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Quem é Marta Carvalho, criadora do evento Vozes Mulheres 50+

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Inspiração

Quem é Marta Carvalho, criadora do evento Vozes Mulheres 50+

Fundadora da primeira edição do evento sobre maturidade criativa feminina fala sobre a curadoria da programação, sua trajetória profissional e a potência dos talentos 50+ 


24 de maio de 2024 - 8h41

Marta Carvalho é a criadora do evento Vozes Mulheres 50+, sobre maturidade criativa feminina (Crédito: Divulgação)

Marta Carvalho é a cabeça, a força e a voz da conferência “Vozes Mulheres 50+: Inspiração e Inovação Além do Tempo”, que está em sua primeira edição e acontece nos dias 24 e 25 no Centro Cultural São Paulo, de forma gratuita. Atualmente, ela é gerente de comunicação e relações institucionais na agência FBC Brasil, e acumula nove prêmios em Cannes Lions e dez troféus no Clube de Criação.

O evento reunirá 12 convidadas para comandar uma programação de palestras e workshops. Entre as temáticas que serão abordadas estão os pilares de tecnologia, literatura, música, vivências corporativas, saúde mental e liderança. 

Nesta entrevista, Marta Carvalho fala sobre sua carreira, a conferência e sobre a importância de promover e empoderar profissionais com mais de 50 anos na indústria criativa. Além disso, ela também discute as oportunidades e potências que o amadurecimento traz, tanto em aspectos pessoais quanto para as empresas. 

Pode fazer um breve resumo da sua trajetória profissional?

Eu nasci e cresci na periferia do Gama, no Distrito Federal. Minha trajetória vem das artes. Iniciei no balé clássico aos sete anos e continuei até os dezoito. Depois, em busca de multiplicidade dentro das artes, me tornei atriz e cantora. Com essa caminhada artística, precisei aprender a fazer produção cultural, pois na época não havia agências ou agentes para fomentar espaços para artistas independentes. 

Da produção cultural, me tornei gestora de grandes eventos e tive meu próprio festival. Após quase 30 anos nessa caminhada profissional, há seis anos decidi dar um novo rumo à minha carreira, buscando uma área que abrangesse toda a minha bagagem sem precisar começar do zero.  

A comunicação e a publicidade foram esse espaço. Fui aceita com tudo o que tinha e o que estava aprendendo. Hoje, sou gerente de comunicação e relações institucionais na FCB, líder do hub de diversidade e representante da FCB no Observatório da Diversidade na Propaganda. 

Estamos na semana da primeira edição do evento Vozes Mulheres 50+. Como surgiu esse projeto? 

Com minha experiência como produtora e gestora, no ano passado fui aluna do Fill The Gap, uma formação para líderes idealizada pela AlmapBBDO, Grupo Dreamers e Soko e cocriado com a ESPM. Durante os seis meses de aula, senti vontade de compartilhar minha experiência e falar sobre a jornada das pessoas ao meu redor. 

No mercado em que trabalho, os profissionais são majoritariamente jovens. Eles não apenas ocupam cargos de liderança, mas também estão moldando a comunicação. Nesse contexto intergeracional, percebi a falta de um espaço para aqueles que pavimentaram essa indústria.  

Apesar de já existirem alguns eventos com essa temática, sendo uma mulher de 53 ano, e com minha trajetória na produção cultural, imaginei que poderia criar um evento com valor para o mercado e, principalmente, um valor inspiracional. Assim nasceu o Vozes. Fui bastante incentivada pelos meus mentores no Fill The Gap. Ao finalizar o curso, a primeira coisa que fiz foi escrever esse projeto. E, hoje, ele está pronto para acontecer nesta sexta-feira. 

Estamos com o incentivo e apoio da Lei Paulo Gustavo, que foi extremamente importante. Ela nasceu durante a pandemia para apoiar profissionais da indústria criativa e retornou com força total em 2023. 

Como foi feita a curadoria da programação do evento? 

Antes de pensar diretamente nesses temas, eu já tinha mulheres que me inspiraram muito nessa caminhada. Muitas delas eram minhas amigas próximas, então as conversas aconteceram de maneira leve e respeitosa, especialmente por ser a primeira edição da conferência. Mas também tive a sorte de contar com outras mulheres que ajudaram no contato com as convidadas.  

Essas indicações e relações foram baseadas no legado dessas mulheres no mercado e nas vozes delas, que ainda ecoam hoje. Não só nas ruas, mas também no mercado. Não apenas por suas trajetórias individuais, mas principalmente na inspiração que proporcionam aos jovens profissionais da indústria criativa. 

