Os 10 fatos de Comunicação em 2014
Aquisições de agências, chegadas de novas grifes internacionais e a maior divisão do pódio criativo. Confira alguns fatos marcantes em 2014
1 – Dentsu Aegis compra NBS
Até então maior agência controlada por brasileiros, a NBS concluiu venda de participação majoritária para a Dentsu Aegis Network, em abril. A negociação ocorreu após três anos de conversas e se acelerou após uma tentativa de compra não concretizada da Fischer. Cyd Alvarez, Dudu Godoy, André Lima, Roberto Tourinho e Antonino Brandão continuaram como sócios executivos e Otto de Barros Vidal Jr e Pedro Feyer seguiram com participação, mas sem funções no dia a dia da empresa. Essa foi a principal novidade da Dentsu Aegis Network no ano, mas não a única. A rede presidida na América Latina por Claudia Colaferro consolidou a atuação de suas agências com o apontamento de Abel Reis como CEO da rede para o Brasil, com o objetivo de ampliar o faturamento e tornar o País um hub criativo. Também começou o ano com nova liderança a operação local da agência Dentsu: Mario D’Andrea assumiu como CEO, em substituição a Renato Loes. Outras mudanças envolveram os nomes das agências, para alinhamentos globais: a AgênciaClick tornou-se Isobar e a Age virou McGarryBowen. Outras agências da rede são Lov, iProspect, Amnet e a empresa de criação para mídia exterior OOH Plus, esta, adquirida em dezembro.
2- Mais agências no pódio criativo
Se há algum tempo uma ou duas agências se alternavam no topo das mais premiadas do País nos principais festivais da publicidade, em 2014 o protagonismo foi dividido entre pelos menos cinco empresas. Com um Grand Prix, 5 Ouros, 5 Pratas e 6 Bronzes a FCB Brasil foi a de melhor performance do País no Festival de Cannes, incluindo o prêmio principal de Mobile para “Anuncio protetor”, para Nivea Sun Kids. Entretanto, se somado o novo Lions Health, quem mais trouxe Leões foi a Leo Burnett Tailor Made: 22 estatuetas. Leo e FCB foram também as de maior destaque no Clio Awards, que em outubro prestou homenagem a Washington Olivetto, chairman da WMcCann, que recebeu o Lifetime Achievement Recipient. Já no One Show, quem fez dobradinha com a Leo entre as mais premiadas foi a Ogilvy, que liderou o ranking nacional no Festival de Londres e no D&AD. No Wave, a Agência do Ano foi a Leo Burnett Tailor Made. E a F/Nazca S&S consagrou-se como tetracampeã no Festival do Clube de Criação de São Paulo. Especialmente para os profissionais de criação, esse é um ótimo cenário. Além das grifes de menor porte e mais charme, que sempre atraíram talentos, há agora um grupo de grandes agências reconhecidas pelo brilho criativo.
3- Publicis consolida empresas
A rede Publicis Worldwide começou 2014 com nove agências, uma estrutura complexa que deveria ser diminuída. A primeira situação a ser resolvida foi a da Red Lion, absorvida pela Publicis Brasil, em abril. No mês seguinte, o Publicis Groupe assumiu 100% da DPZ e o ex-CEO Flavio Conti deixou as funções executivas após 42 anos de atuação na agência para se tornar consultor, mesma função ocupada pelos fundadores e ex-sócios Roberto Duailibi e José Zaragoza. O diretor-geral Tonico Pereira tornou-se o principal executivo da agência. As últimas mudanças na Publicis Worldwide ficaram para o mês de novembro, já sob a gestão de Paulo Giovanni, que assumiu a função de Lima em setembro, egresso da Leo Burnett Tailor Made. Hugo Rodrigues tornou-se CEO da Publicis Brasil e Salles Chemistri; e César Paz (na foto com o CEO global da Publicis Worldwide, Arthur Sadoun) virou CEO da nova AG2 Nurun, que reuniu as operações digitais AG2, Razorfish e Digitas com a Dialog, de ativação.
