Burnout parental: 9 em cada 10 mães sofrem do esgotamento no Brasil
Pesquisa revela dados sobre o estado mental das mães trabalhadoras e aponta situação grave
Burnout parental: 9 em cada 10 mães sofrem do esgotamento no Brasil
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Meio & Mensagem
16 de agosto de 2024 - 14h10
De acordo com uma pesquisa da B2Mamy em parceria com a Kiddle Pass, 9 em cada 10 mães sofrem de esgotamento parental, com estágios entre graves ou moderados. Além disso, 5 em cada 10 já receberam algum tipo de diagnóstico referente à saúde mental. A situação é ainda mais grave para as mães solos, em que a taxa de esgotamento é 2,5 vezes maior.
Anteriormente, o assunto já havia sido tema de estudo em 2022 pela Universidade de Ohio. Segundo o levantamento, 66% dos pais que trabalham sofrem de burnout parental, com 68% das mães e 42% dos pais afetados.
A pesquisa classifica o burnout parental como um tipo específico de esgotamento emocional que afeta as figuras parentais, devido ao estresse contínuo e à sobrecarga associada às responsabilidades parentais cotidianas. As sensações são descritas como a inabilidade em reconhecer e manter emoções positivas no relacionamento com o filho, uma dificuldade em estruturar um ambiente socioemocional saudável para a criação, e desafios para reconhecer as necessidades da criança do seu processo de desenvolvimento.
Além disso, o relatório destaca também a exaustão emocional, com episódios de raiva ou apatia extrema, distanciamento e autopercepção inadequada comparada a outras figuras parentais. Entre as respondentes, 41% apresentam sintomas leves, 41% moderados e 6% graves.
A pesquisa focou principalmente no burnout materno. “Começamos este projeto com o olhar do esgotamento materno, algo que presenciamos em nosso dia a dia com toda a comunidade. Entretanto, ao nos depararmos com os resultados, entendemos que se trata de algo maior que apenas a rotina diária das mães. O impacto está em todos os lugares e tem consequências na sociedade e no ambiente de trabalho. Discutir e trazer à luz a sobrecarga materna e o burnout parental é falar também sobre equidade de gênero”, diz Lygia Imbelloni, médica e head de aaúde e bem-estar da B2Mamy.
Mariana Pereira, diretora do projeto e Educadora Parental na Kiddle Pass, destaca que o cenário é mais agravante em grupos minorizados. “Esperávamos um levantamento muito parecido com os da Universidade de Ohio, porém, quando olhamos os marcadores sociais, encontramos uma realidade alarmante, condizente com o cenário de saúde mental dos brasileiros, de maneira geral. Segundo o Relatório Mundial de Estado Mental do Mundo 2024, o Brasil tem o terceiro pior índice de saúde mental no mundo, só perdendo para África do Sul e Reino Unido”, alerta.
Das mulheres ouvidas, cerca de 85% estão exercendo atividades remuneradas, e entre essas, 57% reportaram já terem sido questionadas sobre maternidade e gravidez em processos seletivos e promoções. Outro número alarmante é que 64% relataram que a maternidade impactou suas carreiras e as levaram a pensar ou fazer uma transição.
Quando indagadas acerca da rede de apoio, a maior parte conta com suporte da família ou não tem assistência com os pequenos em casa. 30% informaram não ter nenhum suporte fora da escola, e apresentam 59% a mais de esgotamento em comparação às que têm rede de apoio. A assistência das empresas se limita a iniciativas obrigatórias como licença, plano de saúde e auxílio creche.
Em média, 75% das mães ou figuras parentais maternas chegaram a questionar, em algum momento, a permanência no mercado de trabalho diante do adoecimento e de transtornos mentais, diagnosticados em mais da metade das respondentes.
Segundo a FGV, 48% das mulheres saem do mercado de trabalho após a chegada dos filhos. Isso devido à sobrecarga de trabalho com cuidados, em que elas exercem por cerca de 21 horas semanais e são responsáveis por 65% do trabalho não remunerado de cuidados. Em comparação, os homens gastam apenas 10 horas semanais.
O ambiente de trabalho e a relação com a liderança estão relacionados com o adoecimento. Enquanto 77% se sentem em burnout parental em seus empregos atuais, 63% indicam a liderança como um dos principais motivos do esgotamento. Além disso, 22% demonstram maior sinal de esgotamento quando informam que não podem falar da família no trabalho.
Não à toa que, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a participação de mulheres sem filhos no mercado é 35% maior do que as que são mães. “Enquanto as engrenagens das corporações não se atualizarem, a fim de entenderem e atenderem às demandas do público feminino em suas políticas, iniciativas e benefícios, a permanência da mulher no mercado de trabalho continuará sendo condicionada a um malabarismo que tenderá a adoecê-la”, reforça Mariana Espindola.
De acordo com um estudo do Boston Consulting Group, quando uma empresa provê cuidados para os filhos, o retorno sobre o investimento (ROI) é de 425%. O que inclui aumento da retenção (+86%), da produtividade (+70%), redução do absenteísmo (16 faltas/ano) e melhora na exaustão mental.
Quando os dados foram cruzados com iniciativas que mais reduzem os sinais de esgotamento, as quatro principais foram workshops e treinamentos para líderes e times; home office total ou híbrido; licença estendida; e auxílio creche.
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