Quais temas vocês abordam na programação? 

Temos uma versatilidade grande, abrangendo um universo bastante amplo. Falamos da presença e da construção do mercado de relações públicas e sua importância para marcas, com Regina Augusto e Michelle Andrade fazendo a mediação. Também abordamos o empreendedorismo com Egnalda Cortes, mediado pela Débora Moura, que faz parte da rede de diversidade e inclusão do grupo Dreamers. 

Para mim, é emocionante ter a Neon Cunha, primeira mulher trans a conseguir colocar seu nome numa carteira de identidade. Desde esse movimento, vários outros trouxeram políticas públicas para pessoas trans. 

Temos também a Mãe Baiana, que faz a abertura representando as religiões de matriz africana. Ela falará sobre o empreendedorismo dessas mulheres, sobre sobrevivência e intolerância religiosa no Brasil. Então, é um leque bastante amplo, mas parte das minhas vivências. Toda a curadoria é feita a partir dos meus movimentos, passos, sensações e estudos.  

Falando sobre criatividade, quais potências e oportunidades a maturidade traz para o profissional da indústria criativa? 

Bom, eu acho que ele corta caminho. Quando você se relaciona com profissionais que têm maturidade e experiência, eles pavimentaram a estrada que a gente percorre hoje. Essa relação ajuda a encurtar caminhos e a construir uma relação criativa entre experiência e jovialidade. 

Essas mulheres se atualizam constantemente, estão sempre à frente do seu tempo, inovando e movimentando grandes estruturas. No mercado da indústria criativa, o movimento intergeracional é essencial para termos leituras e entregas mais potentes. Acredito que essa junção é o melhor que o mercado pode receber agora, e fundamental para o que podemos construir no futuro. 

Da sua perspectiva enquanto mulher 50+, o que a maturidade te trouxe de positivo? 

Primeiro, estar viva já é uma grande vitória para mim, sendo uma mulher negra nascida e criada em um corpo de mulher. Isso é algo que valorizo muito. Acredito que trago para o meu trabalho e minhas relações um conhecimento inesgotável, sempre criando novas estratégias de aprendizado. Esse conhecimento me dá serenidade e suavidade para lidar com adversidades e relações. Nos caminhos que traço, busco intensidade, maturidade e longevidade, sempre no lugar de respeito para contribuir com o movimento. 

No momento em que estou, vejo a importância de fazer parte de uma indústria exigente, mantendo-me criativa, viva e pulsante. Esse é o meu lugar. Todos os prêmios que ganhei refletem isso, a contribuição dos meus saberes e a maturidade. Sem isso, talvez não tivéssemos alcançado trabalhos com tanto embasamento e força. 

Como você descreveria seu estilo de liderança? 

Acho que sou uma liderança inspiracional, de soft skills, pois mantenho um relacionamento muito próximo com as pessoas que fazem parte do meu dia a dia e do meu trabalho. Nosso time é conduzido de maneira a fortalecer e contribuir uns com os outros, o que potencializa minhas perspectivas de relacionamento profissional. Isso nos permite aprofundar as pautas que conduzimos e criar um modelo de liderança e trabalho diário mais humano. Assim, além de focar nas entregas, construímos um movimento de aprendizagem, letramento e desenvolvimento de pautas mais humanizadas. 

Sobre o mercado publicitário, o que falta para superarmos as barreiras do etarismo e da inclusão de profissionais 50+ nas agências? 

Acho que falta coragem. Isso é crucial para quem lidera e direciona negócios. Falta o entendimento e o letramento de que, em 2060, seremos uma grande parte da população. “Eu sou você amanhã” é uma frase do nosso manifesto. É preciso assumir uma relação próxima com pessoas de 50 anos ou mais, especialmente dos grupos minorizados. A vivência de pessoas periféricas, negras, LGBTQIAPN+, PCDs e indígenas deve ser valorizada. 

É essencial trazer esses profissionais de 50 anos ou mais para a frente, para serem a cara da empresa, da agência, dessa estrutura, tornando-nos realmente universais. Acho que o maior valor que agregamos é a maturidade e a experiência. Trazemos um valor inestimável, pois conhecemos a indústria e ajudamos a pavimentá-la. Isso pode facilitar a continuidade do sucesso. Os valores são intangíveis quando estamos vivos e criativos nesse mercado. Conseguimos trazer profundidade não apenas nas entregas, mas também nas relações estruturais de cada empresa. 

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