DE 08 A 16 DE MARÇO DE 2024 | AUSTIN - EUA

SXSW

O timing e o vacilo da presença brasileira no SXSW

O recorte hoje presente no SXSW nem de longe representa toda a nossa potência criativa - e que precisa acessar as oportunidades e ideias amplificadas pelo festival para prosperar


18 de março de 2024 - 10h46

É a minha primeira vez em Austin, no Texas, e minha surpresa ao chegar no SXSW Festival, foi a frequência com que ouvi o mesmo sotaque das ruas de Santa Cecília, em São Paulo. O Português é a segunda língua mais ouvida no evento, a presença dos brasileiros é comentada por todos os participantes – “vocês estão por todos os lugares”, me contou uma estudante americana em meet-up.

O Brasil tem a maior delegação estrangeira do evento, e na visão de Tracy Chapman, diretora de negócios do SXSW para o Brasil, este é um indicador de sucesso do evento neste ano. A autenticidade e a força da indústria criativa brasileira são elementos que explicam o match do público brasileiro com o festival.

Considerado a principal vitrine de inovação e criatividade, o festival SXSW é uma plataforma de experimentação de um futuro hiper conectado, descolado e ansioso, que clama por conexões mais humanas e algum sentido de comunidade.

De fato, há muitos insights para inspirar os participantes do evento, que reúne criadores de diversas linguagens com os principais players das indústrias de música, cinema, TV, design, tecnologia e, claro, negócios. Participar do Festival é o sonho de uma geração de profissionais da indústria criativa brasileira, empreendedores, artistas e produtores de conteúdo que encontram ali uma grande oportunidade para network.

Não poderia haver melhor timing para essa ocupação brasileira no SXSW. A indústria criativa nacional está pronta para exportação. Os cases apresentados no festival buscam conectar profissionais, empreendedores e agências nacionais a um mercado internacional que valoriza o made in Brasil muito mais do que os patriotas.

Em frente à entrada principal do festival americano, a Casa São Paulo expõe em seu muro um lindo painel do artista Kobra que representa a diversidade da população brasileira que eu não vi dentro da casa.

Um dos principais patrocinadores do Festival, um banco brasileiro da Faria Lima, investe na tradução dos conteúdos legendados para a internet como uma forma de “democratizar” o acesso aos conteúdos – não há tradução simultânea ou para língua de sinais nas sessões. Na mesma linha, inclui aqui no texto diversas expressões em inglês com a esperança de que, assim, os decisores compreendam as ideias partilhadas aqui. É suficiente?

Para ser relevante nos futuros desenhados no SXSW, o Brasil precisa de uma estratégia consistente de fomento e financiamento à indústria criativa brasileira em sua diversidade – nosso “soft power”, como bem disse Adriana Barbosa, criadora da Feira Preta.

O recorte hoje presente no SXSW nem de longe representa toda a nossa potência criativa – e que precisa acessar as oportunidades e ideias amplificadas pelo festival para prosperar. O intercâmbio entre as criatividades traz um duplo impacto positivo para o País – ampliar o mercado consumidor dos produtores da base criativa ao mesmo tempo que inspira a formação de novos narradores, criadores e líderes de mercado.

O que precisa ser feito para aproximar os brasileiros de diversos sotaques e origens da experiência e conteúdos do festival? Essa é a pergunta que o próprio SXSW faz, reconhecendo a pouca diversidade existente em seus palcos e corredores.

Está na pauta (urgente) a construção de uma ou mais missões brasileiras com curadoria estratégica – visando não apenas a promoção de marcas.É preciso enxergar o intercâmbio proporcionado no SXSW como indutor de impacto econômico e social em toda a cadeia produtiva da economia criativa, como fomento às possibilidades de futuro efetivamente plurais e uma visão nacional de exportação dos bens e serviços culturais de alto valor simbólico. A diversidade racial não pode ser uma trend que passou – ela deve estar no pilar de todas as ações que visem colocar o Brasil em posição de protagonismo.

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