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SXSW

Quociente de Curiosidade

Por que essa novidade importa?


15 de março de 2023 - 14h59

Crédito: GSPhotography/ Shutterstock

Você certamente já ouviu falar em QI, o Quociente de Inteligência. E, talvez, já se deparou com o QE — o Quociente Emocional. Eis que agora surge o QC: o Quociente de Curiosidade. Um novo olhar de perfil e análise para aumentar o sucesso no local de trabalho. Ou, pelo menos, para identificar melhor as pessoas e, com isso, gerar valor no processo de colaboração.

No SXSW, Paul Barnett, Amber Hahn e Hannah Singleman, da Now What — The Creative Question Company, falaram sobre como podemos melhorar o processo de perguntas e de relacionamento a respeito de nós mesmos, das pessoas com quem trabalhamos e dos sistemas e processos ao nosso redor.

O painel foi dividido em três blocos. Vamos a elas:

1. Fazendo perguntas melhores

É preciso transformar as pessoas em boas contadoras de histórias. Para isso, deve-se amadurecer as perguntas, sair da zona de conforto do ouvinte e levantar o bom debate, evitando o atrito no processo.

a. Perguntas melhores usam o calor do debate para “cozinhar”, e não para “queimar”
Você já debateu política, futebol ou religião com alguém? Provavelmente sim. Nesses casos, fica evidente como a energia e o calor do debate podem ser agressivos e divergentes. O recado aqui é usar esse poder para crescer, para “cozinhar” algo novo, uma nova visão que você mesmo não tinha. Construir melhor, para se posicionar. Sem barreiras, sem filtros. Novas portas podem se abrir e — quem sabe? — você pode perceber que estava equivocado. Ou que, no mínimo, agora existe outro ponto de vista que precisa ser respeitado.

b. Perguntas melhores nos tiram da zona de conforto e do óbvio
Perguntar para uma pessoa que acabou de entrar no hospital se “está tudo bem” não faz sentido. Mostre que você se importa e seja curioso sobre a aproximação com ela. As perguntas precisam envolver, abraçar, significar. Curiosidade de quem se importa.

c. Invista em “questionar a questão”
Faça perguntas em cima do que foi imposto ou sugerido. Surgiu uma tarefa nova? Quanto tempo tenho para a resolução dela? Quem receberá e qual a expectativa do que foi criado? É sempre importante alinhar expectativas entre o comunicador e o comunicado. As pessoas possuem visões diferentes sobre o mesmo assunto. Seja curioso no sentido de desmistificar o que o outro deseja e qual ponto de vista está sendo analisado.

d. As perguntas são uma ferramenta dos poderosos
As pessoas pedem permissão para perguntar, como se fosse socialmente equivocado ir contra as perguntas existentes e “esperadas”. Sempre quem faz as perguntas é quem já está no comando, já sabendo as consequências das respostas. É o policial quando aborda o infrator, é o advogado questionando o réu, é o professor que está levantando o debate, é o amigo com a piada pronta, o médico criando um prognóstico… Então, inverta essa lógica. Ache o espaço não revelado e coloque na mesa o novo debate. As pessoas precisam estar livres e saber que podem ser curiosas dentro da empresa.

2. Expandindo o seu QC

Existem quatro perfis de curiosidade. Entendê-los — e, assim, compreender o mais bem visto por nossos colegas — gera uma percepção mais adequada sobre nossos relacionamentos. São eles:

a. A criança interior
Perguntas que esse perfil normalmente fará:
● Por que isso é algo que fazemos?
● Que suposições estou fazendo?
● Como podemos tornar as coisas mais emocionantes?
● Quais são as possibilidades de crescimento?

Superpoderes:
● Intuitivamente atraído pela novidade
● Brincalhão, mas consciente
● Menos medo do fracasso
● Pura persistência para entender o porquê

Atenção:
● Pode testar a paciência das pessoas
● Pode ser percebido como frívolo

b. O rebelde
Perguntas que esse perfil normalmente fará:
● E se eu fizesse as coisas de forma diferente?
● Por que eu tenho de seguir essas regras?
● Como podemos criar mudanças no mundo?
● Que convenção posso virar de cabeça para baixo?