4- Julio Ribeiro deixa a Talent
O ano de 2014 foi de transição para uma das mais importantes agências brasileiras, a Talent, que faz parte da rede Publicis Worldwide. Em dezembro de 2013, o Publicis Groupe aumentou para 100% a participação na empresa, bem como na QG. Ainda no final daquele ano, foi definido que a QG seria absorvida pela Talent, o que fez seu sócio Paulo Zoéga deixar o grupo e abrir a agência independente Zoégas, em maio. Único dos três sócios originais da Talent a ficar na empresa para 2015, José Eustacchio foi promovido a CEO. Antonio Lino deixou a agência para abrir a consultoria Viramundo. Finalmente, em outubro, a grande novidade envolvendo a Talent em 2014: o fundador Julio Ribeiro (foto) anunciou que, ao final do ano, deixará a agência fundada por ele há 34 anos. No mesmo mês, uma das principais contas da agência, Santander, abriu concorrência para, em dezembro, decidir repartir a verba entre Talent e Loducca.
5- Aquisições focam as médias
Os grupos internacionais de comunicação mantiveram seu apetite por compras no Brasil, mas como as opções de agências de grande porte estão rareando, voltaram seu foco para o mercado de médias. O grupo WPP, por exemplo, fez nada menos que quatro aquisições nesse segmento: a agência de ativação Epigram, de quem comprou 60% das ações e a quem alocou na rede Brand Union; a empresa de pesquisa Evidências, alocada na Kantar Health; e as agências digitais Blinks e Try, que passaram a ficar ligadas à JWT. No grupo Omnicom, houve movimentos nas redes TBWA, que adquiriu 70% da Mood (na foto o presidente da TBWA no Brasil, Luiz Lara, o CFO da TBWA Américas, James Fenton, e o fundador da Mood, Augusto Cruz Neto); e na DAS, que investiu no mercado de relações públicas e intermediou a compra de participações minoritária na InPress Porter Novelli e majoritária na Ketchum. Outro movimento no mercado foi protagonizado pela holding IMS Group, que atua na área de mídia digital e search marketing, que adquiriu a digital Garage IM. E a rede britânica Iris Worldwide, que esse mês foi adquirida pela coreana Cheil, também fez compra no Brasil no final de 2013, assumindo parte majoritária na digital Router.
6- Nova onda de grifes internacionais
Apostando na força da criatividade, algumas grifes globais seguiram em 2014 os passos de outras agências do mesmo perfil que chegaram ao Brasil nos últimos anos, como R/GA e Wieden + Kennedy. Com um projeto capitaneado pelo trio André Kassu, Marcos Medeiros (ambos ex-AlmapBBDO) e Vinicius Reis (ex-We), a norte-americana Crispin, Porter + Bogusky oficializou sua operação brasileira em fevereiro, e já atende clientes como Corona (na foto, Medeiros, Chuck Porter, chairman e fundador da rede, Reis e Kassu). Na mesma época, a rede francesa BETC anunciou um escritório liderado por Erh Ray (ex-sócio da BorghiErh/Lowe) e Gal Barradas (ex-Fbiz). Já a digital de origem britânica AKQA começou a operar no Brasil no final do ano. Após um período de seis meses em imersão nas outras operações da empresa, o brasileiro Diego Machado e o português Hugo Veiga, que participaram da criação do case “Retratos da real beleza”, da Ogilvy para Dove, se juntaram ao também lusitano Nuno Santos para inaugurar um escritório em São Paulo.
7- Havas incorpora house PA
Após uma das concorrências mais polêmicas da história da publicidade brasileira, a Havas assumiu em fevereiro a estrutura da house PA Publicidade e passou a gerenciar a conta do Grupo Pão de Açúcar (GPA), que inclui as bandeiras Pão de Açúcar e Extra. O processo levantou questões sobre a necessidade de a vencedora assumir custos de R$ 34 milhões ao ano, volume necessário para a operação da PA. Uma cláusula do contrato, posteriormente revista, faria com que o investimento feito pela agência na PA não fosse devolvido no caso de fim do atendimento. Outro momento curioso foi a proposta vencedora da Havas, que mudou os rumos da concorrência, já que havia um cenário pelo qual a agência ficaria com Extra e a Africa, com Pão de Açúcar. A Havas informou que quis contratar mais de 50% dos funcionários da PA — alguns não aceitaram —, mas que abriu mão dos diretores porque as funções já existiam no seu organograma. Dos 500 funcionários da Havas, 200 estão dedicados às contas do Grupo Pão de Açúcar, maior cliente da agência, à frente de Reckitt Benckiser e Citroën, entre outros. No comando do time, está o CEO do escritório paulista da agência, Mauricio Kato.
