Diversidade x performance
A ascensão das líderes mulheres e o que seus métodos revelam sobre o futuro da performance corporativa

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“As mulheres normalmente oferecem um olhar mais horizontal, mais focado nas relações e uma visão de longo prazo”, observou Eduarda Vieira, sócia fundadora e diretora criativa na Kuba Áudio, durante o painel “A importância de diversificar: Por que investir em startups lideradas por mulheres?”, na última edição do Rio Innovation Week. Essa perspectiva ressalta a importância do cuidado e do foco nas relações interpessoais, atributos frequentemente associados ao feminino.
Essa qualidade é uma chave crucial para a transição de uma abordagem transacional para uma liderança transformacional, conforme sugere a Dra. Keyun Ruan, líder da Economia de Risco no Google Cloud e na Alphabet, e fundadora da Happiness Foundation. Ruan argumenta que “Ganho de market share, lucro, margem são aspectos que não oferecem motivação a ninguém, não tocam os nossos corações. É preciso uma mudança sistêmica em direção ao foco nas relações, que ofereça conexão, emoção, consciência e espírito às relações”.
Por mais evidente que possa parecer, é preciso reiterar que nutrir conexões humanas não é apenas uma necessidade intrínseca, mas também uma tendência inegável no horizonte das práticas de liderança e gestão.
O estilo de gestão que enfatiza habilidades sociais e comportamentos como empatia, comunicação eficaz e a promoção de um ambiente de trabalho mais democrático e colaborativo é, por vezes, rotulado como “feminino”. Embora não seja um estilo exclusivo das mulheres, sua eficácia para empresas e organizações tem sido amplamente comprovada.
O estudo “The Effect of Gendered Communication Styles on Career Outcomes” desafia a noção de que apenas a comunicação assertiva, frequentemente percebida como “masculina”, conduz ao sucesso. Em vez disso, a pesquisa demonstra que estilos femininos, caracterizados pela colaboração e empatia, também geram resultados positivos. Mulheres, em particular, tendem a exercer uma liderança transformacional, focada no desenvolvimento, na criatividade e na inspiração, um estilo altamente correlacionado com a eficácia organizacional.
“Não é uma tese de diversidade, é de performance.” Essa afirmação de Maria Teresa Meyer, diretora geral Latam da Bridgewise, também participante do painel, introduz um argumento de relevância inquestionável. A questão central não é apenas a presença da diversidade, mas o valor intrínseco que ela agrega. Qual é o ganho real dessa diversidade? O que se esconde por trás dela?
Nos últimos anos, o cenário das agências de publicidade no Brasil testemunhou um aumento significativo de mulheres em posições de comando. Em minhas observações, essa ascensão não é meramente incidental. As líderes femininas demonstram uma alta taxa de conversão ao apresentar suas credenciais a diretores e diretoras de marketing.
Essa eficiência é, em sua essência, performance, e está alicerçada em um eco de valores que se percebe em falta no ambiente corporativo. A conversão é impulsionada pela confiança, pela conexão com discursos mais espontâneos, abordagens mais intuitivas e empáticas, e por um foco em relações e modelos mais horizontais e colaborativos.
Mas o que, de fato, impulsiona a performance? James Vowles, chefe de equipe da Williams, uma das indústrias mais focadas em performance do mundo, a Fórmula 1, defende que “Tudo gira em torno de pessoas e cultura”. Essa máxima ressoa profundamente com a tese aqui apresentada.
O artigo do The Times, “Women ready to exert more power in the boardroom”, reforça essa perspectiva, argumentando que promover mulheres a cargos de liderança não é apenas uma questão de diversidade, mas uma estratégia fundamental para a performance organizacional. Dados da FTSE 350 revelam que empresas com mais de 30% de executivas apresentam um desempenho superior, tanto em crescimento quanto em lucratividade. Apesar das barreiras estruturais persistentes, a cultura empresarial britânica está em processo de transformação, valorizando novas competências e ampliando oportunidades.
Performance, em sua essência mais pura, emerge da autenticidade, de um olhar de dentro para fora que celebra e expande a motivação individual, algo intrinsecamente único a cada ser. Dina Asher-Smith, velocista britânica, medalhista olímpica e campeã mundial de atletismo, encapsula essa ideia: “Esporte é sobre desempenho, e para ter um desempenho melhor você precisa mostrar seu verdadeiro ser humano, ser fiel a si mesmo, sua auto expressão. Isso contribui muito para o desempenho. Para ser valorizado exatamente como você é”.