Opinião WW

Por um 2026 mais inclusivo e potente para as pessoas negras

Em um momento de avanço do backlash e de redução de compromissos reais com a diversidade, entendo que reconhecimento é responsabilidade

Gilvana Viana

CEO e cofundadora da MugShot, Punks S/A e CasaBlack 18 de dezembro de 2025 - 17h55

(Crédito: Shutterstock)

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Em meio à correria de final de ano, me deparei pensando em como 2025 foi intenso e muito potente. Para mim, foi um ano cheio de motivos para celebrar e que traz a esperança de um 2026 ainda melhor. Mas será que para todas as mulheres também foi assim?

Em 2025, participei como jurada de eventos muito importantes no setor publicitário, entre eles o Festival Cannes Lions, D&AD, Ciclope Latino, Festival Internacional Ciclope, Prémios Lusófonos, Gerety Awards e o Lisbon International Advertising Festival. Também fui reconhecida no Prêmio Potências e como uma das Women to Watch do Meio & Mensagem. Essas conquistas alegraram o meu coração e reforçam o que eu sempre soube: trilhar esse caminho vai valer a pena.

Afinal, ser uma mulher preta e ocupar uma posição de liderança na indústria da criatividade é uma grande quebra de barreiras que merece ser comemorada todos os dias. Mas essa conquista individual não acontece no vazio. Ela revela o quanto esses espaços ainda são raros, pouco acessíveis e desigualmente distribuídos. Quando olhamos para além da experiência pessoal e transformamos essa vivência em números, o que aparece é um retrato estrutural do setor. E os dados não mentem.

Um estudo feito pelo Ceda (Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais) com dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) mostrou que, entre 2012 e 2023, as pessoas brancas empregadoras eram o dobro das pessoas negras. Se formos avaliar pessoas negras em cargos de liderança e cargos gerenciais, a porcentagem é de apenas 33%, isso em um país onde cerca de 56% da população é negra.

Analisando este cenário em outros países percebemos que, com a volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, diversas empresas congelaram os investimentos em programas e políticas de diversidade, questões ambientais e ESG, entre elas: Meta, McDonalds, Walmart, Starbucks, Amazon, Google, e até mesmo universidades. Recentemente, um projeto de lei aprovado pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina prevê o fim das cotas raciais e de outras ações afirmativas pelas Instituições de Ensino Superior públicas do Estado.

O movimento é conhecido como “backlash”. É um tremendo retrocesso às pautas de diversidades que temos buscado ampliar no mercado e na sociedade. Com isso, trago aqui uma provocação para que nós, lideranças no geral, possamos ampliar o nosso olhar sobre a importância da diversidade, seja nas pautas, nas campanhas publicitárias, nas contratações de equipes, na promoção de lideranças.

O Brasil é formado em sua maioria por pessoas negras (pretas e pardas). E onde estão essas pessoas nas empresas? Precisamos ter um olhar voltado para a cultura local, para a nossa comunidade enquanto país e valorizar a diversidade e cultura deste país, que são riquíssimas. Sigo fazendo a minha parte e buscando me conectar com parceiros que apoiem e fomentem a diversidade no mercado publicitário.

Em um momento de avanço do backlash e de redução de compromissos reais com a diversidade, entendo que reconhecimento é também responsabilidade. Responsabilidade de não tratar conquistas como ponto de chegada, mas como ponto de apoio para ampliar caminhos, sustentar a pauta e abrir espaço para que mais pessoas negras ocupem esses lugares de forma permanente. Que em 2026 a gente seja agente desta transformação.