Superpoderes:
● Sem medo de desafiar a sabedoria convencional
● Garantir que vozes e opiniões marginalizadas sejam ouvidas
● Confortável em assumir riscos e grandes saltos
● Otimismo teimoso ajuda a transformar sonhos em realidade

Atenção:
● Resistente ao compromisso ou colaboração
● Propenso ao efeito “touro em uma loja de porcelana”

c. O consertador
Perguntas que esse perfil normalmente fará:
● Como isso realmente funciona?
● O que acontece se tentarmos isso?
● Como posso entender melhor os componentes em jogo?
● Como posso tornar as coisas mais eficientes e eficazes?

Superpoderes:
● Infinitamente engenhoso
● Adora experimentar e “sujar as mãos”
● Atenção aguda aos detalhes

Atenção:
● Pode ficar preso, sobrecarregado ou intensamente focado em um problema ou situação atual
● Frequentemente impaciente para levar as coisas adiante

d. O viajante
Perguntas que esse perfil normalmente fará:
● O que posso aprender hoje?
● Onde está minha próxima toca de coelho?
● Que novas perspectivas posso descobrir aqui?
● Como podemos conectar os pontos de novas maneiras?

Superpoderes:
● Atualizado sobre novas maneiras de pensar e fazer
● Excepcional “conector de pontas”
● Mente aberta e flexível

Atenção:
● Inquieto e facilmente fica entediado
● Com frequência, os outros se sentem excluídos ou deixados para trás

3. Criando Cultura de Curiosidade

Algumas dicas provocativas de como trazer a cultura da curiosidade para dentro do meio corporativo. Crie dinâmicas e adapte, conforme a realidade de seu time.

a. Crie uma linguagem compartilhada
O que significa curiosidade na minha empresa? O que se espera sobre esse assunto? Para se criar uma cultura de curiosidade, é preciso criar consciência de cultura. Mas com o mesmo alinhamento de expectativa.

b. Entre em outros estilos
Saia do ciclo de curiosidade que você domina ou em que já esteja enquadrado (a criança interior, o rebelde, o consertador, o viajante). Provoque-se para interagir nos outros três tipos aos quais você tem menos profundidade. Descubra! O ideal é a harmonia entre os quatro.

c. Tenha a curiosidade no calendário
Crie rotina e espaço de provocação de perguntas. A empresa (ou você) pode deixar estabelecer um período fixo todas as semanas — a periodicidade é algo a ser construído — para gerar perguntas. Exemplo: às segundas-feiras, terei um espaço de 30 minutos para questionar, debater, colocar em xeque algumas coisas. Com isso, os colaboradores saberão que existe um espaço “institucional” para geração de curiosidade. Será vista como um símbolo cultural essa abertura. Uma válvula de escape rotineira para gerar estímulo cíclico.

d. Avalie a dinâmica do poder da mudança
Pergunte quais as curiosidades das pessoas. Quais áreas são de seu interesse? E ainda: quais áreas elas não têm interesse e, por isso mesmo, poderiam ser um novo gatilho?

e. Deixe suas perguntas crescerem com você
Você muda, você cresce, você amadurece pessoal e profissionalmente. Com isso, deixe que as perguntas mudem no processo também. Não considere erradas as perguntas do passado e não se cobre pelas perguntas não feitas. Faça-as agora com seu novo olhar de evolução.

Cultura não se impõe: se constrói com o tempo. O Quociente de Curiosidade é algo novo, mas que já transita dentro das empresas. Agora, há um conceito e um olhar sobre isso. Disseminá-lo com os colaboradores — e, em conjunto, ir construindo cerimônias que gerem valor sobre o assunto — será o novo desafio. Entender as pessoas sempre foi uma pauta relevante. E, tendo cada vez mais ferramentas, teremos um facilitador para deixar os ambientes mais agradáveis e produtivos.

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