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SXSW

Terra, segundas Luas e o mistério do planeta: quando arte e ciência se encontram

Ada Limón, poeta laureada dos Estados Unidos, conta como embarcou em projeto da Nasa que une ciência e poesia


8 de março de 2024 - 21h44

Ada Limón no SXSW: “a poesia, mais do que qualquer outra forma de linguagem, entra em cena quando todas as outras tentativas de comunicação falham” (Crédito: Reprodução/YouTube)

O trabalho dos poetas é o de completar a música no papel, sem sons de instrumentos, somente com palavras e o espaço entre elas. No final, o poema é passado adiante, para que possa ressoar como música em outra pessoa. E, com isso, concretizar algo significativo.

A colisão entre a pessoa e as frases escritas é o que torna a experiência da poesia única, descreve Ada Limón. Para ela, poesia é algo pessoal e humano, que não é possível de ser explicado, assim como é impossível explicar a alma ou o coração.

“Não é possível explicar a floresta, mesmo com todo o conhecimento técnico. A poesia, mais do que qualquer outra forma de linguagem, entra em cena quando todas as outras tentativas de comunicação falham. Abre espaço para a respiração, o silêncio, para simplesmente estar, para o mistério”, disse Ada, que é 24ª poetisa laureada nos Estados Unidos e consultora da Livraria do Congresso norte-americano.

O que motivou a presença de Ada no SXSW, mais especificamente em um painel da Nasa, foi uma experiência no espaço sideral cuja premissa foi unir arte e ciência. Quando a agência governamental estabeleceu outubro deste ano como data para lançar a nave espacial Europa Clipper, também decidiu enviar um poema escrito por Ada.

Antes do convite, ela já carregava um projeto que unia poesia e natureza – e que contou com diversas ações, como a divulgação de poemas em parques nacionais dos EUA. “Na minha terrível e maravilhosa juventude, era atraída pela ideia de fazer parte da Terra. Lembro de ver a fotografia da Terra tirada pela Nasa em 14 de novembro de 1990. Agora chamamos essa imagem de ‘pale blue dot’. É aqui. É nossa casa. Essa foi a inspiração para o projeto”, contou.

E, em outubro de 2022, ela foi convidada pela Nasa para escrever um poema original que sairia da órbita da Terra para viajar por 1,8 bilhão de milhas, até chegar na segunda Lua de Júpiter. Os versos seriam gravados em uma placa que faria parte da espaçonave, cuja missão é descobrir se existe água debaixo da superfície dessa segunda Lua.

“É potencialmente um lugar onde a vida pode existir, talvez vida microbial exista lá hoje, naquele oceano embaixo do gelo”, explicou Lori Glaze, diretora de planetary science division da Nasa. E essa empreitada, acrescentou, dialoga com a poesia de Ada, que fala sobre a experiência humana de navegar entre mistérios, rumo ao desconhecido.

Assim como muitas coisas na vida, não somente em missões espaciais ou poemas, as respostas prontas não existem – algo que pode ser aplicado à própria jornada do SXSW: quem vai ao festival pode levar consigo muitas perguntas, mas não deve esperar pelas respostas. Ao menos não as definitivas.

Para Ada, existe uma parte da poesia que fica à vontade com o mistério, com o não saber. E isso abre espaço para a reflexão e para a aceitação diante do que não se pode prever.

E o que a Nasa sabe sobre a missão em Júpiter, até o momento, é que é possível que haja vida em um lugar que recebe muito menos luz solar do que a Terra. “Estamos procurando por diferentes elementos necessários para a vida. Quão salgado é o oceano? Quão grossa é a camada de gelo?”, detalhou Lori.

Essa busca, diz ela, faz com que arte e ciência se aproximem, já que, se não houvessem perguntas, a ciência não teria razão de ser, afirmou a cientista, justificando a ideia do projeto com Ada Limón.

Em seu poema, a artista fala sobre a curiosidade humana. Mas, durante a conversa com Lori, ela chamou atenção ao fato de que, hoje, todos estão querendo produzir o tempo todo, o que impede a chegada da criatividade.

“Artistas precisam dar um passo atrás, abraçar o silêncio e receber o mundo. Há momento em que não devemos criar, devemos ouvir, receber, ler e ver. Sair para andar, absorber o mundo. Como podemos receber se estamos constantemente colocando coisas pra fora? Acredito que o descanso é radical, precisamos desses momentos para que a próxima coisa possa vir”, afirmou.

 

 

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