8- Conanda contra a publicidade
O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), órgão ligado à Presidência da República, publicou no dia 4 de abril a resolução 163, que recomendava a proibição da publicidade infantil no Brasil. A justificativa é que esse tipo de comunicação tem a intenção de persuadir as crianças a consumir produtos, o que contraria a Constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente. A reação do mercado publicitário foi imediata e nove das principais entidades se posicionaram em um documento em que defendem o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) como caminho mais eficiente para o controle de práticas abusivas. As entidades também informaram que reconhecem o Congresso Nacional como único foro para legislar sobre o tema. Em dezembro, foi publicado um estudo encomendado pela Mauricio de Sousa Produções que calcula em R$ 33,3 bilhões o impacto negativo para a economia brasileira caso a resolução seja seguida. Do outro lado, 45 entidades ligadas à criança, assinaram uma moção de apoio à resolução do Conanda, entre elas o Instituto Alana, Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) e Associação Procons Brasil. Embora ainda não tenha acontecido algum efeito prático sobre a resolução, este é um assunto que preocupa o mercado para 2015.
9- Fantasmas incomodam produtoras
Pela primeira vez, o setor de produção publicitária se posicionou de maneira oficial contra os custos que precisa assumir para participar de campanhas focadas exclusivamente na conquista de prêmios em festivais para as agências e comumente não financiados pelos anunciantes — os populares fantasmas. Uma carta aberta capitaneada pela Associação Brasileira das Produtoras de Audiovisual (Apro) e assinada por outras sete entidades representantes de profissionais como câmeras, técnicos e artistas, conclamou as associadas a não aceitarem mais esse tipo de trabalho sem remuneração. Alguns meses depois, a Apro disse que o movimento deu mais resultado do que o esperado, mas que havia produtoras que mantiveram o hábito. O assunto repercutiu no mercado. Colunista de Meio & Mensagem na ocasião, Rodrigo Leão, sócio-diretor de criação da Casa Darwin, defendeu que as entidades que representam as agências entrassem na discussão. “De madrugada, longe dos filhos, comendo pizza fria e fazendo uma concorrência inútil ou criando uma peça fantasma, quem paga esse boleto é você”, afirmou. No editorial “Na faixa”, Regina Augusto, diretora editorial de Meio & Mensagem, afirmou que “pode ser mesmo que esse chamamento institucional bastante sensato tenha baixa adesão”, mas ressaltou que “o fato a ser comemorado é a atitude de se impor pelo profissionalismo e respeito”.
10- Concorrências mais justas
A edição de aniversário do Meio & Mensagem, publicada em abril, trouxe sondagem com 50 líderes de agências de publicidade, que apontaram as concorrências predatórias como sendo a prática mais condenável no mercado. Nesse cenário, são bem vindas disputas por contas que buscam caminhos alternativos. A BRF, no processo de escolha de agência para a Sadia, e o Santander recorreram à metodologia do Grupo Consultores, com diferenciais como a não exigência de apresentação de campanhas ou exercícios de planejamento e criação – práticas que outras consultorias já defendem há algum tempo, como é o caso da SPGA. No caso do Consultores, várias agências são avaliadas com critérios eliminatórios e classificatórios. Somente às finalistas é pedido o envio de propostas técnicas, com informações sobre a metodologia de trabalho. As etapas decisivas – e mais inovadoras – são entrevistas do comando do anunciante com os principais líderes das agências e workshops reunindo as equipes do cliente e de cada uma das concorrentes. A disputa por Sadia foi vencida pela F/Nazca S&S, que já atendia parte da conta. A de Santander, ainda não encerrada, deve dividir a verga entre a atual parceira Talent e a Loducca. Embora a maioria dos anunciantes continue mantendo a prática padrão para escolher suas agências, esses são exemplos que podem sinalizar um caminho viável para diminuir atritos nesse momento que, muitas vezes, marca o início de um relacionamento.