA, sem problemas).
Esse caminho sem volta para a dependência da inteligência artificial e das redes sociais é um tiro de bazuca no pé. Mas os veículos de comunicação seguem, a passos largos, para a beira do precipício.
Há tempo de reverter esse quadro? Pouco. Marcas tradicionais do jornalismo desapareceram. Outras sumirão em breve. Sinais da inércia e da pouca visão dos executivos das empresas de comunicação. Uma pena.